sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

“NÃO ACHAM QUE DEVERIAMOS EXPULSAR O TIMOR-LESTE DA CPLP?” - Erícles

 

Beatriz Gamboa, Díli
 
Sem mais para fazer? Tentativa de superar recorde dos disparates? Serrar presunto rançoso? Classifique-se como uma imbecilidade? O quê? Isto, aquilo que dá o título a esta curta prosa retirada do Yahoo Brasil – uma "coisa" com perguntas e respostas. E a pergunta é de um jovem de nome Éricles…
 
“Não acham que deveríamos expulsar o Timor Leste da CPLP?
 
É que um país onde quase ninguém fala Português, a maioria fala tétum ou quando não, Indonésio e inglês ... a mesma situação da Guiné Equatorial, que oficializou descaradamente a LP apenas por razões econômicas e políticas;
Façam uma pesquisa das línguas faladas no Timor, e vocês verão em qual posição encontra-se a nossa língua.”
 
O próprio Eurícles seleciona aquilo que considera melhor resposta lá naquela “coisita” chamada de Yahoo:
 
“Melhor resposta - Escolhida pelo autor da pergunta
 
Meu Pai diz que o Brasil também deveria ser expulso pois também não falam português, mas sim brasiliano, ou brasileiro, ou lá que linguarejar é esse que vocês usam para comunicar.”
 
E depois responde, comenta… o que quiserem denominar:
 
“Comentário do autor da pergunta:
 
"Pelo o que eu saiba, "Brasileiro" é uma nacionalidade e não um idioma; o que se diz é Português do Brasil ... e não, a nossa língua não é nenhum linguajar, pelo menos não falamos como se tivéssemos um pão inteiro dentro da boca. Passar bem (ou melhor, mal!)”
 
Isto não tem nada de mais, mas só quem esquece que Timor-Leste esteve ocupado durante 24 anos pelo invasor indonésio, que nesse período assassinou mais de 200 mil timorenses, que aboliu completamente a língua portuguesa em Timor-Leste e exercia gravosas represálias a quem falasse ou escrevesse em português (por vezes pagando com a própria tortura e morte quem se atrevesse a desafiar a proibição imposta) é que pode ter o desplante, a aleivosia de fazer tal pergunta tendo por implícito que Timor-Leste nem devia pertencer à CPLP, comparando aquele país ao do ditador da Guiné Equatorial, em África.
 
Além disso será por bem esclarecer os Erícles deste mundo (não só do Brasil) que no tempo do colonialismo português só muito tardiamente os timorenses em maior número começaram a frequentar a escola na verdadeira acepção da palavra porque “escolas” havia em alguns casos mas eram mestradas por militares que não tinham as qualificações adequadas para lecionar. Eram “escolas” limitadas, improvisadas, frequentadas pelas crianças que quisessem, sem obrigatoriedade. Diria, sem rei nem roque (salvo raras exceções).
 
Daí, naturalmente, as populações comunicarem nos seus dialetos, que variam de região para região e são mais de vinte.
 
Não, Erícles deste mundo e do Brasil. É impossível concordar convosco e com as vossas fúteis brejeirices. Os timorenses e Timor-Leste merecem maior e melhor respeito e consideração. Até admiração. Atualmente existe cada vez mais timorenses a falar, ler e escrever em português, para além de tendencialmente os timorenses serem poliglotas e dominarem facilmente dialetos e línguas diferenciadas com bastante facilidade. Incluindo o português. Português que também é língua oficial no Brasil, como nos países africanos antes colonizados por Portugal. Colonizador que merece historicamente duras reprovações e críticas por suas práticas mas que até uniu no idioma muitos povos, facilitando-lhes a comunicação, o conhecimento, só por isso. Que a CPLP devia empenhar-se em ser e atuar mais seriamente e mais esforçada em todos os países que a constituem de pleno direito – incluindo no alargamento do domínio do idioma português – é certo, mas também compete aos povos da CPLP saber exigir isso e muito mais. Compete a todos essa responsabilidade e aos Erícles também.
 

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