Beatriz Gamboa, Díli
Sem mais para
fazer? Tentativa de superar recorde dos disparates? Serrar presunto rançoso?
Classifique-se como uma imbecilidade? O quê? Isto, aquilo que dá o título a
esta curta prosa retirada do Yahoo Brasil – uma "coisa" com perguntas e
respostas. E a pergunta é de um jovem de nome Éricles…
“Não acham que
deveríamos expulsar o Timor Leste da CPLP?
É que um país onde
quase ninguém fala Português, a maioria fala tétum ou quando não, Indonésio e
inglês ... a mesma situação da Guiné Equatorial, que oficializou descaradamente
a LP apenas por razões econômicas e políticas;
Façam uma pesquisa das línguas faladas no Timor, e vocês verão em qual posição encontra-se a nossa língua.”
Façam uma pesquisa das línguas faladas no Timor, e vocês verão em qual posição encontra-se a nossa língua.”
O próprio Eurícles
seleciona aquilo que considera melhor resposta lá naquela “coisita” chamada de
Yahoo:
“Melhor resposta -
Escolhida pelo autor da pergunta
Meu Pai diz que o
Brasil também deveria ser expulso pois também não falam português, mas sim
brasiliano, ou brasileiro, ou lá que linguarejar é esse que vocês usam para
comunicar.”
E depois responde,
comenta… o que quiserem denominar:
“Comentário do
autor da pergunta:
"Pelo o que eu
saiba, "Brasileiro" é uma nacionalidade e não um idioma; o que se diz
é Português do Brasil ... e não, a nossa língua não é nenhum linguajar, pelo
menos não falamos como se tivéssemos um pão inteiro dentro da boca. Passar bem
(ou melhor, mal!)”
Isto não tem nada
de mais, mas só quem esquece que Timor-Leste esteve ocupado durante 24 anos
pelo invasor indonésio, que nesse período assassinou mais de 200 mil
timorenses, que aboliu completamente a língua portuguesa em Timor-Leste e
exercia gravosas represálias a quem falasse ou escrevesse em português (por
vezes pagando com a própria tortura e morte quem se atrevesse a desafiar a
proibição imposta) é que pode ter o desplante, a aleivosia de fazer tal
pergunta tendo por implícito que Timor-Leste nem devia pertencer à CPLP,
comparando aquele país ao do ditador da Guiné Equatorial, em África.
Além disso será por
bem esclarecer os Erícles deste mundo (não só do Brasil) que no tempo do
colonialismo português só muito tardiamente os timorenses em maior número
começaram a frequentar a escola na verdadeira acepção da palavra porque “escolas”
havia em alguns casos mas eram mestradas por militares que não tinham as
qualificações adequadas para lecionar. Eram “escolas” limitadas, improvisadas,
frequentadas pelas crianças que quisessem, sem obrigatoriedade. Diria, sem rei
nem roque (salvo raras exceções).
Daí, naturalmente,
as populações comunicarem nos seus dialetos, que variam de região para região e
são mais de vinte.
Não, Erícles deste
mundo e do Brasil. É impossível concordar convosco e com as vossas fúteis
brejeirices. Os timorenses e Timor-Leste merecem maior e melhor respeito e consideração. Até admiração. Atualmente existe cada vez mais timorenses a falar, ler e escrever
em português, para além de tendencialmente os timorenses serem poliglotas e
dominarem facilmente dialetos e línguas diferenciadas com bastante facilidade. Incluindo
o português. Português que também é língua oficial no Brasil, como nos países
africanos antes colonizados por Portugal. Colonizador que merece historicamente
duras reprovações e críticas por suas práticas mas que até uniu no idioma
muitos povos, facilitando-lhes a comunicação, o conhecimento, só por isso. Que
a CPLP devia empenhar-se em ser e atuar mais seriamente e mais esforçada em
todos os países que a constituem de pleno direito – incluindo no alargamento do
domínio do idioma português – é certo, mas também compete aos povos da CPLP
saber exigir isso e muito mais. Compete a todos essa responsabilidade e aos Erícles
também.
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