Pedro Tadeu – Diário
de Notícias, opinião
A praxe estudantil
é sempre violenta. Um homem ser humilhado é um ato de violência. Uma mulher ser
humilhada é um ato de violência. Dirão alguns: "Violência? Como? Os
praxados estão lá por quererem, por opção própria!" Duvido mas, se assim
for, pior é.
Uma instituição
capaz de criar um cerimonial de integração cuja resultante deliberada é a
aceitação voluntária de castigos e penas, mesmo se aparentemente leves, mesmo
se aparentemente inócuos, é uma organização perversamente violenta.
Esse assassinato do
indivíduo será aceitável numa estrutura militar ou policial - institutos de
violência estatal onde as pessoas que os compõem têm de responder a exigências
excecionais - mas é inaceitável em qualquer outra organização civilizada. É
mesmo incompreensível no local onde se procuram criar futuros espíritos livres
que, a partir do raciocínio independente sobre o conhecimento adquirido, sejam
um dia capazes de ajudar a sociedade.
Os estudantes
universitários serão a elite intelectual do País. Pois a primeira coisa que
aprendem é a não pensar: obedecer, rastejar, não discutir ordens, não ter amor
próprio, não ser gente. Quando, pela passagem do tempo, chegam ao estatuto de
praxadores, ensinam-nos então a mandar outros a não pensar e a aceitar, com
orgulho, o direito de colocar a pata em cima dos inferiores que rastejam à sua
frente.
Este rito
mitificado por uma falsa tradição histórica - tirando Coimbra, até aos anos 60,
todo o atual mundo de praxes estudantis é uma criação parola iniciada nos anos
80 - é medieval. Este enredo periódico é um anacronismo. Este espírito
académico é uma escola de formação de escravos inertes e de ditadores
fascistas. Que raio de universidade é esta?
E que sociedade é
esta capaz de proibir um pai de dar uma palmada no rabo a uma criança birrenta
mas obrigando-o, um dia, a enviar alegremente o seu filho adolescente para uma
máquina social de tortura psicológica e física? Que deputados são estes capazes
de discutir legislação específica para acabar com o piropo mas, cheios de medo,
recusam liminarmente produzir direito limitador das praxes mais violentas? Que
autoridades são as nossas que trabalham há sete meses para meter na cadeia um
homem que chamou nomes ao Presidente da República mas ficam indiferentes ao crime
anual e calendarizado das praxes académicas?
Sei as respostas:
afinal, os nossos políticos, as nossas autoridades, quase todos, também um dia
aceitaram serem praxados, também um dia aprenderam, rindo alarvemente, a ser
escravos ou a ser opressores.
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