terça-feira, 25 de março de 2014

Suspeitas de atrocidades em Timor-Leste não afastam eleitores de Prabowo




Jacarta, 24 mar (Lusa) - Vários analistas observam que as suspeitas de ligação a atrocidades cometidas durante a ocupação indonésia de Timor-Leste não preocupam o eleitorado que segue Prabowo Subianto, um dos principais candidatos para vencer as presidenciais.

Os inquéritos para as eleições de julho colocam Prabowo Subianto em segundo lugar, largamente atrás do atual governador de Jacarta, Joko Widodo ("Jokowi"), cuja candidatura depende da líder do Partido Democrático Indonésio-Luta (PDI-P), a antiga presidente Megawati Sukarnoputri, que ainda poderá tentar regressar ao poder.

Como não houve um julgamento dos crimes cometidos em Timor-Leste, o presidente do Movimento Grande Indonésia (Gerindra) tem refutado na imprensa as suspeitas de abusos de direitos humanos enquanto comandante das forças especiais (Kopassus) do regime de Suharto, como o massacre de Kraras, que fez cerca de 300 vítimas em 1983.

Damien Kingsbury, diretor do Centro de Cidadania, Desenvolvimento e Direitos Humanos da Deaking University, na Austrália, diz que a maioria dos apoiantes de Prabowo não considera relevante o seu passado e "ainda acredita que deixar Timor-Leste 'partir' foi um erro e que a Indonésia não devia ter permitido a votação para a independência em 1999".

O analista político Ikrar Nusa Bhakti opina que, apesar do trabalho dos ativistas de direitos humanos, "as pessoas têm a memória muito curta" e, num país onde metade da população tem menos de 29 anos, são muitos os que desconhecem o que aconteceu há 30 anos.

Na visão do analista Yoes C. Kenawas, a passado em Timor-Leste terá pouco impacto na campanha eleitoral, devido à "falta de provas ou de provas fortes que permitam concluir que Prabowo foi quem liderou o massacre, exceto alguns testemunhos", e também devido à "relação mais construtiva" existente agora entre os dois países.

Vários especialistas entendem que os indonésios têm mais presente na memória a responsabilidade que Prabowo assumiu no sequestro de 24 ativistas pró-democracia -- 13 deles ainda desaparecidos - em Jacarta em 1998, o que lhe valeu o afastamento do exército, apesar de nunca ter sido acusado de delito.

"[Prabowo] Subianto está igualmente a sofrer as consequências da publicidade negativa quanto à falta de visto para visitar os Estados Unidos, por causa das questões relativas ao seu histórico em direitos humanos", disse Kevin O'Rourke, analista do Reformasi Weekly.

Se o líder do Gerinda for eleito presidente, poderá ter problemas ao visitar outros países, com "motivos consideráveis para ser acusado de crimes de guerra ou crimes contra a Humanidade perante o Tribunal Internacional de Justiça", podendo ainda ser recebido com "protestos públicos", adverte o professor Damien Kingsbury.

Prabowo é considerado um líder forte e há quem veja nisso uma solução para alguns problemas do país, mas, segundo Ikrar Nusa Bhakti, "'Jokowi' mudou a perspetiva do povo", daí que a maioria agora deseje "não um militar ou um homem forte, mas uma pessoa responsável e dedicada e também próxima do povo e parte do povo".

Os quatro analistas encaram como pouco provável, mas possível, a eleição de Prabowo para presidente e entendem que tal não deverá afetar a relação entre Timor-Leste e Indonésia.

"Os líderes de Timor-Leste vão cerrar os dentes e continuar a tentar promover boas relações com a Indonésia. Devido à proximidade da Indonésia, ao tamanho do país e à sua participação económica em Timor-Leste, não terá outra escolha senão ser 'diplomático'", adverte Damien Kingsbury.

Contudo, avisa Kevin O'Rourke, o antigo general "consegue ser imprevisível e a base para avaliar as suas tendências é limitada, porque ele nunca teve um cargo executivo civil".

O antigo líder da Kopassus, também responsável pelo assassinato de Nicolau Lobato, o primeiro primeiro-ministro timorense, em 1978, tem sido defendido das suspeitas de violações de direitos humanos por alguns timorenses citados na imprensa e já foi fotografado ao lado de líderes timorenses como Xanana Gusmão e Mari Aikatiri.

A Lusa tentou falar com Prabowo Subianto nas últimas semanas, mas sem sucesso.

AYN // PJA - Lusa

Sem comentários:

Mais lidas da semana