Jacarta, 24 mar
(Lusa) - Vários analistas observam que as suspeitas de ligação a atrocidades
cometidas durante a ocupação indonésia de Timor-Leste não preocupam o
eleitorado que segue Prabowo Subianto, um dos principais candidatos para vencer
as presidenciais.
Os inquéritos para
as eleições de julho colocam Prabowo Subianto em segundo lugar, largamente
atrás do atual governador de Jacarta, Joko Widodo ("Jokowi"), cuja
candidatura depende da líder do Partido Democrático Indonésio-Luta (PDI-P), a
antiga presidente Megawati Sukarnoputri, que ainda poderá tentar regressar ao
poder.
Como não houve um
julgamento dos crimes cometidos em Timor-Leste, o presidente do Movimento
Grande Indonésia (Gerindra) tem refutado na imprensa as suspeitas de abusos de
direitos humanos enquanto comandante das forças especiais (Kopassus) do regime
de Suharto, como o massacre de Kraras, que fez cerca de 300 vítimas em 1983.
Damien Kingsbury,
diretor do Centro de Cidadania, Desenvolvimento e Direitos Humanos da Deaking
University, na Austrália, diz que a maioria dos apoiantes de Prabowo não
considera relevante o seu passado e "ainda acredita que deixar Timor-Leste
'partir' foi um erro e que a Indonésia não devia ter permitido a votação para a
independência em 1999".
O analista político
Ikrar Nusa Bhakti opina que, apesar do trabalho dos ativistas de direitos
humanos, "as pessoas têm a memória muito curta" e, num país onde
metade da população tem menos de 29 anos, são muitos os que desconhecem o que
aconteceu há 30 anos.
Na visão do
analista Yoes C. Kenawas, a passado em Timor-Leste terá pouco impacto na
campanha eleitoral, devido à "falta de provas ou de provas fortes que
permitam concluir que Prabowo foi quem liderou o massacre, exceto alguns
testemunhos", e também devido à "relação mais construtiva"
existente agora entre os dois países.
Vários
especialistas entendem que os indonésios têm mais presente na memória a responsabilidade
que Prabowo assumiu no sequestro de 24 ativistas pró-democracia -- 13 deles
ainda desaparecidos - em Jacarta em 1998, o que lhe valeu o afastamento do
exército, apesar de nunca ter sido acusado de delito.
"[Prabowo]
Subianto está igualmente a sofrer as consequências da publicidade negativa
quanto à falta de visto para visitar os Estados Unidos, por causa das questões
relativas ao seu histórico em direitos humanos", disse Kevin O'Rourke,
analista do Reformasi Weekly.
Se o líder do
Gerinda for eleito presidente, poderá ter problemas ao visitar outros países,
com "motivos consideráveis para ser acusado de crimes de guerra ou crimes
contra a Humanidade perante o Tribunal Internacional de Justiça", podendo
ainda ser recebido com "protestos públicos", adverte o professor
Damien Kingsbury.
Prabowo é
considerado um líder forte e há quem veja nisso uma solução para alguns
problemas do país, mas, segundo Ikrar Nusa Bhakti, "'Jokowi' mudou a
perspetiva do povo", daí que a maioria agora deseje "não um militar
ou um homem forte, mas uma pessoa responsável e dedicada e também próxima do
povo e parte do povo".
Os quatro analistas
encaram como pouco provável, mas possível, a eleição de Prabowo para presidente
e entendem que tal não deverá afetar a relação entre Timor-Leste e Indonésia.
"Os líderes de
Timor-Leste vão cerrar os dentes e continuar a tentar promover boas relações
com a Indonésia. Devido à proximidade da Indonésia, ao tamanho do país e à sua
participação económica em Timor-Leste, não terá outra escolha senão ser
'diplomático'", adverte Damien Kingsbury.
Contudo, avisa
Kevin O'Rourke, o antigo general "consegue ser imprevisível e a base para
avaliar as suas tendências é limitada, porque ele nunca teve um cargo executivo
civil".
O antigo líder da
Kopassus, também responsável pelo assassinato de Nicolau Lobato, o primeiro
primeiro-ministro timorense, em 1978, tem sido defendido das suspeitas de
violações de direitos humanos por alguns timorenses citados na imprensa e já
foi fotografado ao lado de líderes timorenses como Xanana Gusmão e Mari
Aikatiri.
A Lusa tentou falar
com Prabowo Subianto nas últimas semanas, mas sem sucesso.
AYN // PJA - Lusa
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