terça-feira, 4 de março de 2014

Tribunal impede Austrália de usar documentos apreendidos a advogado de Timor-Leste




Haia, 03 mar (Lusa) -- A Austrália está impedida de utilizar os documentos apreendidos nas buscas ao escritório do advogado que representa Timor-Leste nas acusações de alegada espionagem que opõem os dois países, decidiu hoje o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ).

O tribunal não satisfaz assim as pretensões de Díli, que a 18 de dezembro pediu que fosse ordenada à Austrália a restituição dos documentos apreendidos que, segundo Timor-Leste, incluíam "informação e correspondência com os conselheiros legais sobre a arbitragem pendente" relativa ao caso das acusações de alegada espionagem durante as negociações de um tratado sobre petróleo e gás no mar de Timor.

Na sua decisão, conhecida hoje, o TIJ, o principal órgão judicial das Nações Unidas, decidiu que a Austrália "deve assegurar que o conteúdo do material apreendido não é, em momento algum, utilizado por alguma pessoa ou pessoas, em desvantagem de Timor-Leste, até que o caso presente seja encerrado".

Esta medida provisória foi decidida por doze votos contra quarto.

Por outro lado, o TIJ exige que a Austrália mantenha selados os documentos e informação eletrónica e quaisquer cópias até "futuras decisões do Tribunal", com a mesma votação.

Com quinze votos contra um, o tribunal decidiu ainda que a Camberra não pode "interferir de forma nenhuma nas comunicações entre Timor-Leste e os seus advogados" relacionadas com a arbitragem pendente do tratado do mar de Timor, com quaisquer futuras negociações relativas à delimitação marítima ou com qualquer outro procedimento que envolva os dois países, incluindo o atual caso presente a tribunal.

"O tribunal considera que o direito de Timor-Leste a conduzir procedimentos arbitrais e negociações sem interferência pode ser irremediavelmente prejudicado caso a Austrália não proteja imediatamente a confidencialidade do material apreendido pelos seus agentes a 03 de dezembro de 2013", lê-se na posição hoje divulgada.

Na decisão, o tribunal considera que poderia existir um efeito prejudicial "muito sério" na posição de Díli na arbitragem sobre o tratado do mar e em futuras negociações marítimas com a Austrália caso o material apreendido seja divulgado.

O TIJ realizou as audiências ao caso em janeiro, com Timor-Leste a pedir respeito pela soberania do país e a restituição dos documentos confidenciais, enquanto a Austrália se comprometia a não ler ou estudar os materiais apreendidos até à existência de uma decisão.

Timor-Leste pedia ainda que o TIJ ordenasse à Austrália a restituição dos documentos apreendidos e que apresentasse desculpas oficiais e garantias do pagamento das custas judiciais.

As rusgas ao escritório e residência do advogado timorense ocorreram após Timor-Leste ter acusado formalmente, junto do tribunal arbitral de Haia, a Austrália de espionagem quando estava a ser negociado o Tratado sobre Certos Ajustes Marítimos no Mar de Timor (CMATS), em 2004.

O processo de espionagem também está a ser tratado em Haia, mas pelo Tribunal Permanente de Arbitragem.

Com a arbitragem internacional, Timor-Leste pretende ver o tratado anulado, podendo assim negociar a limitação das fronteiras marítimas e tirar todos os proveitos da exploração do campo de gás de Greater Sunrise, que vale milhares de milhões de dólares.

JH (MSE) // APN - Lusa

Sem comentários:

Mais lidas da semana