Lisboa, 01 abr
(Lusa) -- O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros português António Monteiro
considerou que a integração da Guiné Equatorial na CPLP "vai ajudar mais o
povo" daquele país, porque ao admiti-lo como membro, a organização também
vai poder impor-lhe sanções.
"Se tivermos a
consciência de que da mesma forma que os admitimos também os podemos sancionar,
então até podemos, através de um diálogo mais efetivo e da presença numa
organização internacional, ajudar mais o povo da Guiné Equatorial do que tendo-o
fora", disse o embaixador, em entrevista à agência Lusa.
António Monteiro
admitiu que a adesão da Guiné Equatorial à Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP) é "um tema sensível", mas referiu que muitas vezes
se "bilateraliza" o problema como se se tratasse de uma adesão a
Portugal.
"É uma questão
da CPLP, que deve ser uma organização aberta, não há nenhuma
exclusividade", disse. E lembrou "o escândalo" quando Moçambique
aderiu à Commonwealth (organização composta maioritariamente por países que
fizeram parte do império britânico).
"A Guiné
Equatorial é um país que está ali isolado, e é mais lógico que adira a uma
organização de língua portuguesa do que aos outros, nós também temos a
ibero-americana onde estamos com os países latino-americanos, portanto há uma
proximidade maior que justifica o pedido deles", referiu.
A Guiné Equatorial,
ex-colónia espanhola e um dos maiores produtores de petróleo de África, é
liderada desde 1979 por Teodoro Obiang Nguema e é alvo de críticas por parte de
organizações internacionais por violações dos direitos humanos.
Em fevereiro,
durante um encontro dos ministros dos Negócios Estrangeiros da CPLP, decorrido
em Maputo, foi aprovada uma deliberação que recomenda a adesão plena da Guiné
Equatorial, mas a decisão final só poderá ser tomada na próxima cimeira de
chefes de Estado e Governo da comunidade lusófona, agendada para julho, em
Díli.
António Monteiro
defendeu a adesão deste país, desde que cumpra todos os critérios que lhe são
exigidos e sobre o regime de Obiang considerou que "os países resistem aos
regimes". "Se não fosse assim, a CPLP também teria de ter rejeitado a
Guiné-Bissau, com este regime, com os golpes e assassínios de presidentes e não
o fez e fez muito bem".
Quanto à questão
dos direitos humanos, o embaixador sublinhou que a Guiné Equatorial "não é
alvo de sanções" e é um país "que está nas Nações Unidas".
"Se nós
falamos com um chefe de Estado, não quer dizer que estamos de acordo com toda a
política que ele faz, aliás às vezes não estamos de acordo com políticas de
países-membros da UE ou da CPLP e criticamo-los e temos todo o direito a
fazê-lo", disse.
Sobre as críticas
de que adesão se deve ao interesse do petróleo, o ex-ministro defendeu que
"é melhor que um país venha com recursos".
"E se nós
conseguirmos que esse país use melhor os seus recursos, estando integrado numa
organização, então estamos a contribuir para melhorar a vida das pessoas e não
apenas para fazermos manchetes nos jornais", referiu.
Questionado pela
Lusa sobre uma notícia divulgada recentemente pelo jornal Sol de que uma
empresa da Guiné Equatorial estaria interessada em investir no BCP, António
Monteiro, que é presidente do Conselho de Curadores e do Conselho Internacional
da Fundação Millennium bcp, referiu que "ninguém no banco tem conhecimento
de qualquer proposta nesse sentido".
"Agora é
evidente que se houvesse uma proposta iria ser analisada e ponderada, sobretudo
porque aqui no BCP temos não só os interesses dos acionistas, como dos
clientes, que têm de ser ponderados em todos os momentos e é isso que
fazemos", disse.
António Monteiro
ressalvou que as suas opiniões "não têm nada a ver com interesses" na
entrada da Guiné Equatorial na CPLP, mas afirmou: "Se nós pudermos
contribuir para que os recursos sejam melhor canalizados em benefício de todos,
quer a nível público, quer a nível privado, é nossa obrigação fazê-lo".
"A minha
experiência diz-me que o diálogo e o acompanhamento tem melhores resultados do
que a exclusão e a punição e por vezes acabamos por ter dois pesos e duas
medidas, muito impositivos com os fracos e muito compreensíveis com os
fortes", disse.
VM // PJA - Lusa
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