O corpo do antigo
Chefe de Estado da Guiné-Bissau encontra-se em câmara ardente no Hospital
Militar de Bissau. Kumba Ialá morreu esta sexta-feira, em casa, de problemas de
saúde, afirmou fonte próxima do ex-Presidente. Tinha 61 anos, completados há
menos de um mês, a 15 de março.
Ialá fundou o
Partido da Renovação Social (PRS) e foi Presidente da Guiné-Bissau, entre 2000
a 2003, tendo sido deposto por um golpe de Estado militar a 14 de setembro.
Apesar de permanecer presidenciável, ele mesmo renunciou em janeiro deste ano à
vida política ativa, anunciando não se recandidatar à Presidência, após
consultar família e amigos.
"Agora que me despeço não da política, mas de disputas e mandatos de cargos
eleitorais, realço que não é necessário, que não é preciso, ter cargos para
exercer a cidadania ativa", observou.
Ialá decidiu apoiar Nuno Nabian, candidato independente às presidenciais na
Guiné-Bissau.
Atividade política
Originário do grupo Balanta, tendo nascido numa família de agricultores em
Bula, Cacheu, o ex-Presidente militou no Partido Africano para a Independência
da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Em 1989 foi expulso do partido por exigir uma reforma democrática. Em março de
1991ajudou a fundar a Frente Democrática Social que abandonou em 1992 para
fundar o PRS.
Nas eleições presidenciais de 1994 Ialá concorreu contra Nino Vieira, para
quem, na segunda volta, perdeu por escassa margem (52,02% contra 47,98%). Ialá
denunciou pressão sobre os seus apoiantes mas acabou por aceitar os resultados,
recusando contudo participar no Governo.
Após uma guerra civil sangrenta, e a deposição de Nino Vieira, Ialá acabaria
por ser eleito Presidente no ano 2000 à segunda volta, contra Macám Bacai
Sanhá.
Presidência e afastamento
Personagem controversa, o mandato de Ialá ficou marcado por má gestão e crises
políticas, tendo-se refletido de maneira negativa na economia e levando o Fundo
Monetário Internacional e o Banco Mundial a suspender a sua ajuda financeira.
Outro dos piores erros de Ialá nesse período terá sido o de antagonizar as
forças armadas. A primeira crise surgiu em novembro do ano 2000 com um braço de
ferro na nomeação de numerosos oficiais, a qual terminou com a morte do general
Ansumane Mané, quando este tentou assumir o poder. O atraso no pagamento de
salários aos soldados alimentou igualmente o golpe militar que derrubou Ialá.
Apesar de crescer como católico e de estudar Teologia na Universidade Católica
Portuguesa de Lisboa e em seguida Filosofia, Kumba Ialá nunca adotou um nome
português e acabou por se converter ao islamismo.
Ialá estudou ainda Direito em Bissau. No seu curriculum constava ainda a
fluência em português, crioulo, espanhol, francês e inglês, e leitura de latim,
grego e hebraico. Após completar seus estudos, trabalhou como professor de
Filosofia.
RTP - Edição de
Califa Cassamá, Bissau
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