Os
professores aproveitaram o ajuntamento realizado este sábado para protestar
contra o Estatuto da Carreira Docente, recolher assinaturas para revogar a
proposta do Governo e lembrar que o prazo para enviar as contribuições foi
ampliado. Nas mãos, levavam cartões vermelhos e cartazes, que traziam dizeres e
charges, cuja principal personagem era a Ministra da Educação e do Desporto
(MED), Fernanda Marques.
A
Semana (cv)
O
representante da Federação Cabo-verdiana de Professores, João Pedro Cardoso,
disse que a marcha deverá crescer na próxima mobilização que a classe está a
organizar, só não foi maior por causa do dia e hora, que coincidiram com o
horário de aula dos docentes.
O
próximo passo deverá ser a greve-geral há muito anunciada. Antes, a petição
deverá ser entregue aos legisladores de Cabo Verde. “Tentar influenciar as
pessoas que estão mais ligadas à promoção das leis, deputados, Parlamento e
também o Presidente da República. Isso vai em resposta a esse bombardeamento da
classe por parte do governo. Este estatuto vai complicar a vida dos professores
que já estão em actividade e dos outros”, contestou, reafirmando: “o futuro é a
greve.
João
Pedro Cardoso informou que está a decorrer uma recolha de assinaturas em São Vicente , que
deverá se juntar às da Ilha de Santiago, Santo Antão e Sal. Durante a
manifestação, a liderança do movimento conclamou os professores a registarem o
seu descontentamento e observações sobre este Estatuto nas duas páginas da rede
social - “Professores de Cabo Verde contra a proposta do Estatuto do Pessoal
Docente” e “Professores-cstatt” - e também em outros sítios criados e geridos
por docentes e que o Ministério da Educação e do Desporto diz estar
monitorando, para criar acções.
Para
uma professora do Liceu Domingo Ramos, o Estatuto da Carreira Docente viola
muitos direitos. Com formação profissional desde 2009, Deolinda, como se
identificou, só teve a reclassificação na carreira em Janeiro de 2014. “A cada
mês perco 20 contos. O que é muito no contexto cabo-verdiano, um país que só
tem sol e vento”, reclamou, denunciando descontentamento de vária ordem,
sobretudo salarial. “Se fazemos uma formação superior esta tem os seus custos.
Se o MED quer um ensino de qualidade, quer professores capacitados, à qualidade
deve-se juntar a motivação. Ou seja, temos de ter uma remuneração justa. O
estatuto não faz referência a isso. Viola gravemente nossos direitos”,
completou Deolinda.
O
professor da Escola SOS da Praia, Arlindo Teixeira Barros, que estava
acompanhado de dois dos seus alunos que carregavam cartazes, tem opinião
parecida e diz-se espantado com a afirmação do Ministério da Educação, segundo
a qual docentes foram ouvidos durante o processo de elaboração do Estatuto, que
decorre há um ano. “Foi uma surpresa para mim e para todos quando li a contra
proposta do Governo, que falava que a classe tinha sido ouvida. Eu gostaria de
saber quem, quando e onde essas pessoas foram ouvidas. Quais as entidades
representantes concretamente. Se quisessem ouvir a proposta de todos os
professores, que ouvissem então a contraproposta das escolas ou das
delegações”.
Barros
lembra ainda que existem muitos pontos obscuros para a classe docente neste
Decreto Lei. As normas transitórias dos docentes sem qualificação profissional
é um dos tópicos polémicos propostos pelo Ministério da Educação. “Não fica
claro, por exemplo, se isso será aplicável para aqueles professores que virão
ou se é para todos”. Outras proposta do Governo sem consenso é a que obriga que
o educador da infância tenha mestrado. “Qualquer criança com seis anos pode
entrar no ensino básico, mesmo que não tenha passado pelo jardim escolar”,
observou, explicando que corre-se o risco de formar pofessores para uma demanda
que não é real em Cabo
Verde. “Corre-se o risco deste profissional não ter alunos”.
No
Decreto-Lei estão previstos pré-requisitos para a reclassificação do professor
em cada um dos níveis na carreira, que podem ser tanto horizontais quanto
verticais. “Eu estudei língua estrangeira e tenho conhecimento informático (um
dos pré-requisitos). E como é que fica isso?”, indaga este docente.
Barros
questiona ainda a exigência da Licenciatura, que na contraproposta do Governo
dá cinco anos para todos os professores se enquadrarem, sob pena do docente
passar do quadro definitivo para o provisório. “Por acaso tenho licenciatura.
Sou formado pelo Instituto Pedagógico. Mas e quem não é? Isso é uma
despromoção”, lamenta. “Essa manifestação é para mostrar que os professores
estão juntos. Mas há mais formas de luta, que passam pelo congelamento de notas
no final do ano lectivo e pela greve”, asseverou Barros, que trazia nas mãos o
decreto rascunhado com sua impressões.
Para
o professor Carlos, do Liceu da Capelinha, “discute-se só as leis. Como é que
vamos discutir sem ter um suporte, que é o salário? Claro que queremos o melhor
para a educação do país. Mas os professores tiram parte do seu dinheiro para
comprar coisas para a escola. A classe docente não é uma qualquer. Por isso
merece um Estatuto especial para a Carreira Docente. Estão a mexer no nosso pão
de cada dia. O Governo alargou o prazo de negociação com o sindicato, não com
os professores”.
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