Mais
de cem doentes graves aguardam pela aprovação da utilização do novo medicamento
contra a Hepatite C, uma espera que lhes pode valer a vida e que já classificam
como um "genocídio de colarinho branco".
Esta
informação foi revelada numa conferência de imprensa promovida pela SOS
Hepatites, na qual estiveram presentes vários doentes que deram o seu
testemunho e o filho de uma mulher com um fígado cirrótico à espera para
transplantação, cujo estado de saúde grave em que se encontra já não lhe
permite sequer andar.
Esta
doente tem um pedido de autorização de utilização especial (AUE) feito há mais
de um mês, mas o medicamento ainda não foi disponibilizado.
Para
o filho, está a ser praticado um "genocídio de colarinho branco contra
doentes com Hepatite C, que não têm acesso ao tratamento", uma afirmação
que teve imediata anuência dos doentes presentes na sala.
A
SOS Hepatites considera tratar-se de um "legítimo direito de acesso à
saúde" que está a ser negado aos doentes, com a justificação do elevado
preço deste novo fármaco -- Sofosbuvir --, que tem uma taxa de cura superior a
90% e é o único eficaz para todos os genótipos da infeção e que pode ser usado
pré e pós transplante.
Emília
Rodrigues, dirigente da SOS Hepatites, recusa esta justificação, alegando que
as complicações decorrentes do não tratamento destes casos ou de um tratamento
feito tarde demais são muito mais onerosos para o Estado.
O
fármaco atualmente em análise pelo Infarmed custa cerca de 48 mil euros para
três meses de tratamento, estimando-se que a doença custe anualmente 70 milhões
de euros.
O
bastonário da Ordem dos Médicos, que se associou ao grupo de doentes, afirma
que a "dimensão da despesa é inferior à referida".
"Deveríamos
estar a tratar de forma imediata mais de cem doentes, que são os mais graves e
não podem esperar", considerou José Manuel Silva, sublinhando que estão em
causa entre cinco e dez milhões de euros e que "só uma grande
insensibilidade do Ministério da Saúde permite que estes doentes não sejam
tratados".
O
responsável lembrou que este medicamento já foi "submetido a estudos que
demonstraram existir relação de custo-efetividade" e que "dá mais
prejuízo não tratar".
No
entanto, "o ministro continua a dizer que não há dinheiro e o ministério
tenta criar uma lei da rolha para que os hospitais não contem o que se passa,
mas os doentes contam".
É
o caso de Carlos Magalhães, a quem foi detetado um nódulo de 3 cm no fígado e que precisa
de tratamento urgente para poder fazer um transplante, o qual já não poderá mais
ser feito se esse nódulo aumentar para os 4 cm .
Luis
Figueiredo tem um fígado cirrótico e o seu estado foi considerado urgente,
tendo motivado um pedido de AUE por parte do médico, que continua sem resposta.
Neste momento o seu estado de saúde é mais grave do que no ano passado, altura
em que foi considerado "urgente".
Isabel
Santos fez reação ao medicamento Interferon e começou a cegar. Teve que parar a
terapia e aguarda autorização para usar o novo fármaco, o único que lhe permite
tratamento sem usar Interferon.
A
Ordem dos Médicos e a SOS Hepatites não percebem o entrave à aprovação do
medicamento e criticam o facto de o ministro ter "prescindido" da
ajuda que ambos disponibilizaram para a "negociação do melhor preço".
Emília
Rodrigues lembra que estes doentes que "neste momento não têm nada a
perder, a não ser a própria vida," aguardam uma decisão urgente.
Como
contou o doente José Santos: "Fiz um acordo com o vírus: não me mates para
viveres, porque se morro, tu também morres. E temos vivido assim. Mas agora há
um míssil que mata o vírus e não a mim. E eu só espero o acordo do Ministério
da Saúde com a Indústria para o poder usar".
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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