A
Semana (cv)
Está
aberto o processo para uma eventual convergência dos quatro candidatos –
Cristina Fontes (CF), Felisberto Vieira (FV), Janira Hopffer Almada (JHA),
Júlio Correia (JC) - para que o PAICV saia incólume da dura prova de fogo que
vai enfrentar no dia 14 de Dezembro deste ano : a escolha de uma nova liderança
consensual o quanto baste para manter as suas aspirações de partido do arco do
poder. Até lá, uma grande questão está sobre a mesa: quem sacrificará o seu
projecto político no altar dos "superiores" interesses do partido? O
analista José Maria Semedo considera que a convergência só será possível com a
desistência de dois candidatos – um de cada ala - o que, pelo andar da
carruagem, se afigura uma hipótese cada vez mais remota. Já Geraldo Almeida
acredita que o PAICV está frente a um dilema que, pendendo numa ou noutra
direcção, vai implicar custos políticos para a sua imagem. Ou sacrifica a
democracia interna, mandando para o "brejo" as primárias e nomeando o
candidato que lhe dá mais garantias. Ou encara o partido tal como é: dividido
em quatro alas com as suas imponderáveis consequências, a pouco mais de um ano
das eleições gerais no país.
As
notícias que vão chegando à nossa Redacção dizem que ninguém arreda pé. Filú,
que além de confiar no seu domínio sobre o maior círculo eleitoral do país
(Santiago-Sul, com 11 mil dos quase 30 mil membros com capacidade eleitoral
activa a nível nacional) diz que tem com ele os maiores cabos eleitorais do
PAICV, em todo o país. Portanto, "dja ganha dja".
Júlio
conta com o "bastião tambarina do Fogo", mas também com Praia e os
foguenses espalhados por todo o país e diáspora. A isso soma alguns históricos
pesos-pesados do PAICV, muitos intelectuais, seus naturais simpatizantes e
amigos para dizer que nem um terramoto lhe vai impedir a caminhada, alicerçada
em "bases muito sólidas".
Cristina,
segunda figura do actual governo, esgrime o seu percurso de governação, peso
político e intelectual caldeados em mais de uma década na linha da frente de
todos os combates do país, e finca a bandeira da experiência para dizer que o
lugar é naturalmente seu. Ademais, diz que o apoio dos militantes não faz mais
do que crescer à volta da sua"causa". E de forma exponencial,
garante.
Já
a irreverente e jovem Janira Hopffer Almada escuda-se numa sondagem que lhe
estará concedendo 52 por cento das intenções de voto dos militantes, contra 38%
do Filú e 8% da Cristina para sentir-se vitoriosa desde já. Tanto é assim que
não vai negociar com ninguém, não precisa. Os outros que venham negociar com
ela, se quiserem. O enigma que falta desvendar é se os muitos jovens militantes
do PAICV que dizem apoiar Janira estão inscritos nos cadernos que vêm das
últimas eleições de José Maria Neves – na sua última reunião, o Conselho
Nacional decidiu que nesta altura do campeonato não podem ser mexidos, ou seja,
os novos militantes vão ter que esperar para uma próxima oportunidade.
Mas
se o PAICV vai estar tentado a eleger quem está melhor posicionado para lhe dar
os votos da juventude e da comunidade pobre, a experiência é também um trunfo
forte para um partido que, estando no poder, prefere jogar no seguro e não é
muito dado a grandes aventuras. Portanto, no dia 14 de Dezembro os tambarinas
terão que escolher entre a experiência e a renovação.
E
é neste clima de "ku mi ka podedu" que os outros dirigentes do PAICV
vão ter que encontrar o "meio termo", o caminho para os superiores
interesses de um partido que pouco mais de um ano depois destas eleições
internas terá que encontrar o seu lugar num país que vai a votos em 2016, para
escolher os seus novos dirigentes.
Marcado
que está para o final da primeira quinzena de Dezembro as eleições directas
para a escolha do novo líder do PAICV, começam as movimentações com vista a uma
possível convergência entre os quatro concorrentes ao cargo. Com os olhos
postos nas legislativas de 2016,
a ideia é tentar até ao último minuto um consenso que
incentive a democracia interna, ao mesmo tempo que salvaguarda a coesão do
partido. Tarefa difícil, a julgar pelo andar da carruagem.
O
processo conheceu o seu primeiro grande impulso com uma reunião no passado dia
11, entre o líder cessante José Maria Neves e os quatro aspirantes à sua
cadeira. A fazer fé nas informações recolhidas por este jornal, no encontro que
decorreu na Praia, Neves pediu aos pré-candidatos para acautelarem a unidade
interna, socializando um único ou dois candidatos à liderança do PAICV.
Para
altos dirigentes do partido no poder, o mais provável é que Júlio Correia, cujo
apoio não parece ser ainda tão notável a nível das estruturas, junte-se a Filú.
Isto, atendendo à penetração deste último, conhecido como militante todo o
terreno e um dos mais combativos dirigentes do PAICV, sobretudo na região de
Santiago-Sul. Os responsáveis desejam ainda que o mesmo aconteça com as duas
ministras concorrentes – Cristina Fontes e Janira Hopffer Almada – que podem
fundir-se numa só candidatura. Almada mobiliza sobretudo os militantes mais
jovens que apostam na renovação e Fontes conta principalmente com o apoio de
quadros com funções de responsabilidade no aparelho do Estado e que estão
próximos da elite no poder.
Perspectiva
bem diferente têm os observadores independentes ouvidos por este jornal. Estes
advogam que tudo vai depender de vários factores e de quem vai sacrificar o seu
projecto político em nome dos interesses em jogo, sejam eles partidários ou de
carácter pessoal.
Convergência
Júlio-Filú
Para
Geraldo Almeida, o cenário de convergência entre Júlio Correia e Felisberto
Vieira é mais fácil e depende unicamente da vontade deles. «São ambos
dirigentes históricos do PAICV, têm uma trajectória humanista, às vezes
romântica, da política como no caso de FV, o que não é necessariamente
negativo. Por isso, a convergência JC e FV é fácil».
Porém,
Almeida vê com mais dificuldade uma aproximação entre Cristina Fontes e Janira
Hopffer Almada. «Cristina Fontes representa a ala conservadora do partido. É uma
das principais responsáveis pela não concretização de medidas que podiam ter
contribuído para uma maior democratização deste país, quais sejam a instalação
do Tribunal Constitucional, a reforma do contencioso administrativo que regista
um atraso considerável na sua implementação». Por outro lado, acredita que
Janira Hopffer Almada tem uma visão e postura diferente nestas e noutras
matérias. «Janira é pela instalação imediata do TC, advoga uma reforma do
contencioso administrativo que reduza substancialmente as prerrogativas do
Estado e o coloca ao lado das empresas - veja a aproximação da Janira aos
empresários», sustenta este jurista.
Geraldo
sublinha ainda que Janira tem «uma visão progressista», às vezes até com algum
exagero, como tem acontecido com as normas que tem proposto em sede de revisão
da legislação laboral. «Só neste ponto tem faltado à Janira uma visão realista
que busque o equilíbrio entre a dimensão social e a dimensão económica. Não
obstante isso, uma eventual aproximação entre Cristina e Janira só faria
sentido enquanto casamento de conveniência para projectar a candidata mais
jovem», entende o interlocutor deste jornal, para quem pela aceitação que já
granjeou junto da massa jovem, das famílias, dos movimentos de solidariedade e
da comunidade empresarial «jamais Janira Hopffer Almada irá aceitar
sacrificar-se no Altar dos Deuses a favor de Cristina Fontes».
Perigo
de balcanização
No
contraponto, Geraldo Almeida já não está tão seguro quanto à infalibilidade do
factor juventude da Janira. Para este analista político que navega mais à
vontade nas águas democratas-cristãs da UCID, a face jovem da Janira representa
um pau de dois bicos: entre os militantes muitos acham que ela é ainda jovem
demais para liderar um partido com o peso histórico do PAICV e, no seio da
juventude, aparece como representante da comunidade jovem. «O PAICV vai ter,
portanto, que ponderar entre eleger quem está melhor posicionado para lhe dar
os votos da juventude e da comunidade pobre ou fazer a cooptação - nomear um candidato»,
comenta GA.
Já
José Maria Semedo considera que a hipótese da convergência só será possível
mediante a desistência de pelo menos dois concorrentes – um de cada ala. Uma
possibilidade que diz ser pouco exequível, por considerar que existem quatro interessados
firmes no posto em disputa.
«Na
ala Felisberto Vieira – Júlio Correia seguramente irá ponderar o peso do Filú
na Praia, que ficou, no entanto, fragilizado com a sua derrota frente ao actual
líder do MpD e presidente da Câmara da Praia(Ulisses Correia e Silva), onde
mantém certa força. O Júlio Correia está menos desgastado na Praia - o maior
círculo eleitoral do País -, embora possa estar um pouco queimado na ilha
do Fogo», avança.
Referindo-se
à dupla constituída pelas duas mulheres, José Maria Semedo faz questão de
realçar que «compete registar a longa experiência de Cristina Fontes, que
poderá ter liderança no partido, mas menos na sociedade civil». Sobre este
particular, diz o analista que «tudo vai depender da aceitação da Janira
Hopffer Almada junto da camada jovem, já que é considerada inexperiente, apesar
de mostrar muita garra nas disputas eleitorais e capacidade de luta pelos
objectivos».
Diante
de tudo isto, Semedo diz que, apesar dos pesares de cada um, não é de se
descartar um outro cenário possível: a disputa final entre Júlio e Janira. Isto
«porque Filú estaria em desvantagem no maior círculo eleitoral do País e
Cristina tem pouca liderança na sociedade civil», o que pode de certa forma
influenciar o voto dos militantes na hora de escolherem o seu candidato a
primeiro-ministro.
O
comentarista defende que a convergência entre os quatro candidatos evitaria a
balcanização do PAICV. «A convergência entre os quatro candidatos seria mais
saudável para o PAICV, evitando a balcanização do partido, tanto a nível dos
militantes como a nível da sociedade civil».
É
que, segundo fundamenta José Maria Semedo, atendendo à tradição das campanhas
eleitorais em Cabo Verde ,
podem surgir troca de acusações com base nos pontos fracos de cada um, que
serão levadas à praça pública. «Por isso, entre dois candidatos as
convergências seriam maiores, embora persistisse o confronto frente a frente»,
pontua.
Geraldo
Almeida remata, por seu lado, considerando improvável que o PAICV repita o erro
das últimas presidenciais, que está ainda muito vivo na memória dos militantes.
«Penso que os militantes não cometerão o mesmo erro de deixar José Maria Neves
escolher o seu sucessor. Por isso, vejo com mais facilidade uma convergência
entre Felisberto Vieira, Júlio Correia e Janira Hopffer Almada, com sacrifício
dos dinossauros. E a favor de Janira Hopffer Almada. Sendo assim, Filú e Júlio
abdicariam a favor da Janira, sendo seus vices, permanecendo aquilo que já são:
referências morais e humanistas do PAICV», conclui Almeida.
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