Brasília,
30 jul (Lusa) -- O porta-voz da tribo Yanomami, Davi Kopenawa, pediu proteção a
polícia brasileira devido a uma série de ameaças de morte feitas por homens
armados, alegadamente contratados por garimpeiros que trabalham ilegalmente nas
terras indígenas, divulgou hoje a Survival International.
Em
junho, segundo a Survival International, homens armados em motas invadiram o
escritório do Instituto Socioambiental (ISA), que trabalha em estreita
colaboração com os Yanomami, perguntando por Davi Kopenawa.
Os
homens ameaçaram a equipa de funcionários do ISA -- que é uma organização da
sociedade civil de interesse público (OSIP) - com armas e roubaram computadores
e outros equipamentos. Após o assalto, um dos homens foi preso e declarou ter
sido contratado por garimpeiros.
Em
maio, a Hutukara Associação Yanomami -- presidida por Kopenawa -- recebeu uma
mensagem dos garimpeiros de que o porta-voz não estaria vivo até ao final deste
ano.
"Eles
querem acabar comigo... Não faço como os brancos que vão atrás de uma pessoa
para acabar com ela. Não atrapalho o trabalho deles, mas eles estão
atrapalhando o nosso trabalho e a nossa luta. Vou continuar lutando e
trabalhando pelo meu povo. Porque esse é o meu trabalho. Defender o povo e a
terra Yanomami", disse Davi Kopenawa.
Desde
o ataque, um clima de medo tem pairado sobre os escritórios do ISA e da
Hutukara, com homens em motas a intimidar os funcionários e a perguntar sempre
pelo porta-voz, que também é um xamã.
De
acordo com a Survival, os garimpeiros ilegais trabalham na terra Yanomami,
poluindo o ambiente que os Yanomami dependem para a sua sobrevivência.
Em
colaboração com a Hutukara, o Governo do Brasil lançou uma grande operação para
expulsar centenas de garimpeiros ilegais e destruir as máquinas do garimpo em
fevereiro de 2014.
Kopenawa,
que foi chamado de "Dalai Lama da floresta", está à frente da luta
pela proteção da terra Yanomami há mais de 30 anos.
O
porta-voz dos Yanomami viajou para o exterior em várias ocasiões para aumentar
a consciencialização sobre a necessidade urgente de proteger a floresta
Amazónica da destruição. Já discursou na ONU e recebeu o prêmio Global 500,
entre outros, pela sua contribuição na luta pela preservação ambiental.
"As
leis do Estado não significam nada na fronteira da Amazónia, que é tão selvagem
e violenta como o oeste-americano costumava ser", disse hoje o diretor da
Survival International, Stephen Corry.
"Qualquer
pessoa que se coloque no caminho dessa colonização agressiva corre o risco de
ser morto a sangue frio. Não são falsas ameaças -- ativistas indígenas são
frequentemente assassinados por resistirem à destruição das suas terras",
sublinhou Corry.
Para
o ativista ambiental, "a vida de Davi Kopenawa está em perigo. Aqueles
por detrás das ameaças e deste último ataque devem ser levados à justiça e as
autoridades precisam agir logo para evitar o assassínio de mais um homem
inocente".
CSR
// VM - Lusa
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