Eduardo
Oliveira Silva – jornal i, editorial
A
crise de há um ano foi péssima, mas Passos superou-a e o governo deve cumprir o
mandato até ao fim
Um
ano depois da sua demissão irrevogável, Paulo Portas está no governo como
vice-primeiro-ministro, mas sem que o CDS tenha ganho mais peso nas decisões,
como se tem visto pela evolução dos impostos, por exemplo.
A
crise da irrevogável saída de Portas teve basicamente efeitos no reforço da sua
posição pessoal e institucional. Permitiu também introduzir no governo um homem
ligado às empresas, Pires de Lima, que agrada a investidores e empresários,
embora não tenha ainda tido um caso de grande sucesso. Seja como for, Pires de
Lima gere bem a sua área, tem peso político e pode ver-se nele um candidato à
sucessão de Paulo Portas se este decidir não permanecer à frente do CDS em
função dos resultados das legislativas de 2015, às quais evidentemente Portas
se apresentará como líder do partido. É nesse sentido que se deve analisar o
protagonismo do ministro da Economia dos últimos dias. Para já, o delfim é ele.
Quanto
ao governo, nada de novo, a não ser a confirmação de que não há reforma do
Estado mas mais do mesmo, nomeadamente cortes nas reformas, nas pensões e nos
apoios e prestações sociais. Apenas uma coisa mudou um ano depois da crise que
custou milhões a Portugal, aumentando significativamente os juros durante
semanas até que a conjuntura europeia alterou o ciclo num sentido positivo para
todos os países da Europa. Trata-se da expectativa de duração do executivo. É
agora consensual que o governo irá até ao fim sem se desfazer. Estamos,
todavia, na fase das manobras entre partidos da coligação, com o CDS a fazer
valer a sua posição de charneira para não se comprometer em excesso com
alianças futuras.
A
estabilidade conseguida há um ano tem muito a ver com a resiliência política de
Passos Coelho, que logo afirmou que não se demitia e não desistia do seu
mandato. Onde muitos falhariam, Passos soube usar de uma firmeza que serviu de
exemplo à cúpula do CDS, que também pressionou Portas para ficar. Este percebeu
mesmo que corria o risco de o partido ficar no governo sem ele, embora
objectivamente hoje o CDS até tenha menos peso na coligação.
Por
essa altura, a crise foi tão grave que até o Presidente estava disposto a
convocar eleições antecipadas (as quais hoje já teriam ocorrido) se houvesse um
quadro de entendimento futuro dos partidos do arco da governabilidade. Agora
essa hipótese está arredada e quando muito poder-se-á retocar o calendário
antecipando as legislativas para não termos três eleições sucessivas, embora
seja duvidoso que Passos aceite o cenário.
Se
Seguro tivesse aceitado a disponibilidade de Cavaco, hoje chefiaria um governo,
mesmo que de coligação. Se tivesse avançado, não estaria agora a braços com uma
guerra interna no PS, apesar de ter vencido duas eleições. Como há dias
ironizava Alberto João Jardim, assistimos à curiosidade de o partido vencedor
estar a discutir a liderança e isso não acontecer no partido perdedor. Também
na política se pode aplicar aquela máxima dos jogadores e treinadores de
futebol quando perdem um jogo depois de o dominar: o futebol é mesmo assim.
A
política também.
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