terça-feira, 1 de julho de 2014

Portugal: António Campos acusa Seguro de “trair o passado do PS”



Luís Claro – jornal i

António Campos foi um dos 25 fundadores que subscreveu uma declaração de apoio a Costa e acusa Seguro de "querer apagar a história do PS"

Nos tempos de Mário Soares, António Campos foi o principal responsável pela organização do PS. A crise no partido motivou-o para deixar a posição recatada que já tinha assumido e voltar a ter uma intervenção activa na vida do PS.

Conhece há muitos anos o PS e os seus militantes. Esta disputa interna provocada por António Costa era desejada pela maioria dos militantes?

Na história do PS nunca houve um levantamento das bases com a dimensão do actual, o que demonstra a grande insatisfação existente.

O que é que faltou a António José Seguro para unir o partido e para não estar hoje a ser contestado internamente?

Faltou-lhe capacidade de liderança e procurou apagar a história do partido. Na política não é líder quem quer, é preciso ter capacidade e força para o ser.

No Facebook escreveu que na política não cabem os medrosos. O PS tem tido um líder medroso?

Quem recebe um desafio para uma boa batalha política interna e não a vê como uma prenda para se afirmar ou não é um líder ou é um medroso.

Um facto é que o PS venceu as eleições europeias e já tinha vencido as autárquicas. Isto não chega para manter o actual rumo?

São duas eleições completamente diferentes. A que conta para a análise política, porque são nacionais, são as europeias. Nessas ficou mais que provada a incapacidade do PS em aglutinar os votos perante o governo mais reaccionário da democracia. Marinho e Pinto, com um partido completamente desconhecido, alimentou-se da incapacidade do PS.

O PS vai ter eleições primárias no dia 28 de Setembro. Acha que esta demora prejudica o partido ?

É óbvio que prejudica imenso o partido. O protelar, acusar ou modificar regras não são formas de engrandecer a democracia interna.

Com o país em crise, o PS não deveria evitar radicalizar a discussão interna? Tem havido insultos e até confrontos físicos entre militantes.

A radicalização só é possível porque o mecanismo de solução foi negado aos militantes. Adiar a solução é radicalizar a situação, com custos políticos incalculáveis. É uma irresponsabilidade que degrada a política.

Uma das discussões que nunca largou o PS desde que saiu do governo é como é que deve encarar a herança de Sócrates. É sabido que existia algum distanciamento da actual direcção em relação aos governos de José Sócrates. O PS não deve fazer uma reflexão sobre o que fez no governo?

Um dos graves erros desta direcção foi querer apagar a história do PS. Sócrates foi o único líder a conseguir uma maioria absoluta e vítima da maior crise que assolou a União Europeia. Sócrates já fez história e o tempo o julgará.

Mas não é verdade que a governação do PS levou o país a pedir uma intervenção externa, como não se cansa de repetir o governo?

A actual direcção, ao não repor a verdade histórica, alinhando com a direita reaccionária e com a esquerda radical, traiu o passado. A rejeição do PEC 4 teve custos que a história julgará, o silêncio da direcção do PS tornou-o conivente com os agentes políticos que provocaram um resgate financeiro que destruiu a vida de milhões e milhões de portugueses. Recordo que na Itália e Espanha, em pior situação do que a nossa, ninguém perdeu direitos, foram apenas congelados alguns. Sócrates, após o chumbo e a demissão teve de assinar um acordo que as regras democráticas impunham. Sócrates avisou das consequências, esta direcção esqueceu-as.

O PS só conseguiu uma vez atingir a maioria absoluta e na ausência dela ou governou em minoria ou se aliou ao PSD e ao CDS. Se não conseguir a maioria absoluta deve aliar-se à direita ou à esquerda?

Com António Costa podemos repetir uma maioria absoluta.

O PS aliou-se sempre à direita. Hoje há condições diferentes para uma eventual convergência de esquerda?

A história leninista do PCP considera o PS o seu principal inimigo. O que faz contra a direita é só fumaça. O Bloco, ou muda e participa nas soluções nacionais ou morre.

E os novos partidos como o Livre e o MPT de Marinho e Pinto?

O Livre e o Partido da Terra são uma incógnita. Há uma lição que já aprendemos, governos minoritários não são solução para Portugal.

O país continua numa situação difícil e condicionado pela obrigatoriedade de cumprir algumas metas. Um governo PS não irá aplicar medidas de austeridade?

O problema é outro, ou a União muda de política ou esse grande sonho vai estiolando até morrer.

É possível, sem sair do euro e no actual contexto europeu, governar à esquerda e não cortar nos funcionários, nos pensionistas e ao mesmo tempo não aumentar os impostos?

É possível se o BCE seguir uma política idêntica à do FED. Se continuar a impor a austeridade mata a união, mas mais grave é que a violência e o extremismo tomam conta da Europa.

Quem era o socialista que gostava de ver candidatar-se a Belém?

António Guterres.

Espera uma actuação diferente do próximo Presidente daquela que tem sido a prática de Cavaco Silva?


Claro, hoje a presidência não existe. É um departamento do governo e dos menos interventivos.

Leia mais em jornal i

Sem comentários:

Mais lidas da semana