Luís
Claro – jornal i
António
Campos foi um dos 25 fundadores que subscreveu uma declaração de apoio a Costa
e acusa Seguro de "querer apagar a história do PS"
Nos
tempos de Mário Soares, António Campos foi o principal responsável pela
organização do PS. A crise no partido motivou-o para deixar a posição recatada
que já tinha assumido e voltar a ter uma intervenção activa na vida do PS.
Conhece
há muitos anos o PS e os seus militantes. Esta disputa interna provocada por
António Costa era desejada pela maioria dos militantes?
Na
história do PS nunca houve um levantamento das bases com a dimensão do actual,
o que demonstra a grande insatisfação existente.
O
que é que faltou a António José Seguro para unir o partido e para não estar
hoje a ser contestado internamente?
Faltou-lhe
capacidade de liderança e procurou apagar a história do partido. Na política
não é líder quem quer, é preciso ter capacidade e força para o ser.
No
Facebook escreveu que na política não cabem os medrosos. O PS tem tido um líder
medroso?
Quem
recebe um desafio para uma boa batalha política interna e não a vê como uma
prenda para se afirmar ou não é um líder ou é um medroso.
Um
facto é que o PS venceu as eleições europeias e já tinha vencido as
autárquicas. Isto não chega para manter o actual rumo?
São
duas eleições completamente diferentes. A que conta para a análise política,
porque são nacionais, são as europeias. Nessas ficou mais que provada a
incapacidade do PS em aglutinar os votos perante o governo mais reaccionário da
democracia. Marinho e Pinto, com um partido completamente desconhecido,
alimentou-se da incapacidade do PS.
O
PS vai ter eleições primárias no dia 28 de Setembro. Acha que esta demora
prejudica o partido ?
É
óbvio que prejudica imenso o partido. O protelar, acusar ou modificar regras
não são formas de engrandecer a democracia interna.
Com
o país em crise, o PS não deveria evitar radicalizar a discussão interna? Tem
havido insultos e até confrontos físicos entre militantes.
A
radicalização só é possível porque o mecanismo de solução foi negado aos
militantes. Adiar a solução é radicalizar a situação, com custos políticos
incalculáveis. É uma irresponsabilidade que degrada a política.
Uma
das discussões que nunca largou o PS desde que saiu do governo é como é que
deve encarar a herança de Sócrates. É sabido que existia algum distanciamento
da actual direcção em relação aos governos de José Sócrates. O PS não deve
fazer uma reflexão sobre o que fez no governo?
Um
dos graves erros desta direcção foi querer apagar a história do PS. Sócrates
foi o único líder a conseguir uma maioria absoluta e vítima da maior crise que
assolou a União Europeia. Sócrates já fez história e o tempo o julgará.
Mas
não é verdade que a governação do PS levou o país a pedir uma intervenção
externa, como não se cansa de repetir o governo?
A
actual direcção, ao não repor a verdade histórica, alinhando com a direita
reaccionária e com a esquerda radical, traiu o passado. A rejeição do PEC 4
teve custos que a história julgará, o silêncio da direcção do PS tornou-o conivente
com os agentes políticos que provocaram um resgate financeiro que destruiu a
vida de milhões e milhões de portugueses. Recordo que na Itália e Espanha, em
pior situação do que a nossa, ninguém perdeu direitos, foram apenas congelados
alguns. Sócrates, após o chumbo e a demissão teve de assinar um acordo que as
regras democráticas impunham. Sócrates avisou das consequências, esta direcção
esqueceu-as.
O
PS só conseguiu uma vez atingir a maioria absoluta e na ausência dela ou
governou em minoria ou se aliou ao PSD e ao CDS. Se não conseguir a maioria
absoluta deve aliar-se à direita ou à esquerda?
Com
António Costa podemos repetir uma maioria absoluta.
O
PS aliou-se sempre à direita. Hoje há condições diferentes para uma eventual
convergência de esquerda?
A
história leninista do PCP considera o PS o seu principal inimigo. O que faz
contra a direita é só fumaça. O Bloco, ou muda e participa nas soluções
nacionais ou morre.
E
os novos partidos como o Livre e o MPT de Marinho e Pinto?
O
Livre e o Partido da Terra são uma incógnita. Há uma lição que já aprendemos,
governos minoritários não são solução para Portugal.
O
país continua numa situação difícil e condicionado pela obrigatoriedade de
cumprir algumas metas. Um governo PS não irá aplicar medidas de austeridade?
O
problema é outro, ou a União muda de política ou esse grande sonho vai
estiolando até morrer.
É
possível, sem sair do euro e no actual contexto europeu, governar à esquerda e
não cortar nos funcionários, nos pensionistas e ao mesmo tempo não aumentar os
impostos?
É
possível se o BCE seguir uma política idêntica à do FED. Se continuar a impor a
austeridade mata a união, mas mais grave é que a violência e o extremismo tomam
conta da Europa.
Quem
era o socialista que gostava de ver candidatar-se a Belém?
António
Guterres.
Espera
uma actuação diferente do próximo Presidente daquela que tem sido a prática de
Cavaco Silva?
Claro,
hoje a presidência não existe. É um departamento do governo e dos menos
interventivos.
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