quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A FAIXA DO DESESPERO (2)



Rui Peralta, Luanda (continuação - ver anterior)

IV - A História dos movimentos palestinianos remonta á História da Palestina moderna, iniciada com a Declaração de Balfour (apresentada á Organização Sionista Mundial pelo ministro britânico dos negócios estrangeiros, Lord Balfour, em 2 de Novembro de 1917) que dividiu os povos semita7 da Palestina. Trinta anos depois, em Novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU aprova a resolução 181, que prevê a existência de três entidades políticas diferentes na Palestina: um Estado Judaico, uma Palestina Árabe e uma zona internacional (Jerusalém), ligadas economicamente. Em Março de 1948 Israel proclama a sua independência, pela voz de Ben Gurion o seu primeiro presidente.

Inicialmente os palestinianos combatiam militarmente Israel nas fileiras da Legião Árabe ou dos exércitos jordano e egípcio, enquanto o combate político (e político-militar, assim como o combate ideológico) era realizado nas fileiras da Irmandade Muçulmana (no Egipto), do movimento nasserista ou no Partido BAAS (na Síria). Em 1964 é fundada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), na cidade de Alexandria, Egipto. Um ano depois, a Al-Fatah (criada em 1954), inicia a luta armada, através do seu braço armado, o Al-Assita, comandado por Yasser Arafat (que iniciou a sua militância politica e guerrilheira na Irmandade Muçulmana) e que presidiu a OLP, quando em 1969 esta organização é restruturada e formado um comando unificado com a Al-Fatah, a Al-Satka (fundada na Síria e liderada por Zoher Mohsen, que militou no BAAS sírio. A influência Síria sempre se fez sentir na OLP e mesmo no interior da Fatah, como ficou demonstrado em 1983, quando uma dissidência da Fatah forma em Damasco a Frente de Salvação Nacional da Palestina, liderada por Abu Musa) e a anterior estrutura da OLP e do Exército de Libertação da Palestina. Esta restruturação foi consequência da Guerra dos  Seis Dias, em 1967, que foi uma pesada derrota árabe, tendo Israel ocupado o Sinai, Gaza, a Cisjordânia, Jerusalém e os Montes Golã (nesta guerra Israel ocupou um total de 65 mil quilómetros quadrados em 6 dias).

 A restruturação da OLP, com a criação do comando unificado, gerou uma dinâmica unitária na maioria dos sectores da sociedade palestiniana. No entanto algumas tendências do movimento palestiniano não se reviam neste modelo organizacional e nas estratégias traçadas pela OLP. Havia sectores que não reconheciam a OLP como líder do processo de libertação e outros que a reconheciam a sua legitimidade embora fossem críticos em relação às linhas políticas da organização. Dois anos antes da restruturação da OLP foi fundada a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), com origem na Frente de Libertação da Palestina que inicialmente denominava-se Movimento Nacional Árabe. A FPLP definia-se como marxista-leninista e era liderada por George Habash, um médico oriundo de família cristã. A primeira acção da FPLP foi em 1968, desviando um avião da El-Al (linhas aéreas israelitas). Embora a organização aderisse ao comando unificado e Habash fosse do comité central da OLP, a acumulação de divergências e a detenção de um dos seus comandantes (Ahmed Saadat) por ordem de Yasser Arafat, levou á ruptura, em 1974. A FPLP forma, com Ahmad Jibul (um ex-dirigente da Fatah- e outros grupos de combatentes a Frente de Recusa.

Em 1969 surge (em consequência de uma cisão na FPLP) a Frente Popular Democrática da Palestina (FPDLP), de tendência maoista e liderada por Neif Hauatmé. A FPDLP reconhece a OLP como representante do povo Palestiniano e não rejeita a existência do Estado israelita. Da miríade de organizações e grupos palestinianos (alguns formados pelos serviços secretos dos países árabes - como a Frente Nacional de Libertação, criada na década de 80 pelos iraquianos - e pelos serviços israelitas) destaca-se ainda a Organização Setembro Negro, surgida em 1971. Foi responsável pelo assassinato do primeiro-ministro jordano Uaxti Tall, nesse mesmo ano e pelo assassinato de 11 atletas israelitas durante os Jogos Olímpicos em Munique. O Setembro Negro surge em consequência dos combates travados em solo jordano entre milícias palestinianas (na época abrigadas em Amã, na Legião Árabe) e o exército jordano. Destes combates resultaram mais de 4 centenas de mortos no lado palestiniano e a expulsão do solo jordano (os palestinianos refugiaram-se no Líbano). O Setembro Negro é uma dissidência da Al-Fatah, provocada por grupos de combatentes palestinos expulsos da Jordânia, próximos ao comandante Abu Ali Lyad, da Fatah, morto em combate contra o exército jordano e que pretendiam derrubar a monarquia jordana.

Chegamos então ao Hamas, o Movimento de Resistência Islâmica, fundado durante os anos 80 no campo de refugiados de Jabalaya, em Gaza (e nas pedras da 1ª Intifada) pelo xeique Ahmed Ismael Yassin, ex-militante da Irmandade Muçulmana. Aliás as origens do Hamas encontram-se profundamente ligadas á Irmandade Muçulmana egípcia (tal como outros movimentos palestinianos laicos). O Hamas insere-se nos movimentos políticos islâmicos de novo tipo, que atravessam transversalmente o mundo islâmico contemporâneo.

Na Palestina este espaço é partilhado por mais duas organizações: a Jihad Islâmica (El-Qassem) e o Hezbolah da Palestina. Ambos originados nos campos de refugiados palestinianos no Líbano. A Jihad Islâmica foi fundada em 1988, por Fathi Shakari, outro ex-militante da Irmandade Muçulmana egípcia, residente em Damasco. Já o Hezbolah da Palestina, xiita, surgido no mesmo ano, está baseado no Irão, embora as suas estruturas militares estejam localizadas no Líbano. Os principais apoios externos destes grupos provêm do Irão e da Síria e a sua base de apoio, em Gaza, nas mesquitas. Estes movimentos não são reconhecidos pela OLP, nem pela Autoridade Palestiniana, embora tenham relações com o Hamas e na Cisjordânia com a FPLP, a FPDLP e mesmo com sectores da Fatah. Não têm, no entanto, a mesma força do Hamas, que implementado nas acções de trabalho  social realizado nas mesquitas palestinas (durante décadas Israel permitiu, por considerá-lo inofensivo  e ser um travão á posição laica, democrática e de libertação  nacional da OLP) tornou-se  hegemónico em Gaza.

O objetivo do Hamas é construir um  Estado islâmico na Palestina e no  programa do movimento consta a destruição do Estado  de Israel e recusou reconhecer os acordos de Oslo e a Autoridade Nacional Palestiniana. Esta postura inicial alterou-se com o tempo (e com a maior amplitude da base eleitoral). A linha inicial, que incluía atentados suicidas (entre 1994 y 2004 o Hamas realizou diversos ataques suicidas, abandonando, aparentemente, esta prática). O crescimento da organização levou ao diálogo com a OLP, consolidando-se como alternativa eleitoral no panorama politico palestiniano.

Em 2004, Ahmed Yassin, dirigente máximo e fundador  da organização morreu durante um ataque israelita. Em 2006 o Hamas apresentou-se,  pela primeira vez nas eleições legislativas para a Autoridade Nacional Palestiniana e venceu em Gaza. Israel e USA procuraram dividir e deslegitimar o triunfo do grupo islâmico. Com alguma anuência da Al Fatah  (organização preponderante na OLP) o governo palestino dividiu-se  em dois: o Hamas em Gaza e a OLP na Cisjordânia. Esta divisão  favoreceu a política israelita de negar a um  Estado palestiniano  autónomo e democrático. No início deste  ano o Hamas e a OLP  reunificaram o governo palestiniano, de transição, até novas  eleições.

A decisão palestiniana gerou a ira do governo israelita que, poucos meses depois, iniciou a actual ofensiva contra Gaza, a mesma intervenção que na madrugada do passado dia 18 (Agosto) vitimou, através de um ataque aéreo, três comandantes do Hamas (Mohamed Abu Shamaleh, Raed al- Attar e Mohamed Harhum) em Rafat. No ataque morreram também 7 civis palestinianos, entre eles, 3 crianças.

Gaza morre todos os dias. Renascerá das cinzas?

V - Às tréguas sucedem-se os ataques aéreos israelitas a Gaza e os rockets palestinianos a caírem no sul de Israel. O Hamas, nas negociações que decorreram no Cairorecusou-se a assinar qualquer cessar-fogo enquanto não forem contempladas uma serie de condições que os palestinianos de Gaza consideram fundamentais a longo-prazo, como a questão do porto de Gaza e a reconstrução das infraestruturas escolares e hospitalares.

A ofensiva israelita já custou a vida a cerca de 2 mil palestinianos, mil e quinhentos dos quais eram civis e destes cerca de 500 eram crianças. Mais de 10,000 foram feridos, meio milhão de palestinianos foram desalojados e 187,000 vivem nos abrigos da ONU. 10 mil residências foram completamente destruídas e 30,000 parcialmente destruídas. A estes números dramáticos, a esta estatística do inferno em que Gaza se tornou, contrapõe-se os cerca de 70 soldados israelitas mortos em Gaza e entre 3 a 5 civis mortos em Israel.

VI - As guerras criam histeria, tornam as pessoas "superpatriotas"... Nestes períodos o senso comum escasseia e a crítica é crime. Os discursos inflamados de Netanyahu e dos "falcões" sionistas não conseguem travar, as demonstrações públicas diárias contra a guerra. O centro de Telavive, durante os protestos, torna-se palco de um conflito que atravessa a sociedade israelita desde a sua proclamação como Estado: a construção da tolerância (sonho milenar iniciado no Exodus e transportado para a diáspora errante) versus a destruição da esperança (a esperança dos sobreviventes do Holocausto), levada a cabo pelos falcões da guerra, profetas da histeria.

Do outro lado, o  Hamas, considerado terrorista por Israel e pelos USA, vê-se a si mesmo como força libertadora e sente-se (como os seus inimigos sionistas) senhor absoluto da verdade. Foi assim que na madrugada do dia 22 deste més executou 18 cidadãos palestinianos acusados de colaboracionismo. Todos admitem, hoje, que o Hamas é incontornável e que faz parte da resolução e não do problema. E isto é tão evidente como o facto de que a solução só será possível de esboçar quando Israel desocupar os territórios. Os cerca de 10 mil guerrilheiros do Hamas defrontam um dos mais modernizados exércitos do mundo. A guerra prolongada é o caminho traçado por ambos os lados. A superioridade tecnológica do exército israelita torna esse caminho inevitável para os palestinianos. Por outro lado a mesma superioridade tecnológica-militar israelita tornou-se essencial para a economia israelita, que rentabilizou o factor guerra e segurança, tirando proveito das diferentes amplitudes do conflito, tratando-os como nichos de mercado.

Um dos problemas básicos gerados pelas guerras reside no facto de ambas as forças apenas dialogarem através de intermediários. Neste caso específico, Israel e o Hamas (e a Autoridade Nacional Palestiniana, obrigatoriamente, porque é a autoridade legitima) não discutem directamente. Os acordos de cessar-fogo, por exemplo, são negociados pelo Egipto, que neste momento é tão inimigo do Hamas quanto Israel. Ao surgir como negociador, mediando o conflito, o papel do Egipto é, no mínimo suspeito aos olhos do Hamas. Isto para não falar da mediação norte-americana, que é ridícula aos olhos de todos os que demonstrem um mínimo de bom senso, ou tenham, pelo menos dois dedos de testa. Obama repete, como um papagaio, tudo o que os falcões sionistas propagandeiam e quanto a Kerry é preferível nem referir (é, sem duvida, uma prova do triunfo da mediocridade). Assim, não existem mediadores credíveis. Quanto muito os USA poderão aconselhar Israel e disponibilizar "logística comunicativa" e o Egipto, em função do seu posicionamento geo-histórico e do relacionamento que mantem com Israel e com a resistência palestiniana poderá realizar um papel de "vaso comunicante".

É evidente que o Hamassente-se desconfortável no Cairo a negociar tréguas através do Egipto, para mais não sendo o Egipto um Estado amigável para o Hamas (em relação a Gaza os egípcios entendem-se  mais facilmente com os israelitas do que com o Hamas). Israel, o Hamas e a Autoridade Nacional Palestiniana têm de falar directamente, sem intermediários e esta é a única forma de Washington e Cairo não serem parte do problema - já de si demasiado complexo - entre Telavive e a Palestina (da qual Gaza é parte, não devendo o Hamas esquecer que a legitimidade da Autoridade Palestiniana é nacional).

Habitam cerca de 2 milhões de palestinianos na faixa de Gaza, um pequeno território de 500 quilómetros quadrados (50km x 10km). Quatro almas por metro quadrado de terreno bombardeado, de terra queimada, de ruinas, dramas e tragédia, de 8 anos de bloqueio, com todas as fronteiras fechadas, incluindo a marítima e onde nada é obtido sem a permissão de Israel.



O actual governo israelita representa a extrema-direita sionista e contem sectores abertamente fascistas. Os territórios ocupados constituem 22% da Palestina histórica. Sem a desocupação não será possível existir paz, mas esse não é um objectivo de largos sectores das elites sionistas. Conservadores, liberais e trabalhistas não diferem neste (e noutros) pontos e as suas vozes podem-se misturar, num grande coro, com as da extrema-direita, por isso esta surgir em quase todas as coligações, seja através das facções ultranacionalistas (fascistas judaicos), seja pelos partidos religiosos teocráticos. É de Israel que terá de sair o percurso da paz e esse caminho inicia-se com propostas concretas de desocupação. Até lá, só resta aos palestinianos o trilho da luta...

VII - A recusa do governo israelita em alcançar um acordo com a Autoridade Palestiniana e com o Hamas (que lidera a força popular em Gaza) prolongará por tempo indeterminado a actual situação. O lançamento de rockets foi a desculpa perfeita para continuar com este assédio que o Estado de Israel exercesobre Gaza desde 2005.  Enquanto em Gaza a destruição continua, na  Cisjordânia os protestos descem às ruas e os manifestantes (jovens, na sua maioria) confrontam a polícia e o exército israelita, o que já originou a morte de 11 manifestantes e de centenas de feridos e detidos. Por toda a Cisjordânia são organizados comités populares de solidariedade com Gaza, embora a ANP oponha-se a este tipo de organização popular. Mas a posição da ANP não é entendida por largos sectores da população, que decidiram sair às ruas. Assim, em Ramallah, mais de 15.000 pessoas manifestaram-se nas ruas. A manifestação terminou em confrontos com a polícia que originaram um morto e mais de 300 feridos.

Também em Telavive decorrem manifestações contra a guerra, organizadas pelos Combatentes para a Paz, pela Coligação de Mulheres pela Paz e outros grupos, organizações, partidos e sindicatos. Estes protestos têm terminado emconfrontos com militantes de extrema-direita.Do lado israelita um factor fundamental que prepara e manipula a população para a guerra é apropaganda. A máquina de propaganda sionista nunca deixa detrabalhar e tem sempre  combustível para manter-se activa. A situação actual de nula tolerância dificulta a resistência águerra. A maioria dosisraelitas, de facto não discordam do governo e da política da direita em relação a Gaza e da estratégia governamental de aniquilar o Hamas.

Os israelitas não têm, na sua maioria, informação real nem imagens sobre Gaza nosprincipais órgãos de comunicação social. O que sabem sobre o Hamas é unicamente o que a propaganda governamental diz e um outro clip de poucos segundosexplicando que militantes do Hamas foram localizados disparandodesde hospitais e colégios. Há pouco espaço para a compaixão e a maioria das pessoas não está preocupada com o massacre em Gaza. A reacção nas redes sociais é demonstrativa dessa indiferença. Nas ruas a propaganda de apoio aos "valentes soldados" e a população organiza envios de comida e víveres para a"linha da frente".

A propaganda esconde diversas realidades da sociedade israelita. Uma delas é a indústria militar e o negócio de segurança, sectores complementares e com a mesma origem de capital. O mercado bélico é uma das principais fontes de rendimento do país, principalmente o sector de exportação. Algumas das empresas maiores deste mercado são israelitas, como a IMI e a R.A.D.S. O principal apoio que Israel  recebe nesta guerra vem dogoverno dos Estados Unidos na forma de ajuda militar. É habitual o comércio de armas entre ambos os países mas nesta guerra o Estadoisraelita recebe ainda uma ajuda de emergência. Mas para lá destes apoios (muitos deles não passam de retornos devidos pelos USA), está um outro elemento deste negócio: o teste. Armas, equipamentos, munições e sistemas são experimentados em situação real, podendo desta forma serem optimizados a um custo mais baixo e de forma rápida e com mais eficácia.Gaza, caros amigos, não é apenas um cenário de um drama...é também um banco de ensaio...

E em relação á solidariedade árabe? Qual a razão do silêncio, ou do murmúrio dos estados árabes, perante este genocídio? Quais os motivos para que o mundo árabe não conteste osataques que os palestinianos sofrem?Sem dúvida que actualmente osconflitos que afectam a Síria e o Iraque, a instabilidade no Líbano, as heranças das Primaveras no Norte de África (Tunísia e Egipto e fragmentação da Líbia) contribui em muito para este muro murmurante e tímido. Gaza não é uma prioridade. Também nem toda a sociedade árabe apoia automática e necessariamente a causa palestiniana como asociedade "ocidental" (e o seu conceito retrógrado de "choque das civilizações") esperaria.Não se deve esperar demasiadas mostras de solidariedade, porexemplo, do Egipto ou da Síria, quando estes países  atravessam um período crucial da sua História. Por outro lado o conceito solidariedade parece ser inexistente nos Estados do Golfo, substituído por conceitos produtores de petrodólares.
Um facto da dinâmica interna israelita é evidente: Com este novo ataque estamos assistindo á ascensão dosmovimentos racistas e fascistas em Israel. O  racismo fortalece-se a cada dia, nas instituições e nas ruas. Casos como o homicídio de Mohammad abu-Hadid, um adolescente de 16 anos, do bairro de Shu'afat (Jerusalém) que foi sequestrado e queimado vivo por três jovens israelitas no passado mês de Junho, são casos que pertencem ao quotidiano de violência gerada pela ocupação.A ascensão da extrema- direita aglutina muita gente que habitualmente não é o tipo de pessoa que apoia esta política, mas que, em tempo de guerra e/ou de crise, é atraída por esse tipo de discurso onomatopaico. E este é um aspecto primordial (e uma consequência do controlo de massas e da sociedade. É o medo, que transforma-se numa necessidade irreal de "segurança", que é o primeiro aliado do totalitarismo e o governo israelita joga com estaferramenta para ter um controlo absoluto sobre a sociedade. O medo é usado de uma forma muito eficaz pelo aparelho do Estado sionista. Por um lado permitem a liberdade de expressão e de protesto mas por outro querem que estas estejam submetidas a apertado  controlo.

Existe uma lei excepcional (que entra em vigor sempre que o  estado de emergência é proclamado) que limita o direito de manifestação se esta superar mil pessoas. Outras leis limitam a divulgação de informação e de opinião. Ora, num país como Israel, onde o Estado de excepção é quase a norma, as liberdades civis ficam bastante limitadas. A segurança é, assim, o elemento sobre o qual assenta a manipulação.
O sionismo, transformado em nacionalismo resulta numa prática colonialista e no principal agente do imperialismo na região (sendo os Estados do Golfo os policias locais. Como nacionalismo o sionismo permite a mobilização dos diversos sectores da sociedade israelita, na tentativa de superar o conflito social interno. Como colonialismo, o sionismo, transforma-se numa prática racista, que cultiva a "superioridade" do "Povo Eleito" e o seu "direito" á expansão territorial. Como Estado agenciado, Israel cumpre a sua função de vigilante ao serviço do imperialismo norte-americano.

Este posicionamento tem um custo económico. Viver em Israel é caro, principalmente em Telaviveou Jerusalém. Os salários são baixos embora o desemprego, segundo os dados oficiais, não seja alto. O sistema de segurança socialestá numa situação catastrófica e os níveis de pobreza na sociedade israelita são os mais altos de sempre. Foi neste cenário que ocorreram os protestos sociais em 2011,  mobilizando mais de meio milhão de manifestantes em Telavive. Terminou em nada. A guerra e o discurso nacionalista são travesseiros irresistíveis...

VIII - No dia 23 foram contabilizados 11 mortos em Gaza, em consequência dos raides aéreos israelitas. Na noite de 23 para 24 foi destruído um prédio. Os apartamentos são, agora, escombros, vestígios de espaços habitados...no dia 23 Netanyahu avisa os residentes palestinianos das áreas próximas às instalações do Hamas, para as abandonarem...os dirigentes egípcios apelam para um cessar-fogo...E Gaza arde...

Notas:
Visão, nº 93, Dezembro, 29, 1994
The International Status of Palestinian People United Nations, New York, 1981
Courrier International, Jan. 17, 2002
Harris, N. Israel and Arabe nations in conflict Vaughan, Austin, 1999
Smith, C.D. Palestine and the Arabe/Israel conflict Bedford Ed. Boston, 2001
Lukacs, Y. The israeli/palestinian conflict, a documentary record 1967-1990 Cambridge University Press, Cambridge, 1992
Africa Analysis, July, 1987
L'Histoire, Fev. 1993
Geopolitique, nº 7, Oct. 1984.
Rinascita, nº 36, Sep. 20, 1986
Nouvel Observateur, Fev. 19, 1979
Nouvel Observateur, Oct. 16, 1978

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