Rui
Peralta, Luanda (continuação - ver anterior)
IV
- A História dos movimentos palestinianos remonta á História da Palestina
moderna, iniciada com a Declaração de Balfour (apresentada á Organização
Sionista Mundial pelo ministro britânico dos negócios estrangeiros, Lord
Balfour, em 2 de Novembro de 1917) que dividiu os povos semita7 da Palestina.
Trinta anos depois, em Novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU aprova a
resolução 181, que prevê a existência de três entidades políticas diferentes na
Palestina: um Estado Judaico, uma Palestina Árabe e uma zona internacional
(Jerusalém), ligadas economicamente. Em Março de 1948 Israel proclama a sua
independência, pela voz de Ben Gurion o seu primeiro presidente.
Inicialmente
os palestinianos combatiam militarmente Israel nas fileiras da Legião Árabe ou
dos exércitos jordano e egípcio, enquanto o combate político (e
político-militar, assim como o combate ideológico) era realizado nas fileiras
da Irmandade Muçulmana (no Egipto), do movimento nasserista ou no Partido BAAS
(na Síria). Em 1964 é fundada a Organização para a Libertação da Palestina
(OLP), na cidade de Alexandria, Egipto. Um ano depois, a Al-Fatah (criada em
1954), inicia a luta armada, através do seu braço armado, o Al-Assita,
comandado por Yasser Arafat (que iniciou a sua militância politica e
guerrilheira na Irmandade Muçulmana) e que presidiu a OLP, quando em 1969 esta
organização é restruturada e formado um comando unificado com a Al-Fatah, a
Al-Satka (fundada na Síria e liderada por Zoher Mohsen, que militou no BAAS
sírio. A influência Síria sempre se fez sentir na OLP e mesmo no interior da
Fatah, como ficou demonstrado em 1983, quando uma dissidência da Fatah forma em
Damasco a Frente de Salvação Nacional da Palestina, liderada por Abu Musa) e a
anterior estrutura da OLP e do Exército de Libertação da Palestina. Esta
restruturação foi consequência da Guerra dos Seis Dias, em 1967, que foi
uma pesada derrota árabe, tendo Israel ocupado o Sinai, Gaza, a Cisjordânia,
Jerusalém e os Montes Golã (nesta guerra Israel ocupou um total de 65 mil
quilómetros quadrados em 6 dias).
A restruturação da OLP, com a criação do
comando unificado, gerou uma dinâmica unitária na maioria dos sectores da
sociedade palestiniana. No entanto algumas tendências do movimento palestiniano
não se reviam neste modelo organizacional e nas estratégias traçadas pela OLP.
Havia sectores que não reconheciam a OLP como líder do processo de libertação e
outros que a reconheciam a sua legitimidade embora fossem críticos em relação
às linhas políticas da organização. Dois anos antes da restruturação da OLP foi
fundada a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), com origem na
Frente de Libertação da Palestina que inicialmente denominava-se Movimento
Nacional Árabe. A FPLP definia-se como marxista-leninista e era liderada por George Habash, um médico oriundo de
família cristã. A primeira acção da FPLP foi em 1968, desviando um avião da
El-Al (linhas aéreas israelitas). Embora a organização aderisse ao comando
unificado e Habash fosse do comité central da OLP, a acumulação de divergências
e a detenção de um dos seus comandantes (Ahmed Saadat) por ordem de Yasser
Arafat, levou á ruptura, em 1974.
A FPLP forma, com Ahmad Jibul (um ex-dirigente da Fatah-
e outros grupos de combatentes a Frente de Recusa.
Em
1969 surge (em consequência de uma cisão na FPLP) a Frente Popular Democrática
da Palestina (FPDLP), de tendência maoista e liderada por Neif Hauatmé. A FPDLP
reconhece a OLP como representante do povo Palestiniano e não rejeita a existência
do Estado israelita. Da miríade de organizações e grupos palestinianos (alguns
formados pelos serviços secretos dos países árabes - como a Frente Nacional de
Libertação, criada na década de 80 pelos iraquianos - e pelos serviços
israelitas) destaca-se ainda a Organização Setembro Negro, surgida em 1971. Foi
responsável pelo assassinato do primeiro-ministro jordano Uaxti Tall, nesse
mesmo ano e pelo assassinato de 11 atletas israelitas durante os Jogos
Olímpicos em
Munique. O Setembro Negro surge em consequência dos combates
travados em solo jordano entre milícias palestinianas (na época abrigadas em
Amã, na Legião Árabe) e o exército jordano. Destes combates resultaram mais de
4 centenas de mortos no lado palestiniano e a expulsão do solo jordano (os
palestinianos refugiaram-se no Líbano). O Setembro Negro é uma dissidência da
Al-Fatah, provocada por grupos de combatentes palestinos expulsos da Jordânia,
próximos ao comandante Abu Ali Lyad, da Fatah, morto em combate contra o
exército jordano e que pretendiam derrubar a monarquia jordana.
Chegamos
então ao Hamas, o Movimento de Resistência Islâmica, fundado durante os anos 80 no campo de refugiados de Jabalaya, em Gaza (e nas
pedras da 1ª Intifada) pelo xeique Ahmed Ismael Yassin, ex-militante da Irmandade
Muçulmana. Aliás as origens do Hamas encontram-se profundamente ligadas á
Irmandade Muçulmana egípcia (tal como outros movimentos palestinianos laicos).
O Hamas insere-se nos movimentos políticos islâmicos de novo tipo, que
atravessam transversalmente o mundo islâmico contemporâneo.
Na
Palestina este espaço é partilhado por mais duas organizações: a Jihad Islâmica
(El-Qassem) e o Hezbolah da Palestina. Ambos originados nos campos de
refugiados palestinianos no Líbano. A Jihad Islâmica foi fundada em 1988, por
Fathi Shakari, outro ex-militante da Irmandade Muçulmana egípcia, residente em Damasco. Já o Hezbolah
da Palestina, xiita, surgido no mesmo ano, está baseado no Irão, embora as suas
estruturas militares estejam localizadas no Líbano. Os principais apoios
externos destes grupos provêm do Irão e da Síria e a sua base de apoio, em
Gaza, nas mesquitas. Estes movimentos não são reconhecidos pela OLP, nem pela
Autoridade Palestiniana, embora tenham relações com o Hamas e na Cisjordânia
com a FPLP, a FPDLP e mesmo com sectores da Fatah. Não têm, no entanto, a mesma
força do Hamas, que implementado nas acções de trabalho social realizado
nas mesquitas palestinas (durante décadas Israel permitiu, por considerá-lo
inofensivo e ser um travão á posição laica, democrática e de
libertação nacional da OLP) tornou-se hegemónico em Gaza.
O
objetivo do Hamas é construir um Estado islâmico na Palestina e no
programa do movimento consta a destruição do Estado de Israel e recusou
reconhecer os acordos de Oslo e a Autoridade Nacional Palestiniana. Esta
postura inicial alterou-se com o tempo (e com a maior amplitude da base
eleitoral). A linha inicial, que incluía atentados suicidas (entre 1994 y 2004
o Hamas realizou diversos ataques suicidas, abandonando, aparentemente, esta
prática). O crescimento da organização levou ao diálogo com a OLP,
consolidando-se como alternativa eleitoral no panorama politico palestiniano.
Em
2004, Ahmed Yassin, dirigente máximo e fundador da organização morreu
durante um ataque israelita. Em 2006 o Hamas apresentou-se, pela primeira
vez nas eleições legislativas para a Autoridade Nacional Palestiniana e venceu em Gaza. Israel e USA
procuraram dividir e deslegitimar o triunfo do grupo islâmico. Com alguma
anuência da Al Fatah (organização preponderante na OLP) o governo
palestino dividiu-se em dois: o Hamas em Gaza e a OLP na Cisjordânia.
Esta divisão favoreceu a política israelita de negar a um Estado
palestiniano autónomo e democrático. No início deste ano o Hamas e
a OLP reunificaram o governo palestiniano, de transição, até novas
eleições.
A
decisão palestiniana gerou a ira do governo israelita que, poucos meses depois, iniciou a actual ofensiva contra Gaza, a mesma
intervenção que na madrugada do passado dia 18 (Agosto) vitimou, através de um
ataque aéreo, três comandantes do Hamas (Mohamed Abu Shamaleh, Raed al- Attar e
Mohamed Harhum) em Rafat. No
ataque morreram também 7 civis palestinianos, entre eles, 3 crianças.
Gaza
morre todos os dias. Renascerá das cinzas?
V - Às
tréguas sucedem-se os ataques aéreos israelitas a Gaza e os rockets
palestinianos a caírem no sul de Israel. O Hamas, nas negociações que
decorreram no Cairo
recusou-se a assinar qualquer cessar-fogo
enquanto não forem contempladas uma serie de condições que os palestinianos de
Gaza consideram fundamentais a longo-prazo, como a questão do porto de Gaza e a
reconstrução das infraestruturas escolares e hospitalares.
A
ofensiva israelita já custou a vida a cerca de 2 mil palestinianos, mil e
quinhentos dos quais eram civis e destes cerca de 500 eram crianças. Mais de
10,000 foram feridos, meio milhão de palestinianos foram desalojados e 187,000
vivem nos abrigos da ONU. 10 mil residências foram completamente destruídas e
30,000 parcialmente destruídas. A estes números dramáticos, a esta estatística
do inferno em que Gaza
se tornou, contrapõe-se os cerca de 70 soldados israelitas mortos em Gaza e
entre 3 a
5 civis mortos em Israel.
VI - As
guerras criam histeria, tornam as pessoas "superpatriotas"... Nestes
períodos o senso comum escasseia e a crítica é crime. Os discursos inflamados
de Netanyahu e dos "falcões" sionistas não conseguem travar, as
demonstrações públicas diárias contra a guerra. O centro de Telavive, durante
os protestos, torna-se palco de um conflito que atravessa a sociedade israelita
desde a sua proclamação como Estado: a construção da tolerância (sonho milenar
iniciado no Exodus e transportado para a diáspora errante) versus a destruição
da esperança (a esperança dos sobreviventes do Holocausto), levada a cabo pelos
falcões da guerra, profetas da histeria.
Do
outro lado, o Hamas, considerado terrorista por Israel e pelos USA, vê-se
a si mesmo como força libertadora e sente-se (como os seus inimigos sionistas)
senhor absoluto da verdade. Foi assim que na madrugada do dia 22 deste més
executou 18 cidadãos palestinianos acusados de colaboracionismo. Todos admitem,
hoje, que o Hamas é incontornável e que faz parte da resolução e não do
problema. E isto é tão evidente como o facto de que a solução só será possível
de esboçar quando Israel desocupar os territórios. Os
cerca de 10 mil guerrilheiros do Hamas defrontam um dos mais modernizados
exércitos do mundo. A guerra prolongada é o caminho traçado por ambos os lados.
A superioridade tecnológica do exército israelita torna esse caminho inevitável
para os palestinianos. Por outro lado a mesma superioridade tecnológica-militar
israelita tornou-se essencial para a economia israelita, que rentabilizou o
factor guerra e segurança, tirando proveito das diferentes amplitudes do
conflito, tratando-os como nichos de mercado.
Um
dos problemas básicos gerados pelas guerras reside no facto de ambas as forças
apenas dialogarem através de intermediários. Neste caso específico, Israel e o
Hamas (e a Autoridade Nacional Palestiniana, obrigatoriamente, porque é a
autoridade legitima) não discutem directamente. Os acordos de cessar-fogo, por
exemplo, são negociados pelo Egipto, que neste momento é tão inimigo do Hamas
quanto Israel. Ao surgir como negociador, mediando o conflito, o papel do
Egipto é, no mínimo suspeito aos olhos do Hamas. Isto para não falar da
mediação norte-americana, que é ridícula aos olhos de todos os que demonstrem
um mínimo de bom senso, ou tenham, pelo menos dois dedos de testa. Obama
repete, como um papagaio, tudo o que os falcões sionistas propagandeiam e
quanto a Kerry é preferível nem referir (é, sem duvida, uma prova do triunfo da
mediocridade). Assim, não existem mediadores credíveis. Quanto muito os USA
poderão aconselhar Israel e disponibilizar "logística comunicativa" e
o Egipto, em função do seu posicionamento geo-histórico e do relacionamento que
mantem com Israel e com a resistência palestiniana poderá realizar um papel de
"vaso comunicante".
É
evidente que o Hamas
sente-se desconfortável no Cairo a negociar
tréguas através do Egipto, para mais não sendo o Egipto um Estado amigável para
o Hamas (em relação a Gaza os egípcios entendem-se mais facilmente com os
israelitas do que com o Hamas). Israel, o Hamas e a Autoridade Nacional
Palestiniana têm de falar directamente, sem intermediários e esta é a única
forma de Washington e Cairo não serem parte do problema - já de si demasiado
complexo - entre Telavive e a Palestina (da qual Gaza é parte, não devendo o
Hamas esquecer que a legitimidade da Autoridade Palestiniana é nacional).
Habitam
cerca de 2 milhões de palestinianos na faixa de Gaza, um pequeno território de 500 quilómetros
quadrados (50km x 10km). Quatro almas por metro quadrado de terreno
bombardeado, de terra queimada, de ruinas, dramas e tragédia, de 8 anos de
bloqueio, com todas as fronteiras fechadas, incluindo a marítima e onde nada é obtido sem a permissão de Israel.
O
actual governo israelita
representa a extrema-direita sionista e
contem sectores abertamente fascistas. Os territórios ocupados constituem 22%
da Palestina histórica. Sem a desocupação não será possível existir paz, mas
esse não é um objectivo de largos sectores das elites sionistas. Conservadores,
liberais e trabalhistas não diferem neste (e noutros) pontos e as suas vozes
podem-se misturar, num grande coro, com as da extrema-direita, por isso esta
surgir em quase todas as coligações, seja através das facções ultranacionalistas
(fascistas judaicos), seja pelos partidos religiosos teocráticos. É de Israel
que terá de sair o percurso da paz e esse caminho inicia-se com propostas
concretas de desocupação. Até lá, só resta aos palestinianos o trilho da
luta...
VII - A
recusa do governo israelita em alcançar um acordo com a Autoridade Palestiniana
e com o Hamas (que lidera a força popular em Gaza) prolongará por tempo
indeterminado a actual situação. O lançamento de rockets foi a desculpa
perfeita para continuar com este assédio que o Estado de Israel exerce
sobre Gaza desde
2005. Enquanto em Gaza a destruição continua, na Cisjordânia os
protestos descem às ruas e os manifestantes (jovens, na sua maioria) confrontam
a polícia e o exército israelita, o que já originou a morte de 11 manifestantes
e de centenas de feridos e detidos. Por toda a Cisjordânia são organizados
comités populares de solidariedade com Gaza, embora a ANP oponha-se a este tipo
de organização popular. Mas a posição da ANP não é entendida por largos
sectores da população, que decidiram sair às ruas. Assim, em Ramallah, mais de
15.000 pessoas manifestaram-se nas ruas. A manifestação terminou em confrontos
com a polícia que originaram um morto e mais de 300 feridos.
Também
em Telavive decorrem manifestações contra a guerra, organizadas pelos Combatentes
para a Paz, pela Coligação de Mulheres pela Paz e outros grupos, organizações,
partidos e sindicatos. Estes protestos têm terminado em
confrontos com
militantes de extrema-direita.
Do lado israelita um factor fundamental que
prepara e manipula a população para a guerra é a
propaganda. A máquina de propaganda sionista
nunca deixa de
trabalhar e tem sempre combustível
para manter-se activa. A situação actual de nula tolerância dificulta a
resistência á
guerra. A maioria dos
israelitas, de
facto não discordam do governo e da política da direita em relação a Gaza e da
estratégia governamental de aniquilar o Hamas.
Os
israelitas não têm, na sua maioria, informação real nem imagens sobre Gaza nos
principais órgãos
de comunicação social. O que sabem sobre o Hamas é unicamente o que a
propaganda governamental diz e um outro clip de poucos segundos
explicando que
militantes do Hamas foram localizados disparando
desde hospitais e colégios. Há pouco espaço
para a compaixão e a maioria das pessoas não está preocupada com o massacre em Gaza. A reacção nas redes
sociais é demonstrativa dessa indiferença. Nas ruas a propaganda de apoio aos
"valentes soldados" e a população organiza envios de comida e víveres
para a
"linha
da frente".
A
propaganda esconde diversas realidades da sociedade israelita. Uma delas é a
indústria militar e o negócio de segurança, sectores complementares e com a
mesma origem de capital. O mercado bélico é uma das principais fontes de
rendimento do país, principalmente o sector de exportação. Algumas das empresas
maiores deste mercado são israelitas, como a IMI e a R.A.D.S. O principal apoio
que Israel recebe nesta guerra vem do
governo dos Estados Unidos na forma de ajuda militar. É habitual o comércio de armas entre ambos os países mas nesta guerra
o Estado
israelita
recebe ainda uma ajuda de emergência. Mas para lá destes apoios (muitos deles
não passam de retornos devidos pelos USA), está um outro elemento deste
negócio: o teste. Armas, equipamentos, munições e sistemas são experimentados
em situação real, podendo desta forma serem optimizados a um custo mais baixo e
de forma rápida e com mais eficácia.
Gaza, caros amigos, não é apenas um cenário
de um drama...é também um banco de ensaio...
E
em relação á solidariedade árabe? Qual a razão do silêncio, ou do murmúrio dos
estados árabes, perante este genocídio? Quais os motivos para que o mundo árabe
não conteste os
ataques que os palestinianos sofrem?
Sem dúvida que
actualmente os
conflitos que afectam a Síria e o Iraque, a
instabilidade no Líbano, as heranças das Primaveras no Norte de África (Tunísia
e Egipto e fragmentação da Líbia) contribui em muito para este muro murmurante e tímido. Gaza não é uma
prioridade. Também nem toda a sociedade árabe
apoia automática e necessariamente a causa
palestiniana como a
sociedade "ocidental" (e o seu
conceito retrógrado de "choque das civilizações") esperaria.
Não se deve
esperar demasiadas mostras de solidariedade, por
exemplo, do Egipto ou da Síria, quando estes
países atravessam um período crucial da sua História. Por outro lado o
conceito solidariedade parece ser inexistente nos Estados do Golfo, substituído
por conceitos produtores de petrodólares.
Um
facto da dinâmica interna israelita é evidente: Com este novo ataque estamos
assistindo á ascensão dos
movimentos racistas e fascistas em Israel. O racismo
fortalece-se a cada dia, nas instituições e nas ruas. Casos como o homicídio de
Mohammad abu-Hadid, um adolescente de 16 anos, do bairro de Shu'afat
(Jerusalém) que foi sequestrado e queimado vivo por três jovens israelitas no
passado mês de Junho, são casos que pertencem ao quotidiano de violência gerada
pela ocupação.
A ascensão da extrema- direita aglutina
muita gente que habitualmente não é o tipo de pessoa que apoia esta política,
mas que, em tempo de guerra e/ou de crise, é atraída por esse tipo de discurso
onomatopaico. E este é um aspecto primordial (e uma consequência do controlo de
massas e da sociedade. É o medo, que transforma-se numa necessidade irreal de
"segurança", que é o primeiro aliado do totalitarismo e o governo
israelita joga com esta
ferramenta para ter um controlo absoluto
sobre a sociedade. O medo é usado de uma forma muito eficaz pelo aparelho do
Estado sionista. Por um lado permitem a liberdade de expressão e de protesto
mas por outro querem que estas estejam submetidas a apertado controlo.
Existe
uma lei excepcional (que entra em vigor sempre que o estado de emergência
é proclamado) que limita o direito de manifestação se esta superar mil pessoas.
Outras leis limitam a divulgação de informação e de opinião. Ora, num país como
Israel, onde o Estado de excepção é quase a norma, as liberdades civis ficam
bastante limitadas. A segurança é, assim, o elemento sobre o qual assenta a
manipulação.
O
sionismo, transformado em nacionalismo resulta numa prática colonialista e no
principal agente do imperialismo na região (sendo os Estados do Golfo os
policias locais. Como nacionalismo o sionismo permite a mobilização dos
diversos sectores da sociedade israelita, na tentativa de superar o conflito
social interno. Como colonialismo, o sionismo, transforma-se numa prática
racista, que cultiva a "superioridade" do "Povo Eleito" e o
seu "direito" á expansão territorial. Como Estado agenciado, Israel
cumpre a sua função de vigilante ao serviço do imperialismo norte-americano.
Este
posicionamento tem um custo económico. Viver em Israel é caro, principalmente
em Telavive
ou Jerusalém. Os salários são baixos embora
o desemprego, segundo os dados oficiais, não seja alto. O sistema de segurança
social
está
numa situação catastrófica e os níveis de pobreza na sociedade israelita são os
mais altos de sempre. Foi neste cenário que ocorreram os protestos sociais em
2011, mobilizando mais de meio milhão de manifestantes em Telavive. Terminou
em nada. A guerra e o discurso nacionalista são travesseiros irresistíveis...
VIII - No
dia 23 foram contabilizados 11 mortos em Gaza, em consequência dos raides
aéreos israelitas. Na noite de 23 para 24 foi destruído um prédio. Os
apartamentos são, agora, escombros, vestígios de espaços habitados...no dia 23
Netanyahu avisa os residentes palestinianos das áreas próximas às instalações
do Hamas, para as abandonarem...os dirigentes egípcios apelam para um
cessar-fogo...E Gaza arde...
Notas:
Visão,
nº 93, Dezembro, 29, 1994
The
International Status of Palestinian People United Nations, New York, 1981
Courrier
International, Jan. 17, 2002
Harris,
N. Israel and Arabe nations in conflict Vaughan, Austin, 1999
Smith,
C.D. Palestine and the Arabe/Israel conflict Bedford Ed. Boston, 2001
Lukacs,
Y. The israeli/palestinian conflict, a documentary record 1967-1990 Cambridge
University Press, Cambridge, 1992
Africa
Analysis, July, 1987
L'Histoire,
Fev. 1993
Geopolitique,
nº 7, Oct. 1984.
Rinascita,
nº 36, Sep. 20, 1986
Nouvel
Observateur, Fev. 19, 1979
Nouvel
Observateur, Oct. 16, 1978
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