segunda-feira, 4 de agosto de 2014

BES: A SITUAÇÃO É CATASTRÓFICA MAS NÃO É GRAVE



Ana Sá Lopes – jornal i, editorial

Já não deve sobrar um português que não seja da família Costa para elogiar o BdP

A avaliar por aquilo que se passou durante um mês inteiro, é de supor que Carlos Costa e Vítor Bento tenham passado as últimas semanas a trocar as mesmas mensagens que, segundo a famosa anedota do tempo da Segunda Guerra, eram enviadas entre os quartéis-generais da Alemanha e da Áustria, já à beira da derrota. O estado-maior do Banco de Portugal passou o mês de Julho inteiro a informar que “a situação é catastrófica, mas não é grave” à qual o novo estado-maior do BES respondeu que “a situação é grave, mas não catastrófica”.

Dois exércitos paralisados durante demasiado tempo, até ontem, enquanto o BES se desfazia aos pedaços. Já não deve sobrar um português que não seja da família Costa para elogiar o papel do Banco de Portugal nesta altura dos acontecimentos.

A obsessão em separar o Grupo Espírito Santo do Banco Espírito Santo poderia ter boas razões, mas era uma escolha com um enorme problema: não tinha qualquer adesão à realidade e não era preciso ser-se um especialista para se perceber isso. Há um mês, a 3 de Julho, o Banco de Portugal declarava: “a situação de solvabilidade do BES é sólida, tendo sido significativamente reforçada com o recente aumento de capital” e elogiava o seu papel, garantindo que o Banco de Portugal “tem vindo a adoptar um conjunto de acções de supervisão, traduzidas em determinações específicas dirigidas à ESFG e ao BES, para evitar riscos de contágio ao banco resultantes do ramo não-financeiro do GES”. Foi um sucesso.

No dia 11 de Julho, Carlos Costa prosseguia a sua tarefa de “tranquilizar” o país: “O BES detém um montante de capital suficiente para acomodar eventuais impactos negativos”. Claro que tudo era feito com base na famosa auditoria que não serviu para nada – nem poderia servir, como os próprios auditores se encarregaram de vir dizer – e que nos vai fazer deixar de confiar em qualquer coisa que tenha passado por um “auditor”. E, evidentemente, por um “regulador”.

A verdade é que António José Seguro foi ao Banco de Portugal e saiu de lá tranquilo; o Presidente da República interrompeu uma viagem à Coreia do Sul para lembrar que estava tranquilo, uma vez que o  “Banco de Portugal tem sido peremptório, categórico, a afirmar que os portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo”,  “dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem à parte não financeira, mesmo na situação mais adversa”. A situação era catastrófica e grave e por agora vai ser paga pelos do costume.

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