Ana
Sá Lopes – jornal i, editorial
Já
não deve sobrar um português que não seja da família Costa para elogiar o BdP
A
avaliar por aquilo que se passou durante um mês inteiro, é de supor que Carlos
Costa e Vítor Bento tenham passado as últimas semanas a trocar as mesmas
mensagens que, segundo a famosa anedota do tempo da Segunda Guerra, eram
enviadas entre os quartéis-generais da Alemanha e da Áustria, já à beira da
derrota. O estado-maior do Banco de Portugal passou o mês de Julho inteiro a
informar que “a situação é catastrófica, mas não é grave” à qual o novo
estado-maior do BES respondeu que “a situação é grave, mas não catastrófica”.
Dois
exércitos paralisados durante demasiado tempo, até ontem, enquanto o BES se
desfazia aos pedaços. Já não deve sobrar um português que não seja da família
Costa para elogiar o papel do Banco de Portugal nesta altura dos
acontecimentos.
A
obsessão em separar o Grupo Espírito Santo do Banco Espírito Santo poderia ter
boas razões, mas era uma escolha com um enorme problema: não tinha qualquer
adesão à realidade e não era preciso ser-se um especialista para se perceber
isso. Há um mês, a 3 de Julho, o Banco de Portugal declarava: “a situação de solvabilidade
do BES é sólida, tendo sido significativamente reforçada com o recente aumento
de capital” e elogiava o seu papel, garantindo que o Banco de Portugal “tem
vindo a adoptar um conjunto de acções de supervisão, traduzidas em
determinações específicas dirigidas à ESFG e ao BES, para evitar riscos de
contágio ao banco resultantes do ramo não-financeiro do GES”. Foi um sucesso.
No
dia 11 de Julho, Carlos Costa prosseguia a sua tarefa de “tranquilizar” o país:
“O BES detém um montante de capital suficiente para acomodar eventuais impactos
negativos”. Claro que tudo era feito com base na famosa auditoria que não serviu
para nada – nem poderia servir, como os próprios auditores se encarregaram de
vir dizer – e que nos vai fazer deixar de confiar em qualquer coisa que tenha
passado por um “auditor”. E, evidentemente, por um “regulador”.
A
verdade é que António José Seguro foi ao Banco de Portugal e saiu de lá
tranquilo; o Presidente da República interrompeu uma viagem à Coreia do Sul
para lembrar que estava tranquilo, uma vez que o “Banco de Portugal tem
sido peremptório, categórico, a afirmar que os portugueses podem confiar no
Banco Espírito Santo”, “dado que as folgas de capital são mais do que
suficientes para cobrir a exposição que o banco tem à parte não financeira,
mesmo na situação mais adversa”. A situação era catastrófica e grave e por
agora vai ser paga pelos do costume.
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