Alfredo
Prado - África 21, opinião, em Cartas de Brasília
Eduardo
Campos era um político de uma geração que se começa a abrir à modernização do
Brasil e da política nacional, ciente de que o progresso e o desenvolvimento
exigem justiça social e uma nova maneira de fazer e de estar na política. Uma
geração capaz de ouvir e interpretar, pelo menos em parte, os clamores dos
protestos populares.
Eduardo
Campos deixou os brasileiros aos 49 anos. Foi uma morte prematura e não
anunciada. Um acidente aéreo, cujas causas, além do mau tempo que fustigava o
litoral de Santos na manhã de quarta-feira, 13 de agosto, ainda estão por
descobrir e revelar. Com ele perderam a vida quatro assessores e os dois
pilotos do jato executivo, cuja confiabilidade tecnológica é respeitada nos
meios da aviação comercial.
Eduardo
Campos era um político de uma geração que se começa a abrir à modernização do
Brasil e da política nacional, ciente de que o progresso e o desenvolvimento
exigem justiça social e uma nova maneira de fazer e de estar na política. Uma
geração capaz de ouvir e interpretar, pelo menos em parte, os clamores dos
protestos populares.
Do
seu avô, Miguel Arraes, também ele governador de Pernambuco, homem de esquerda,
empenhado em grandes lutas sociais, marcado, é certo, pelo tradicionalismo
nordestino, perseguido pela ditadura militar, Eduardo herdou um Partido
Socialista que quer crescer e alargar as fronteiras regionais a que tem estado
confinado.
A
morte do político nordestino, em plena campanha eleitoral, apanhou o país
desprevenido. Colocado na terceira posição nas pesquisas de intenção de
voto dos eleitores, atrás da petista Dilma Rousseff, que disputa a reeleição, e
do socialdemocrata Aécio Neves, do PSDB, Campos, o pernambucano que queria dar
uma nova cara à política brasileira, lançou-se na campanha com ímpeto de
vencedor, acompanhado pela ex-senadora e ministra Marina Silva.
Ainda
que a sua vitória na corrida ao Palácio do Planalto se mostrasse distante, ele
seria, provavelmente, o candidato-chave para a decisão eleitoral, que
possivelmente só será decidida num segundo turno, no início de novembro.
O
súbito desaparecimento do líder do PSB, torna ainda mais difícil qualquer
previsão sobre o desfecho da campanha. Poucas horas após a sua morte, num
ambiente geral de consternação, as lideranças políticas começam a avaliar
discretamente que rumos darão às suas campanhas.
A
legislação diz que o partido ou coligação que perca o seu candidato tem dez
dias para indicar outro nome. Passado o luto imediato, a luta política
irá ganhar novos contornos. O PSB terá de decidir quem irá disputar o Palácio
do Planalto. Se Marina Silva, filiada ao partido no ano passado, ou se
procurará outra figura.
Uma
decisão em que não deixarão de pesar os 20 milhões de votos obtidos por Marina
nas presidenciais de 2010. E o PT, de Dilma e de Lula, provavelmente terá de
adequar a sua campanha ao perfil do adversário socialista que for anunciado. O
mesmo desafio será colocado a Aécio Neves, que mantinha com Campos uma relação
de cordial entendimento que deixava adivinhar eventual apoio mútuo num segundo
turno, o que dificultaria seriamente a possibilidade de Dilma Rousseff se
manter por mais quatro anos em Brasília, dado o elevado índice de rejeição que
enfrenta.
A
morte não anunciada de Eduardo Campos pode alterar, muito, os rumos da
campanha, sobretudo para Dilma e para Aécio. Uma morte que lançou, numa
quarta-feira chuvosa, numa cidade de beira-mar, um manto de tristeza sobre o
Brasil.
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