quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Moçambique: Criada base de confiança para Dhlakama sair das matas de Gorongosa




Leia da Amnistia: “O Estado deverá encontrar formas de compensar aquelas pessoas que foram vítimas dos ataques”, alerta Custódio Duma, presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos 

“Aceitámos tudo, incluindo amnistia para crimes de guerra. Não queríamos olhar para o passado; não pedimos nem vingança, nem a verdade. Conhecíamos a verdade, mas exigir ouvi-la em julgamentos oficiais teria obstruído o processo, e o acordo de paz nunca seria assinado”. O emocionante comentário é de uma mulher que viveu a guerra dos 16 anos entrevistada por Lucia van den Bergh, no livro “Porquê a paz prevaleceu - moçambicanos respondem”.

Representante da AWEPA (Associação de Parlamentares Europeus com África) em Moçambique entre 1992 e 1998, a autora procura compreender o “sucesso” da paz em Moçambique. Um sucesso interrompido no vigésimo aniversário. Na verdade, foi a partir de 2012 que as hostilidades retornaram no país, com os mesmos beligerantes de há duas décadas.

Enquanto os confrontos militares decorriam em alguns pontos do país, as delegações do Governo e da Renamo procuravam alcançar consensos. Não em Roma, mas em Maputo, no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano. Sem mediadores e observadores internacionais. O acordo foi finalmente alcançado, depois de cerca de 70 rondas de diálogo político. E na noite desta terça-feira, a Assembleia da República aprovou, por consenso e aclamação, a lei de amnistia.

Na noite da amnistia não faltaram abraços entre os deputados da Frelimo e da Renamo. A sessão nocturna mais longa da nona legislatura terminou em festa. Tal como a entrevistada de Lucia Bergh, ninguém questionava a amnistia, ninguém queria olhar para o passado. O poder legislativo tinha votado pelo esquecimento dos crimes de guerra. Tal como procedera em 1992, através da Lei nº 15/92, de 4 de Outubro.

O professor Lourenço do Rosário considera a amnistia um instrumento fundamental para a criação de uma base de confiança e tranquilidade, “depois de um processo extremamente doloroso da quebra de paz e tranquilidade no país”. Com créditos nos corredores da Renamo e da Frelimo, o académico foi fundamental na aproximação das partes, muito antes de ser observador do diálogo político. “Foi importante que a Assembleia da República anuísse a proposta do Chefe de Estado, no sentido de aprovar o mais rapidamente a lei de Amnistia. Assim, julgo que não há nenhum impedimento para o presidente da Renamo sair das matas e vir encontrar o Presidente da República para assinar os papéis”, disse em declarações ao jornal “O País”. O juiz jubilado do Tribunal Supremo também comentou a aprovação da lei de amnistia, afirmando que a esperança é que os actores políticos tenham aprendido a lição e se esforcem, daqui para a frente, por manter uma paz efectiva e duradoira.

Em 1992, o Parlamento amnistiou os crimes cometidos contra a segurança do povo e do Estado popular, previstos pela Lei nº 2/79, de 1 de março, e na lei nº 1/83, de 16 de março, os crimes contra a segurança do Estado, previstos na Lei nº 17/87, de 21 de Dezembro, e ainda aqueles cujo procedimento criminal não tenha sido instaurado até 1 de Julho de 1988.

O País (mz)

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