sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Portugal: ADMINISTRAÇÃO DO BES NÃO FOI EXTINTA



Isabel Tavares – jornal i, opinião

Todos os dias há depositantes a fechar contas no banco tansitório porque a informação é considerada pouca e pouco fiável

Os administradores do velho Banco Espírito Santo, executivos e não executivos, não receberam até hoje qualquer carta ou comunicado oficial do Banco de Portugal ou do Ministério das Finanças a informar sobre o que se está a passar na instituição, inclusive ao nível da sua representação, das suas contas pessoais ou do banco onde passaram a figurar.

O Banco de Portugal cindiu o BES e distribuiu activos a seu bel-prazer por duas entidades, o banco histórico (BES) e o banco transitório (Novo Banco), nomeando novos conselhos de administração mas sem nunca extinguir formalmente o que já existia no BES, além dos administradores que já tinham sido afastados - Ricardo Salgado e Morais Pires, primeiro, Joaquim Goes, António Souto e Rui Silveira, mais tarde.

Mais recentemente, o Banco de Portugal nomeou um conselho de administração para o BES, o banco mau, tendo como presidente Luís Máximo dos Santos e como vogais César Nunes de Brito e Miguel Alçada, bem como uma comissão de fiscalização. Mas há uma diferença entre a ficção e a realidade.

O Banco de Portugal ainda não revogou a autorização para o exercício de actividade do velho BES que, de momento, e desde segunda-feira, está temporariamente dispensado de observar as normas prudenciais e de cumprimento das obrigações anteriormente contraídas. Isto porque a parcela mais significativa da sua actividade e património foram transferidas para o Novo Banco, que deixou o BES sem condições de exercer a sua actividade de forma autónoma e normal.

O BOM, O MAU E O PÉSSIMO 

Os activos que estão no banco mau, a instituição primitiva, o velho BES, serão, em princípio, para transformar em massa falida. Em princípio, porque nesta história nada é definitivo.

O Banco de Portugal já veio dizer que existem activos que podem transitar de uma instituição para outra, BES para Novo Banco e vice-versa. O que muitos questionam é a arbitrariedade dos critérios. O que fica num e noutro lado é, aliás, um dos pontos que tem estado a suscitar mais dúvidas. Só a DECO - Associação de Defesa do Consumidor recebeu até meio da semana 1030 pedidos de ajuda, quase todos sobre este aspecto. O i sabe que é aliás esta desconfiança que está a levar muitos depositantes a retirarem o seu dinheiro do banco e a abrirem conta na concorrência, prejudicando seriamente o futuro da instituição.

Uma vez revogada a licença do BES, "essa decisão produzirá os efeitos da declaração de insolvência que originará, por sua vez, um processo de liquidação judicial do Banco Espírito Santo", diz o BdP.

É por isso que administradores e familiares cujas contas ficaram imobilizadas no BES, e que poderão vir a juntar-se à massa insolvente, já entregaram cartas à administração do banco a provar a origem do dinheiro que lá têm depositado, uma vez que a lei prevê que possam ser analisadas caso a caso.

Vários escritórios de advogados confirmaram ao i que em Setembro haverá uma enchente de processos a dar entrada nos tribunais administrativos e comuns. No primeiro caso providências cautelares contra o Banco de Portugal, no segundo acções contra o BES e o Novo Banco. A Comissão do Mercados de Valores Mobiliários e o Ministério das Finanças também não deverão ser poupados.

Foto: Eduardo Martins

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