Abdoulaye
Bah - Global Voices (*) – Opera Mundi – cartun de Carlos Latuff
Ignorância
sobre como doença se espalha faz com que sobreviventes sejam estigmatizados;
pessoas de origem africana enfrentam discriminação no exterior
A
que tem sido descrita como a
pior epidemia do ebola no mundo está trazendo o pior de algumas
pessoas nos países afetados e ao redor do mundo.
A
ignorância sobre como a doença se espalha faz com que sobreviventes estejam
sendo estigmatizados em casa, enquanto pessoas de origem africana enfrentam
discriminação no exterior. Conforme países vizinhos aos afetados fecham suas
fronteiras, os trabalhadores sofrem consequências econômicas. Sem uma cura
médica confirmada para o ebola, vigaristas estão vendendo suas supostas curas
para pessoas desesperadas.
Desde
o final de junho, o número
de casos do ebola confirmados na África ocidental mais que
quadruplicou, de 567 para 2615, de acordo com os últimos
dados da Organização Mundial da Saúde. Um pouco mais da metade das
pessoas que contraíram a doença, 1427 pessoas, morreram.
O
blogueiro Boubacar Sanso Barry, no site de língua francesa Guinée Conakry Info descreveu a
abordagem adotada por cada um dos países que fazem parte do esforço para conter
a epidemia:
“Como
resposta à nova epidemia do vírus ebola na África ocidental, os países estão
adotando abordagens diferentes. Na Guiné, apesar das últimas estatísticas
alarmantes, as autoridades continuam tentando manter a doença em perspectiva,
enquanto na Libéria e em
Serra Leoa , o Exército e forças de segurança foram
literalmente requisitados para enfrentar o inimigo. No primeiro caso, pode-se
dizer que o problema está sendo subestimado, mas, no segundo, pareceque as
medidas tomadas pelas autoridades na Libéria e em Serra Leoa estão fora
de proporção, e contribuem para a sensação geral de pânico.”
A
ignorância sobre a doença está ainda difundida. A ONG local da Guiné Centro
Comunitário para o Desenvolvimento Educacional (Centre
communautaire pour le développement de l’éducation ou CECODE, em francês) conduziu uma
pesquisa de opinião em um distrito de Conacri, na Guiné, que registrou
mais de 600 casos de ebola, para avaliar o conhecimento da população sobre a
doença. Em resposta à pergunta: “O que a epidemia do ebola significa para
você?”:
“Mais
de 72% das pessoas entrevistadas consideram que a doença é ‘perigosa,
contagiosa, séria e mortal’. Entretanto, 24% dos pesquisados dizem que a
epidemia do ebola não significa nada para eles, enquanto 4% das pessoas
continuam confusas.
Os
comentários a seguir foram observados:
-
“A epidemia do ebola não existe. Eu não acredito no que as pessoas estão
dizendo”.
- “Essa doença não significa nada para mim porque eu não entendo nada sobre ela”.
- “Eu não tenho certeza se essa doença existe”.
- “Estou ansioso sobre ir a um hospital. Tenho medo”.
- “Eu não entendo nada sobre essa doença”.
- “É uma punição de Deus”.
- “É uma causa de preocupação”.
- “É para proteger os interesses do governo”
- “Eu vi pessoas na TV usando máscaras, para cuidar da população, ou é o que dizem”.
- “Eu não quero falar sobre isso”.
- “Um adulto me disse que essa doença não vem da floresta – se vier, nós todos vamos morrer”.
- “Uma punição divina”.
- “Essa doença não significa nada para mim porque eu não entendo nada sobre ela”.
- “Eu não tenho certeza se essa doença existe”.
- “Estou ansioso sobre ir a um hospital. Tenho medo”.
- “Eu não entendo nada sobre essa doença”.
- “É uma punição de Deus”.
- “É uma causa de preocupação”.
- “É para proteger os interesses do governo”
- “Eu vi pessoas na TV usando máscaras, para cuidar da população, ou é o que dizem”.
- “Eu não quero falar sobre isso”.
- “Um adulto me disse que essa doença não vem da floresta – se vier, nós todos vamos morrer”.
- “Uma punição divina”.
No
dia 17 de agosto, na Libéria, o país que foi mais severamente afetado, um
grupo de homens armados com facas e tacos, gritando não há ebola no
país, atacaram um centro de quarentena montado em uma escola em West Point , um subúrbio
de Monróvia, fazendo com que os pacientes fugissem. Foi somente no dia 20 de
agosto que 17 dos
pacientes que fugiram foram encontrados e transferidos para o novo
centro de tratamento recém-instalado no hospital John F. Kennedy, na capital.
Internacionalmente,
cidadãos desses países estão sendo colocados sob uma crescentemente rigorosa
quarentena, com fronteiras sendo fechadas e a maioria das companhias
aéreas suspendendo voos para os países afetados. As famílias de
diplomatas nesses países estão sendo repatriadas, conferências internacionais
foram canceladas e eventos esportivos realocados.
Entretanto, um
artigo publicado no Resistance Authentique, um blog francês que
coleta “trend topics” [temas mais falados nas redes sociais], refletiu a
opinião de muitos especialistas:
“O
vírus é transmitido pelo contato direto com fluído corporal, tal como sangue,
fezes ou vômito. Não há transmissão pelo ar. Em outras palavras (ao contrário
do que pode ser lido por aí) o vírus ebola não se espalha pelo ar por uma
pessoa falando ou tossindo”.
Longe
da área afetada, o medo levou pessoas a recorrerem a medidas com segundas
intenções mal escondidas. Na Coreia do Sul, por exemplo, um pub colocou o aviso
mostrado nessa foto,publicada
no Twitter e no MediaEqualizer, um site dos Estados Unidos de
observatório dos meios de comunicação. Cerca de 800 comentários de leitores
respondendo a ela ofereceram um vislumbre da visão negativa que muitos coreanos
têm dos africanos.
“Nós
nos desculpamos, mas, por causa do vírus ebola nós não estamos aceitando
africanos no momento”. O aviso foi colocado na entrada do JR Pub em Seul.
Um
leitor chamado Raptor escreveu um comentário no fórum Instinct de Survie
(Instinto de Sobrevivência), uma plataforma pra proponentes de softwares
livres, dando
um contexto para a epidemia:
“O
exemplo que eu sempre uso é esse: a gripe sazonal causa entre 1500 e 2000 mil
mortes todos os anos no nosso país. Eu não quero fazer comparações, mas eu
estou tentando colocar as coisas em perspectiva.
Semelhantemente , durante o terremoto no Haiti, nós vimos
epidemias de praga, cólera e tuberculose. Entretanto, o impacto internacional
não foi muito notado. Com quase 700 mortes (no momento do post), nós estamos
ainda muito longe de alcançar a escala das doenças que nos afetaram no passado
(a peste negra, a gripe espanhola, entre outras).
Por
essa razão, quando eu vejo artigos usando frases tais como “totalmente fora de
controle” ou “epidemia sem precedentes”, me faz pensar se os meios de
comunicação estão recorrendo ao sensacionalismo em vez de informações reais. O
influxo de imigrantes regulares introduz coisas que nunca foram vistas antes na
nossa parte do mundo e, mesmo assim, nós não estamos constantemente publicando
crises de saúde.”
Quando
países vizinhos fecham as fronteiras, ou mesmo apenas introduzem requerimentos
de entrada mais rigorosos, provocam vários
problemas econômicos sérios, especialmente para o comércio da fronteira. O
site de notícias Actu224, da Guiné, postou os comentários de um oficial do
sindicato de condutores de caminhões na fronteira de Guiné-Mali:
“Muitos
malianos já abandonaram a estrada entre Bamako e Conakri por causa das
suspeitas e incertezas que cercam a doença. Como você pode ver, a estação está
cheia de veículos vazios. Os poucos que conseguem sair durante o dia estão
lutando para encontrar clientes suficientes.
Infelizmente,
com a pandemia do ebola, os malianos estão cada vez mais relutantes em ir para
o interior da Guiné, apesar de as pessoas de lá ainda estarem frequentando
feiras semanais em Mali”.
Enquanto
esforços internacionais estão enviando para os países afetados todo tipo de
ajuda, incluindo equipamento médico, dinheiro e vacinas que não estão ainda
comercialmente disponíveis, líderes
religiosos têm organizado sermões para sensibilizar o público e ajudar
as pessoas a terem um entendimento melhor do que os trabalhadores da saúde
estão fazendo.
O
altamente controverso pastor nigeriano e milionário, TB Joshua, por sua vez,
diz que uma água benta que ele desenvolveu pode curar pacientes que sofrem com
o vírus ebola. Ele
mandou 4 mil garrafas dessa água em seu próprio jato privativo para
ajudar Sierra Leoa.
*Texto
traduzido do inglês por Kelly Cristina e publicado originalmente no site Global
Voices.
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