Verdade (mz) - Editorial
A
obtenção de um emprego digno, sobretudo o primeiro, é o sonho que move muitos
compatriotas a travarem batalhas titânicas com vista a conseguirem uma vaga na
Administração Pública. Porém, o mesmo cidadão, quando passa de desempregado
para empregado, envereda pela preguiça, desatenção, indiferença e pelo
desleixo, em relação às suas tarefas. Esta é a realidade que se vive no posto
administrativo de Anchilo, no distrito de Nampula-Rapale, onde os profissionais
da Saúde, afectos ao Centro de Saúde de Anchilo, deixam desavergonhadamente os
doentes que apresentam sintomas de VIH/SIDA e tuberculose, internados naquela
unidade sanitária, à sua própria sorte.
Estas
cenas dramáticas repetem-se diariamente um pouco por todas as unidades
sanitárias moçambicanas, quando a população procura pela assistência médica. E
ao que tudo indica, as coisas andam aos papéis em Anchilo reivindicando o
restabelecimento da ordem antes que a desídia e a incúria tomem conta de todo o
sistema local.
Esta
é uma das provas cabais de que as acções que atentam contra os princípios de
prestação de serviços públicos continuam a uma velocidade de bradar aos céus
nos distritos, onde o acesso à informação de utilidade colectiva é ainda
incipiente ou mesmo uma utopia. Certos funcionários consideram o que fazem em
prol da população um favor cujo direito de gozo carece, previamente, de uma
súplica.
Sabemos
de que o acesso à saúde e educação, por exemplo, é ainda das piores nos
distritos, mas deixar um doente quase na fase terminal a rogar atendimento é
completamente espantoso e inexplicável. Na verdade, isto acontece também nos
centros urbanos, mas no campo tende a ser sistemático os funcionários públicos
agirem conforme lhes apraz. É desumano e imoral deixar um enfermo debilitado
por tuberculose, SIDA ou qualquer outra doença sem a assistência necessária.
“Com
muita tristeza, ainda nos chegam, por todo o país, algumas queixas de mau
atendimento, falta de respeito, falta de cortesia, falta de zelo, falta de
sensibilidade (…)”, palavras do ministro da Saúde, Alexandre Manguele,
proferidas há meses, reconhecendo o facto.
Sabemos
que as cidades e as comunidades cresceram e, consequentemente, a procura pelos
serviços de Saúde disparou em flecha mas esta situação não retira de nenhuma
forma a legitimidade de os pacientes serem tratados com respeito e dedicação.
Há falta de médicos em todos os hospitais públicos do país e nos distritos a
situação é gritante, o que concorre para a depravação do atendimento, mas isso
não dá, a nenhum profissional da Saúde, o direito de abandonar um doente para
tratar de assuntos particulares tal como acontece em Anchilo.
A
história reza que não foi há muito tempo que o Centro de Saúde de Anchilo foi
considerado uma das melhores unidades sanitárias da província de Nampula. Deste
modo, é preciso expurgar dela todo um punhado de gente que sem nenhuma piedade
deixa doentes em estado crítico dias a fio sem socorro. Profissionais com mente
tacanha constituem um perigo para os enfermos e toda uma sociedade. Eles são um
verdadeiro estorvo ao bem-estar social, ao progresso e é forçoso que sejam
depositados num “caixote de lixo”.
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