sexta-feira, 12 de setembro de 2014

VIOLÊNCIA NA CAMPANHA ELEITORAL EM MOÇAMBIQUE



Notícias (mz) - editorial

Faz este domingo duas semanas desde que iniciou a campanha para as eleições gerais de 15 de Outubro próximo. A campanha eleitoral é um exercício já familiar para os moçambicanos, que convivem com ela desde o primeiro sufrágio geral realizado em 1994 e nas sucessivas eleições autárquicas que o país organiza desde 1998.

Trata-se, por assim dizer, de uma festa que os moçambicanos já conhecem e que se vêm empenhando em melhorar a cada ano. Não é por acaso que a decorrente campanha eleitoral iniciou num ambiente ordeiro e cordial, com os candidatos e partidos políticos preocupados apenas em trabalhar na disseminação da sua mensagem eleitoral.

Os primeiros relatos sobre a campanha, que nos chegaram de vários pontos do país, confirmaram este ambiente, com os actores a comportar-se à altura e com respeito à lei e às diferenças políticas, fundamentais em qualquer democracia.

Entretanto, preocupam-nos os relatos que nos últimos dias nos chegam de alguns pontos do país, de onde são reportadas situações de violência eleitoral, com grupos de apoiantes de partidos concorrentes a envolver-se em actos de violência que, não só descaracterizam o momento político, como também mancham a imagem que o país vem construindo ao longo dos anos, imagem de um país onde as diferenças foram sempre usadas como trampolim para o crescimento político.

Moçambique é hoje uma referência regional, continental e até mundial. Uma referência de um país que sempre soube viver a igualdade na diversidade. É com esta convicção em mente que acreditamos que os focos de violência reportados nos últimos dias são ventos que rapidamente passarão, dando lugar à uma campanha eleitoral ordeira e dentro dos padrões de civismo e urbanidade a que os moçambicanos nos habituaram.

Na verdade, acreditamos que nenhum partido político ou candidato está interessado em que os seus apoiantes se envolvam em actos de violência com apoiantes de outros partidos. Os moçambicanos são um povo adulto e consciente e acreditamos que será essa maturidade que conduzirá à eliminação de todos estes focos.

Compreendemos que, no exercício de defesa de uns e de outros posicionamentos, possa subir a animosidade e, a partir dai gerarem-se situações de troca de mimos. Acreditamos também que este tipo de situações é mais provável de acontecer entre jovens, eles que fazem a grande maioria dos apoiantes dos partidos políticos e seus candidatos.

Partindo deste pressuposto, entendemos ser possível que, cada partido político, coligação de partidos, grupos de cidadãos e candidatos ganhem consciência desta realidade, e sejam os primeiros a transmitir a mensagem da tolerância, contribuindo para a contenção da animosidade no seio dos apoiantes.

É preciso que a voz de comando para o respeito das diferenças comece a vir também dos partidos e candidatos, que acreditamos que podem fazer a mensagem chegar mais rapidamente aos destinatários e provocar mais rapidamente a mudança de comportamento e atitude que se precisa neste momento para se garantir que o processo decorra até ao fim com o mínimo de perturbações possível.

O ambiente pacífico que se viveu nos primeiros momentos da campanha eleitoral deu mostra de que os moçambicanos cresceram politicamente o suficiente para saberem destrinçar o bem do mal em períodos eleitorais como este, e a partir daí evitarem actos que contrariem a consciência colectiva.

E vemos violência não só onde há troca efectiva de agressões físicas, mas também onde há destruição de material eleitoral dos partidos e candidatos adversários, porque essa não será, certamente, a solução que levará este ou aquele partido ou candidato à vitória eleitoral.

Ainda temos cerca de um mês de campanha eleitoral pela frente. Será essencial que todos tomem a consciência do mal que a violência causa em processos desta natureza, sobretudo quando eles acontecem num país onde a prática e a experiência mostram que já atingiu contornos de crescimento político que já justifica outra forma de estar e de ser.

É essa imagem que precisamos continuar a construir e a “vender” para o mundo, uma imagem que ajude Moçambique a granjear ainda mais simpatia e admiração mundiais e a afirmar-se como referência de paz e reconciliação.

*Título PG

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