Hong
Kong, China, 08 out (Lusa) -- Uma investigação revelada hoje pelo grupo Fairfax
Media indica que o chefe do Executivo de Hong Kong encaixou milhões em
contrapartidas de uma empresa australiana cotada em bolsa em troca do seu apoio
aos negócios da firma na Ásia.
O
acordo consta de um contrato secreto datado de 02 de dezembro de 2011 -- quando
ainda não era líder do Governo --, no qual uma empresa de engenharia
australiana, a UGL, acordava pagar-lhe 4 milhões de libras (5 milhões de
euros).
Os
pagamentos foram feitos em duas tranches, em 2012 e 2013, quando já era chefe
do Executivo da Região Administrativa Especial chinesa.
Os
pagamentos, segundo o jornal The Age, têm a ver com um acordo em que a UGL
comprou uma firma de serviços imobiliários britânica à qual CY Leung estava
associado, a DTZ Holdings, cujos prospetos dependiam da rede de contactos de CY
Leung em Hong Kong
e no interior da China.
Um
comunicado, emitido pelo gabinete do chefe do Executivo, sublinha que os
pagamentos se referem ao passado, tendo sido acordados numa altura em que CY Leung não
detinha qualquer posição no Governo.
"Tanto
a saída da DTZ como a conclusão do acordo com a UGL tiveram lugar antes de CY
Leung ter sido eleito como chefe do Executivo", disse o porta-voz do chefe
do Executivo, Michael Yu, citado pelo mesmo jornal australiano.
Por
isso, acrescentou: "Não há qualquer requerimento, ao abrigo do nosso
sistema de declaração de interesses, que obrigasse Leung a ter de
declarar".
Leung
anunciou a sua saída da DTZ a 24 de novembro, confirmou formalmente a sua
candidatura a chefe do Executivo três dias depois e assinou o lucrativo
contrato a 02 de dezembro de 2011, sublinha o mesmo jornal australiano, do
grupo Fairfax Media.
A
resignação de Leung entrou em vigor a 04 de dezembro de 2011, o dia em que a
UGL adquiriu a britânica DTZ.
O
arranjo levanta questões relativamente à transparência de CY Leung e também
sobre a aquisição pela companhia australiana, a qual se encontra em processo de
venda do negócio da DTZ a uma firma de investimento privado dos Estados Unidos,
a TPG.
Os
administradores da DTZ, a Ernst & Young, e o presidente à época da venda à
UGL, Tim Melville Ross, afirmaram desconhecer o acordo com o político de Hong
Kong com a empresa australiana.
Os
termos do acordo foram definidos numa carta do CEO da UGL, Richard Leupen, numa
carta, publicada pelo mesmo jornal.
"Foi
um prazer conhecê-lo durante este período e espero que continuemos a nossa
relação no futuro", escreveu Richard Leupen, acrescentando: "As
nossas conquistas em Hong
Kong e na China têm sido extraordinárias".
O
'site' do The Age refere ainda, com base na investigação, que Leung concordou
garantir que os membros nomeados pela sua equipa de gestores asiáticos
permaneceriam em funções e que ele "facultaria a assistência necessária na
promoção do grupo UGL e do grupo DTZ na medida do razoavelmente solicitado pela
UGL".
Também
terá concordado em não competir com a UGL e agir como "árbitro e
conselheiro de tempos a tempos", acrescentando numa nota escrita à mão que
o seu apoio era concedido na condição de "não criar qualquer conflito de
interesses", o que entra em contradição, como aponta o jornal, com a declaração
do gabinete de CY Leung quando diz que os pagamentos se referiam apenas a
negócios passados.
Os
termos do acordo também contrastam com o relatório anual de contas da DTZ, onde
se refere que CY Leung não recebeu qualquer pagamento além do estatutariamente
previsto no caso de cessamento de funções devido a uma mudança de propriedade,
segundo o jornal.
Em
resposta, a empresa australiana UGL sublinhou a importância de CY Leung nas
operações chinesas da empresa que eles estavam a adquirir. A empresa disse que
o acordo prevendo os pagamentos foi feito não na esperança de pedir favores
para o negócio, mas devido ao receio de que ele os pudesse destruir.
A
UGL disse ainda que os documentos não incluíam uma cláusula para invalidar o
pagamento a CY Leung no caso de ele conseguir a eleição porque a administração
não equacionou essa possibilidade.
"Na
altura das negociações, a cobertura mediática sugeria que outros candidatos
eram favoritos, pelo que a possibilidade de CY Leung chegar ao poder não era o
foco das negociações da UGL".
DM/FV
// PJA - Lusa
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