As
tentativas dos EUA de formar coalizões “contra” e não “por” alguém vem criando
um desequilíbrio em escala mundial, assinalou o presidente russo, Vladimir
Putin, numa sessão final do Clube de Discussões Internacional Valdai. No seu
entender, o desejo dos EUA de dividir o mundo se deve a uma forte aspiração de
atingir o domínio mundial. Em resultado disso, o conceito de “soberania
nacional” se tornou, para a maioria de Estados, um valor relativo.
Em
vez de regularização de conflitos, temos assistido à sua escalada, em vez de
Estados estáveis e seguros – um crescente descalabro e caos, em vez de
democracia – o predomínio de ideias nacionalistas e radicais. Após o colapso da
URSS, os EUA se declararam um único líder mundial sem se importar de se
interrogarem até que ponto este novo paradigma teria sido justo e racional,
salientou Putin, intervindo perante peritos internacionais:
“Nas
condições de domínio de um só país e de seus aliados, ou melhor dizendo,
satélites, a procura de soluções globais se traduz no desejo de impor suas
receitas na qualidade de modelos universais. As ambições desse grupo cresceram
tanto que as abordagens elaboradas nos corredores do poder passaram a ser
apresentadas como a opinião da comunidade mundial. O conceito de “soberania nacional”,
para a maioria dos países, se tornou um valor relativo. No essencial, foi
proposta uma fórmula: quanto maior for a fidelidade ao único pólo de influência
mundial, tanto mais elevada será a legitimidade de um ou outro regime
governante”.
Aqueles
que não aceitarem essa fórmula, se defrontarão com ações de força, sanções
econômicas e a forte pressão propagandística. Em algumas ocasiões, contra os
líderes se usam várias formas de chantagem aberta – o “grande irmão” costuma
gastar bilhões de dólares para a realização de campanhas de espionagem,
inclusive contra seus aliados mais próximos. Washington precisa disso para
ostentar a sua exclusividade”, frisou o presidente da Rússia, Vladimir Putin:
“Temos
visto as tentativas de fragmentar o mundo, traçar linhas divisórias e formar
coalizões segundo o princípio “contra” alguém e não em prol de alguém ou de
alguma coisa, formar uma imagem de inimigo e obter o direito à liderança, ou
seja, o direito de impor a sua vontade onde quer que seja. Sabemos como era
vista e interpretada a situação internacional na época de “guerra fria” – os
EUA diziam aos aliados: “Temos um inimigo comum, inimigo terrível em que se
concentram todos os males. Nós vamos defender os aliados contra esse inimigo
maligno, por isso temos o direito de mandar, forçar a sacrificar seus
interesses políticos e económicos, a arcar com as despesas necessárias para a
defesa coletiva, da qual iremos tomar conta”. Hoje, num mundo diferente em
constante mudança, transparece a aspiração de realizar os esquemas tradicionais
de governação global no intuito de garantir a sua exclusividade e obter, deste
modo, seus dividendos políticos e econômicos”.
Neste
contexto, não importa muito o fato de quem se tornará nesse “pólo do mal”
universal: o Irã, no seu afã de criar tecnologias nucleares, a China, como a
primeira potencia econômica mundial ou a Rússia, como a superpotência nuclear.
O importante é que sem a luta contra esse “inimigo”, Washington não poderá
concretizar seus planos ditatoriais.
Ao
mesmo tempo, tais tentativas têm tido pouca coisa a ver com realidade que
vivemos, surtindo um efeito contrário. Assim, misturando a política com a
economia, as autoridades de muitos países têm vindo a prejudicar seus
interesses nacionais. As intentonas de impor suas regras de jogo têm
demonstrado a sua incapacidade de fazer frente aos desafios globais como o
terrorismo, o narcotráfico e o extremismo religioso.
No
entanto, existem as vias de ação alternativas, indicadas e seguidas já pelos
países membros do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Para a
união desses países com as economias emergentes não é necessário criar imagens
de inimigo externo. O BRICS tem perseguido objetivos diferentes no sentido de
dinamizar e estreitar as relações entre os Estados e não as afrouxar ou
debilitar.
A
Rússia fez sua opção. Ela não necessita de “exclusividade”. Mas, respeitando os
interesses de outros Estados, ela pretende insistir em que seus interesses
sejam levados em conta e que a sua posição seja também respeitada.
Foto: RIA Novosti/Serguei Guneev
Voz da Rússia
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