sábado, 29 de novembro de 2014

AS MENTIRAS TEÓRICAS DO BANCO MUNDIAL




As acções do Banco Mundial não se resumem a uma sucessão de erros ou de maus actos., Fazem, pelo contrário, parte de uma visão coerente, teórica e conceptual, que se ensina doutamente na maioria das universidades, sustentada por centenas de livros de economia do desenvolvimento. O Banco produz uma verdadeira ideologia do desenvolvimento. Quando os factos desmentem a teoria, o Banco não questiona a teoria. Ao invés, tenta deformar a realidade para continuar a proteger o dogma.

O Banco Mundial considera que os países em desenvolvimento PED |1| devem recorrer ao endividamento externo e atrair investimento estrangeiro para progredirem. Esse endividamento serve principalmente para comprar equipamento e bens de consumo aos países mais industrializados. Os factos demonstram, dia após dia, há décadas, que isso não funciona. Os modelos que influenciaram o Banco Mundial implicam logicamente uma forte dependência dos PED das entradas de capital externo, principalmente sob a forma de empréstimos, na ilusão de atingirem um nível de desenvolvimento auto-sustentado. Os empréstimos são considerados pelos fornecedores de fundos públicos (governos dos países mais industrializados e BM em particular) como um poderoso meio de influenciar os países endividados. Portanto, as acções do Banco não se resumem a uma sucessão de erros ou de maus actos. Pelo contrário, fazem parte de uma visão coerente, teórica e conceptual, que se ensina doutamente na maioria das universidades, sustentada por centenas de livros de economia do desenvolvimento. O Banco produz uma verdadeira ideologia do desenvolvimento. Quando os factos desmentem a teoria, o Banco não questiona a teoria. Pelo contrário, tenta deformar a realidade para continuar a proteger o dogma. 

Ao longo dos dez primeiros anos de existência, o BM produziu muito pouca reflexão sobre o tipo de política económica a apoiar nos países em desenvolvimento. Diversas razões explicam isso: 1) o assunto não faz parte das prioridades do BM. Em 1957, a maioria dos empréstimos do BM (52,7%) ainda é concedida aos países industrializados; |2| 2) a matriz teórica dos economistas e dirigentes do BM é de inspiração neoclássica. Ora, a teoria neoclássica não concede um lugar específico aos PED; |3| 3) o BM só desenvolveu um instrumento específico para conceder empréstimos com baixas taxas de juro aos países em desenvolvimento em 1960 (criação da Associação Internacional de Desenvolvimento (AID) – ver cap. 3).

O BM faz pouco, mas isso não o impede de criticar os outros. Foi assim que, em 1949, o Banco criticou um relatório da Comissão das Nações Unidas para o emprego e a economia, que defendia o investimento público na indústria pesada dos PED. O BM declarou que os poderes públicos dos PED têm muito a fazer no que diz respeito à construção de boas infra-estruturas e que devem deixar a responsabilidade da indústria pesada para a iniciativa privada local e estrangeira. |4|

Segundo os historiadores do BM, Mason e Asher, a orientação do Banco parte do princípio que os sectores público e privado devem exercer funções diferentes. O sector público deve assegurar o desenvolvimento planificado de infra-estruturas adequadas: ferrovias, estradas, centrais eléctricas, instalações portuárias e meios de comunicação em geral. Ao sector privado compete a agricultura, a indústria, o comércio e os serviços pessoais e financeiros, porque em todos esses domínios pressupõe-se que a iniciativa privada tem melhor desempenho do que o sector público. |5| Na verdade, deve ser concedido ao sector privado tudo o que é susceptível de produzir lucro. Em contrapartida, as infra-estruturas ficam a cargo do sector público, porque se trata de socializar os custos com o objectivo de ajudar a iniciativa privada. Em suma, o Banco Mundial recomenda a privatização dos benefícios e também a socialização dos custos daquilo que não é directamente rentável. (continua em O Diário)


Sem comentários:

Mais lidas da semana