terça-feira, 11 de novembro de 2014

China - Macau: CINCO FORA NADA



ISABEL CASTRO – Hoje Macau, opinião - em Contramão

orrem por aí várias teorias sobre as razões da demora. O Chefe do Executivo tarda em apresentar a equipa que vai trabalhar com ele durante os próximos cinco anos e quase todas as teses que vou ouvindo dão como certa a dificuldade de encontrar pessoas que sejam do agrado de Pequim, uma Pequim que imagino mais preocupada com outros dramas administrativos especiais. Claro que há sempre a desculpa oficial de que ainda há gente nos cargos com trabalho para fazer, que a revelação dos novos nomes vai atrapalhar quem ainda lá está, mas Novembro já chegou: mais um mês e uns trocos e a coisa muda.

Não faço parte dos optimistas. Eu juro que me esforço, mas não consigo pensar que Macau vai ter um futuro baseado em princípios que me sirvam. Digo isto porque o presente é o que é. Mas o pessimismo político, em doses consideradas moderadas, também não é mau: serei mais feliz se me mantiver neste registo que deixa margem para surpresas que o optimismo não permite. Isto para dizer que, independentemente dos nomes que aí vêm, a serem anunciados um dia destes, não acredito em grandes evoluções.

Para que Macau evoluísse e se começasse a parecer com uma terra que tem em consideração as pessoas que nela vivem seria necessário, antes de mais, ter alguém no poder político com força suficiente para que os interesses privados não anulassem o interesse público. Vimos todos, nos últimos cinco anos, que Chui Sai On não foi capaz de o fazer. Ou não o quis fazer.

Desconheço as verdadeiras razões que levam a esta incapacidade ou falta de vontade política de ir mantendo uns e outros satisfeitos – em retrospectiva, num outro contexto, os primeiros dez anos de governação da RAEM pareceram mais bem resolvidos neste aspecto. Mas o que está na origem do fenómeno destes últimos cinco anos de vida política no Palácio do Governo não tem grande interesse – interessa, isso sim, o que deste facto resulta. E os resultados estão à vista de todos. Continuando Chui Sai On no poder, e sendo o sistema político de Macau fortemente assente no papel do Chefe do Executivo, não se adivinham, portanto, mudanças de direcção que produzam efeitos concretos.

É certo que, a contribuir para o que Macau é hoje, está também a falta de umas ideias mais arrojadas – um arrojo político que, leia-se, já foi testado e é colocado em prática há muito no resto do mundo dito civilizado. Em Macau testam-se modelos que já foram abandonados noutras regiões; estudam-se soluções que já foram experimentadas e aplicadas. Por aqui passa-se a vida a descobrir a pólvora sem que ninguém se atreva a sugerir soluções mais condicentes com o tempo em que vivemos. Às vezes a contínua descoberta da pólvora não é mais do que um pretexto para a tal incapacidade de gerir interesses. Neste contexto, ter cabeças novas a pensar no Governo será, sem dúvida, de alguma utilidade, mas pouca. Acredito que arejar a casa fará bem – não será, no entanto, o suficiente para resolver os problemas críticos com que Macau se depara.

Para dar a volta à situação, alguém tem de explicar aos que mandam muito que, na matemática da governação, as contas de multiplicar têm de ser feitas numa cadência decente, aceitável aos olhos de quem não multiplica. A cidade transformou-se numa imensa máquina calculadora de contar milhões e só os milhões interessam – os dos outros e aqueles que os outros não têm. Meia dúzia de milhares em muitos milhões não fazem qualquer diferença – não deviam fazer. Alguém tem de explicar a quem manda muito que não é sequer necessário fazer contas de dividir – basta uma pequena subtracção para o povo ficar contente.

Exemplo concreto: a saúde, a eterna saúde. Dizem os números do Boletim Oficial (não sou eu que digo) que algumas instituições particulares têm no erário público uma importante fonte de rendimentos. O Governo foi transferindo responsabilidades públicas para o privado e não é preciso ser-se especialista na área para se perceber o que resultou desta delegação de competências. Numa terra onde há muito dinheiro, não me choca que todos tenham – arrepia-me, isso sim, que se aposte na pobreza do que é público, do que é de todos, para que enriqueçam só alguns.

Por isso é que não basta gente nova. As ideias frescas podem ser úteis, mas não serão suficientes. Se a nova equipa contribuir para o equilíbrio dos interesses, talvez haja uma ou outra melhoria. Mas o que é mesmo preciso é que alguém explique onde começa e termina a sensatez.

Daqui a cinco anos regresso a este texto. E quero, daqui a cinco anos, rir-me do meu pessimismo.

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