ISABEL CASTRO – Hoje Macau, opinião
- em Contramão
orrem
por aí várias teorias sobre as razões da demora. O Chefe do Executivo tarda em
apresentar a equipa que vai trabalhar com ele durante os próximos cinco anos e
quase todas as teses que vou ouvindo dão como certa a dificuldade de encontrar
pessoas que sejam do agrado de Pequim, uma Pequim que imagino mais preocupada
com outros dramas administrativos especiais. Claro que há sempre a desculpa
oficial de que ainda há gente nos cargos com trabalho para fazer, que a
revelação dos novos nomes vai atrapalhar quem ainda lá está, mas Novembro já
chegou: mais um mês e uns trocos e a coisa muda.
Não
faço parte dos optimistas. Eu juro que me esforço, mas não consigo pensar que
Macau vai ter um futuro baseado em princípios que me sirvam. Digo isto porque o
presente é o que é. Mas o pessimismo político, em doses consideradas moderadas,
também não é mau: serei mais feliz se me mantiver neste registo que deixa
margem para surpresas que o optimismo não permite. Isto para dizer que,
independentemente dos nomes que aí vêm, a serem anunciados um dia destes, não
acredito em grandes evoluções.
Para
que Macau evoluísse e se começasse a parecer com uma terra que tem em
consideração as pessoas que nela vivem seria necessário, antes de mais, ter
alguém no poder político com força suficiente para que os interesses privados
não anulassem o interesse público. Vimos todos, nos últimos cinco anos, que
Chui Sai On não foi capaz de o fazer. Ou não o quis fazer.
Desconheço
as verdadeiras razões que levam a esta incapacidade ou falta de vontade
política de ir mantendo uns e outros satisfeitos – em retrospectiva, num outro
contexto, os primeiros dez anos de governação da RAEM pareceram mais bem
resolvidos neste aspecto. Mas o que está na origem do fenómeno destes últimos
cinco anos de vida política no Palácio do Governo não tem grande interesse –
interessa, isso sim, o que deste facto resulta. E os resultados estão à vista
de todos. Continuando Chui Sai On no poder, e sendo o sistema político de Macau
fortemente assente no papel do Chefe do Executivo, não se adivinham, portanto,
mudanças de direcção que produzam efeitos concretos.
É
certo que, a contribuir para o que Macau é hoje, está também a falta de umas
ideias mais arrojadas – um arrojo político que, leia-se, já foi testado e é
colocado em prática há muito no resto do mundo dito civilizado. Em Macau
testam-se modelos que já foram abandonados noutras regiões; estudam-se soluções
que já foram experimentadas e aplicadas. Por aqui passa-se a vida a descobrir a
pólvora sem que ninguém se atreva a sugerir soluções mais condicentes com o
tempo em que vivemos. Às vezes a contínua descoberta da pólvora não é mais do
que um pretexto para a tal incapacidade de gerir interesses. Neste contexto,
ter cabeças novas a pensar no Governo será, sem dúvida, de alguma utilidade,
mas pouca. Acredito que arejar a casa fará bem – não será, no entanto, o
suficiente para resolver os problemas críticos com que Macau se depara.
Para
dar a volta à situação, alguém tem de explicar aos que mandam muito que, na
matemática da governação, as contas de multiplicar têm de ser feitas numa
cadência decente, aceitável aos olhos de quem não multiplica. A cidade
transformou-se numa imensa máquina calculadora de contar milhões e só os
milhões interessam – os dos outros e aqueles que os outros não têm. Meia dúzia
de milhares em muitos milhões não fazem qualquer diferença – não deviam fazer.
Alguém tem de explicar a quem manda muito que não é sequer necessário fazer
contas de dividir – basta uma pequena subtracção para o povo ficar contente.
Exemplo
concreto: a saúde, a eterna saúde. Dizem os números do Boletim Oficial (não sou
eu que digo) que algumas instituições particulares têm no erário público uma
importante fonte de rendimentos. O Governo foi transferindo responsabilidades
públicas para o privado e não é preciso ser-se especialista na área para se
perceber o que resultou desta delegação de competências. Numa terra onde há
muito dinheiro, não me choca que todos tenham – arrepia-me, isso sim, que se
aposte na pobreza do que é público, do que é de todos, para que enriqueçam só
alguns.
Por
isso é que não basta gente nova. As ideias frescas podem ser úteis, mas não
serão suficientes. Se a nova equipa contribuir para o equilíbrio dos
interesses, talvez haja uma ou outra melhoria. Mas o que é mesmo preciso é que
alguém explique onde começa e termina a sensatez.
Daqui
a cinco anos regresso a este texto. E quero, daqui a cinco anos, rir-me do meu
pessimismo.
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