Joshua
Wong interrompe greve de fome
Hong
Kong, China, 06 dez (Lusa) - Joshua Wong, um dos rostos do movimento
pró-democrático em Hong Kong ,
anunciou hoje que interrompeu a greve de fome que mantinha há quatro dias para
forçar o governo a avançar com mais negociações para a reforma política.
"Sob
forte insistência do médico, parei a greve de fome", afirmou Wong, que não
comia há 108 horas, nas redes sociais Facebook e Twitter.
O
jovem de 18 anos adiantou que sentia "desconforto físico extremo, tonturas
e fraqueza dos membros", resultante da greve de fome.
"Mesmo
que eu pare a greve de fome não quer dizer que o governo de Hong Kong possa
ignorar as nossas exigências", sublinhou.
Joshua
Wong, que foi capa da revista Time no início das manifestações, é o líder do
movimento estudantil Scholarism, que junta estudantes do ensino secundário.
Wong
e duas jovens membros do grupo Scholarism anunciaram uma greve de fome depois
de uma das piores noites de violência nas manifestações do passado domingo.
O
anúncio de Wong surge depois de a colega Isabella Lo ter anunciado que iria
parar a greve de fome na sexta-feira, dias depois de dois membros terem aderido
a este tipo de protesto.
O
movimento Scholarism disse que os restantes estudantes continuarão com a greve
de fome.
Imagens
de televisão mostraram um Wong com aparência fraca, numa cadeira de rodas, num
protesto em Admiralty.
Wong
e outros estudantes em greve de fome estavam acampados em tendas junto da sede
do governo de Hong Kong, na semana passada.
As
manifestações, lideradas por estudantes, exigem eleições livres para a região
semi-autónomia da China.
ALU
// SO
Jogos
de palavras são a nova arma dos manifestantes pró-democracia
Hong
Kong, China, 05 dez (Lusa) -- Nos acampamentos de protesto, nas ruas e na
Internet, os manifestantes de Hong Kong expressam-se num dialeto em tão rápida
evolução que uma jovem artista decidiu criar uma nova arma de luta: um
dicionário.
Helen
Fan, jovem artista de 29 anos, é uma das autoras do "Umbrella Terms",
glossário online com centenas de slogans, frases e símbolos, em inglês e
cantonense, que nasceram desde 28 de setembro, quando os estudantes tomaram as
ruas da Região Administrativa Especial Chinesa para reivindicar eleições
livres.
"É
uma verdadeira explosão", disse Helen Fan, a propósito do novo vocabulário
nascido no movimento pró-democracia. Entre os jogos de palavras há de tudo um
pouco: desde trocadilhos com o nome do chefe do Executivo de Hong Kong, Leung
Chun-ying (também conhecido por CY Leung), a expressões irónicas sobre a
vontade de Pequim de controlar o processo eleitoral local. "Todas as
semanas há palavras novas", disse.
Receios
quanto ao declínio da língua local, o cantonense, face ao mandarim, a língua
oficial da República Popular da China, emergiram depois da transferência da
soberania de Hong Kong do Reino Unido para a China, em 1997.
Académicos
dizem que o "movimento dos guarda-chuvas" deu nova vida ao cantonense
-- falado em Hong Kong ,
Macau e sul da China e que Pequim considera um "dialeto".
"O
movimento atual inverte o impacto negativo da política de educação (imposta por
Pequim) para o cantonense e dá-lhe um papel-chave na cena política", disse
Victor Mair, professor de chinês e literatura na Universidade da Pensilvânia.
"Não
há realmente nenhum precedente para o que está a acontecer hoje em Hong Kong ",
acrescentou.
Os
falantes de mandarim muitas vezes não entendem o cantonense falado e têm
dificuldades em lê-lo, e a criatividade dos manifestantes aumenta a barreira da
incompreensão, acrescentou Victor Mair.
As
línguas faladas na China prestam-se aos trocadilhos. Os termos quase homónimos
são inúmeros, e a alteração dos tons com que se pronunciam as sílabas
transforma o sentido das palavras.
Numa
imitação fonética de "gou wu", que em mandarim significa 'ir às
compras', os manifestantes criaram a expressão "gau wu", termo usado
para 'ocupar as ruas em
protesto'. Além disso, o termo "gau" está ainda
carregado de ironia, já que faz referência ao órgão genital masculino.
O
trocadilho tornou-se viral na Internet, sobretudo depois da operação de despejo
do acampamento em Mong Kok ,
na Península de Kowloon, quando o chefe CY Leung, pedia aos residentes para
irem às compras na zona para ajudar o comércio local.
Na
zona que alberga a sede do governo e o Conselho Legislativo, os nomes das
avenidas ocupadas por tendas foram entretanto substituídos pelos de
"Umbrella Court" e "Democracy Gardens", numa ironia
inspirada em nomes de condomínios de luxo em Hong Kong , que também
evidencia a desigualdade na cidade de mais de sete milhões de habitantes.
"Apercebi-me
que na verdade não conhecia muitos termos. Não importa o quão apaixonados [pela
causa] somos, ou quantas vezes partilhamos notícias no Facebook: se não
conhecermos o nosso campo de batalha, penso que não conseguimos seguir em
frente", afirmou Helen Fan.
Com
os estudantes a discutirem um eventual abandono das ruas, a cofundadora do
glossário, Lesley Cheung, de 20 anos, espera que o trabalho mantenha o legado
de um período extraordinário.
FV
// JMR
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