Díli,
16 jan (Lusa) - O empresário timorense Julio Alfaro disse hoje estar
interessado em ampliar a sua participação na Timor Telecom, caso a PT coloque a
sua participação maioritária à venda e se o Estado timorense assumir o controlo
da operadora.
"Sentimos
grande preocupação pela oscilação que se vive em Portugal relativamente à PT.
Para mim, como acionista, a única e maior tranquilidade seria o Estado
timorense comprar as ações da PT, podendo até beneficiar da gestão dos
profissionais atuais que já cá estão", disse em entrevista à agência Lusa.
"Esta
seria a melhor saída para o atual cenário. Se o Estado ampliasse o seu capital,
ficando como maior acionista e gestor da empresa, nessa altura eu teria
confiança e teria tranquilidade para comprar uma parte das ações de acordo com
a minha participação", disse.
Julio
Alfaro é o único investidor timorense com capital na TT, em concreto 4,49%, com
o restante capital da operadora dividido pela participada da PT, a TPT
(54,01%), o Estado timorense (20,59%), a empresa com sede em Macau VDT Operator
Holdings (17,86%) e a PT Participações SGPS (3,05%).
O
capital da TPT é controlado pela PT (76%), pela Fundação Harii - Sociedade para
o Desenvolvimento de Timor-Leste (ligada à diocese de Baucau) que detém 18% e
pela Fundação Oriente (6%).
Recorde-se
que quando a OI anunciou a intenção de vender a PT à Altice, em dezembro,
explicou que iria definir a estratégia a seguir nos negócios da PT não
alienados na venda, incluindo os investimentos na Africatel e na TT.
Num
cenário de alienação Julio Alfaro admite ser comprador, mas apela a que a PT
contacte, desde logo, o Governo timorense e a que o executivo diga sim à
operação.
"Não
sabemos ainda o que vai acontecer. Se a PT quer ou não vender, ou como reagirá
o Governo. Mas para mim a TT é uma operadora nacional", disse.
"Agora
já há capacidade de vários timorenses participarem no negócio. Mas fica sempre
uma preocupação e dúvida. Enquanto não houver intervenção direta no Estado
ninguém terá coragem de dar o passo. É preciso essa intervenção do Estado para
dar tranquilidade e confiança aos investidores, quer aos acionistas atuais quer
a outros", disse.
Julio
Alfaro mostra-se "surpreendido" com toda a forma como o negócio PT
tem sido conduzido, questionando porque é que o Estado português não interveio
para proteger uma empresa "num negócio que faz dinheiro todos os dias,
todos os minutos, todos os segundos".
"Esta
é agora a nossa preocupação em relação à TT. Espero que o nosso Governo não
cometa o mesmo erro que o Governo português cometeu na PT em não atuar",
afirmou.
Questionada
sobre se as ligações da TT a Portugal são ou não prejudiciais, Alfaro disse que
"a TT é uma operadora timorense".
"E
se queremos ter orgulho em alguma operadora das três que operam em Timor, tem
que ser a operadora timorense, a TT", disse.
Considerando
o projeto da TT, "um investimento modelo" numa altura em que ninguém
estava interessado em investir nessa região, Alfaro admite que em algum período
a operadora esteve algo "paralisada".
"Poderia
ter sido mais proativa. Se tivesse sido mais ativa com a ampliação dos serviços
ou alterações aos preços, poderia ter sido mais dinâmica. E a dívida criada
pelo desenvolvimento das infraestruturas teria tido um pagamento mais rápido.
Mas,
ao mesmo tempo considera que a liberalização do setor concretizada em 2012 foi
feita "de forma atabalhoada" continuando em falta um regulador que
verifique as atuações das operações existentes.
As
operadoras que entraram, a Telemor do Ministério da Defesa vietnamita e a
Telksomsel da Indonésia vieram para cá para destruir o mercado e poderem,
depois, apoderar-se do mercado e implementarem as suas próprias regras",
disse.
"Os
quadros médios e superiores são todos indonésios e vietnamitas. Há timorenses,
mas nos cargos mais baixos e com salários baixos. Isso não acontece na TT. É
pena que os outros dois operadores atuem como querem, perante a ausência de um
regulador", disse.
ASP
// JCS - Na foto: Julio Alfaro
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