quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Associações elogiam e criticam relatório sobre liberdade de imprensa em Macau




Macau, China, 28 jan (Lusa) -- Um relatório que alerta para restrições à liberdade de imprensa em Macau é elogiado pela Associação de Jornalistas de Macau, que representa maioritariamente profissionais chineses, mas visto como "parcial e incompleto" pela Associação de Imprensa em Português e Inglês.

O sétimo relatório da organização Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) refere que "a liberdade de imprensa não melhorou" e que há "uma tendência crescente para a autocensura" em Macau.

Intitulado "China's Media War: Censorship, Corruption & Control", o relatório apresentado na segunda-feira em Hong Kong afirma que "os jornalistas que se desviaram da prática normal foram detidos pela polícia", em alusão à detenção no ano passado do diretor e de um estagiário da publicação de sátira política Macau Concealers.

O documento acrescenta que "o governo de Macau continuou a usar a 'lei' para barrar" a entrada no território de jornalistas, académicos, políticos e ativistas pró-democratas.

Em dezembro, por ocasião do 15.º aniversário da Região Administrativa Especial de Macau, 14 ativistas pró-democracia e quatro jornalistas de Hong Kong foram hoje impedidos de entrar no território.

No final do ano, a deputada de Hong Kong e presidente do Partido Democrático, Emily Lau, foi igualmente impedida de entrar em Macau, uma decisão que, segundo a própria, as autoridades justificaram com motivos de segurança interna.

A FIJ refere também ataques à liberdade académica, ao referir os casos de dois professores -- Bill Chou e Éric Sautedé, antigos quadros da Universidade de Macau e Universidade de São José -- que foram despedidos "depois de terem exercido o direito de falar sobre políticas controversas".

Para a Associação de Jornalistas de Macau, que não é membro da FIJ, o documento reflete a realidade. "O relatório aponta quase todos os casos. Não ficámos surpreendidos (com as conclusões). A censura em Macau está cada vez pior, qualquer pessoa pode verificar isso", disse à agência Lusa a presidente, Connie Peng.

"A situação é mais grave do que as pessoas pensam", reforçou, ao explicar que a associação está atualmente a lidar com novos casos de ataque à liberdade de imprensa em Macau.

Connie Peng observou que a censura em Macau "é exercida pelas chefias dos meios de comunicação e também por parte do Governo" e invocou uma situação verificada já este ano com um membro do novo governo, mas remeteu explicações para mais tarde de modo a proteger o jornalista envolvido.

"Um jornalista colocou uma questão sensível a um dirigente e assim que chegou à redação foi chamado pelo superior que lhe perguntou 'porque é que fizeste isso?', descreveu a presidente da Associação de Jornalistas de Macau, ao denunciar que alguém do governo terá telefonado para o órgão de comunicação social para se queixar.

A Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) tem uma opinião divergente sobre o documento. "Consideramos que o relatório agora tornado público é parcial e incompleto, não tendo em conta a complexidade da comunicação social em Macau", referiu em comunicado.

"A direção da AIPIM espera que a Federação Internacional de Jornalistas possa ser isenta, independente e imparcial nos relatórios que produz e que ouça todas as partes antes de concluir o que quer que seja sobre a liberdade de imprensa em Macau", sublinhou.

Na base da contestação está o pedido de adesão à FIJ solicitado pela AIPIM em 2012, ao qual não foi dado seguimento. "Até este momento, a direção da AIPIM não voltou a ser contactada pela Federação Internacional de Jornalistas para qualquer efeito", acrescentou.

FV/ ISG // JMR

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