quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

ÁFRICA NA ROTA DOS TRAFICANTES DE DROGA



Roger Godwin – Jornal de Angola

Informações bastante preocupantes, disponibilizadas por diferentes organizações internacionais especializadas no combate ao crime organizado, dão conta de que o continente africano é já uma rota incontornável por onde circulam diferentes tipos de droga proveniente do Afeganistão e que têm como principal destino final a Europa.

De acordo com as mesmas informações, este facto fica principalmente a dever-se à astúcia dos traficantes e às cumplicidades que encontram junto de entidades internacionais que não fazem tudo o que está ao seu alcance para ajudar os países africanos mais afectados por esta situação colocarem um ponto final no problema.

Quem denunciou esta situação foram, precisamente, alguns países africanos, que vêm os seus melhores filhos envolvidos neste tipo de negócio, sem que quem possui a capacidade para actuar no sentido de desmantelar todas estas redes, faça algo do muito que está ao seu alcance para cumprir aquela que devia ser a sua nobre missão.

 Em Novembro do ano passado a guarda costeira do Quénia interceptou, com os seus próprios e parcos meios, em diferentes ocasiões, dois barcos que transportavam um total de 712 quilos de heroína provenientes, precisamente, do Afeganistão. Mas a maior captura de droga em África ocorreu, também nas águas territoriais do Quénia e foi feita por um navio de guerra australiano, que por lá passava e ocorreu prontamente a um pedido de apoio feito pela marinha de guerra queniana.

 Na altura, Abril de 2014, esse navio de guerra ajudou a interceptar uma embarcação que transportava uma tonelada de heroína acondicionada em sacos de cimento e que tinha como destino a Europa onde, depois de comercializada, resultaria num valor mínimo calculado em 240 milhões de dólares.

 A importância deste acção, tanto no valor como na quantidade da droga apreendida, ultrapassou a de todas as apreensões que foram feitas no continente africano entre 1990 e 2009. A maior parte da heroína proveniente do Afeganistão tenta chegar à Europa através de duas principais rotas, uma por via da Ásia central e outra através do Irão, segundo refere um estudo agora divulgado e que teria sido feito por organizações internacionais criadas para combater o tráfico de droga.

 Uma outra rota, de menor dimensão mas que neste caso ganha um certo protagonismo, passa por África e existe desde os anos 80 tendo, contudo, nos últimos anos, atingido um volume total de droga apreendida que ronda as três toneladas e meia. A explicação para o aumento da importância de utilização da rota africana para o transporte da droga proveniente do Afeganistão é atribuída pelos especialistas ao actual conflito na Síria e, de uma forma geral, à expansão dos conflitos nalguns países do médio oriente. A opção que os traficantes tomaram por utilizar a rota africana foi também reforçada por alguma convicção que eles têm na pouca fiabilidade dos mecanismos de fiscalização marítima que muitos países têm para saber e controlar, com exactidão, o que se passa nas suas águas territoriais.  

É assim que ainda de acordo com algumas das organizações internacionais que deveriam ajudar os países mais visados pelo tráfico, o Quénia e a Tanzânia foram os principais pontos de passagem escolhidos pelos traficantes para fazer transitar a droga entre o Afeganistão e a Europa.

 Nalguns casos, para mais rapidamente fazer chegar a droga ao seu destino final, ela é desembarcada naqueles dois países, encaminhada por terra até à Etiópia camuflada em diferentes mercadorias e daí remetida para o destinatário final em diversos tipos de aviões particulares que se encontram parqueados no aeroporto de Addis Abeba.

Porém, nos últimos meses tem também acontecido que alguma dessa droga é também transportada de avião para a África do Sul onde é recebida em quintas que possuem pista de aterragem para aviões de pequeno porte, sendo depois acondicionada em pequenas embalagens e escoadas em embarcações rápidas, mas neste caso para consumo directo em mercados africanos, especialmente em Zanzibar, Mombaça e Dar es Salam. As principais quadrilhas africanas de droga estão devidamente identificadas e localizadas por forças policiais internacionais no interior do Quénia e da Tanzânia, onde travam verdadeiros “braços de ferro” com as forças da ordem locais e com os governos que sentem dificuldades cada vez mais acrescidas para lhes fazer frente com as mínimas possibilidades de sucesso.

Essas quadrilhas só ainda não foram detidas, nalguns casos por falta de provas concludentes e, noutros, por gozarem de algumas cumplicidades internas que as tornam quase intocáveis para forças internacionais.

 No ano passado, o Instituto Internacional de Paz, sedeado nos Estados Unidos, considerou que algumas instituições quenianas estavam na linha de mira de algumas dessas quadrilhas que viam nelas um empecilho para o desenvolvimento das suas criminosas actividades.

 Mais uma vez, a união de esforços de todos os países africanos será determinante para vencer este desafio que ameaça o continente, não sendo de minimizar a importância que algumas organizações internacionais podem e devem dar para o bom êxito daquilo que tem que ser urgentemente feito.

Afinal de contas o combate ao tráfico de droga, se não for entendido como uma missão global entre todos os continentes, ficará muito mais difícil de vencer com tudo o que isso significa em termos de impacto social e humano no tecido populacional e da própria economia do continente.

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