sábado, 14 de fevereiro de 2015

África: VÍRUS ÉBOLA VOLTA A AUMENTAR DE INTENSIDADE



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião

Contrariando aquilo que eram as recentes perspectivas optimistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) o vírus ébola voltou, nas últimas duas semanas, a aumentar de intensidade nos países africanos que já haviam sido mais fustigados pela mortífera doença, sobretudo desde 2013.

De acordo com um porta-voz da OMAS, depois do no início de 2015 terem sido abertas janelas de esperança que deixavam vislumbrar a possibilidade da doença estar numa fase regressiva, a realidade dos factos faz com que voltem agora a soar as sirenes de alarme na Serra Leoa, Guiné Conacry e Libéria.

De acordo com a OMS, nas últimas duas semanas, foram reportados mais 76 casos de ébola na Serra Leoa, 65 na Guiné Conacry e três na Libéria, dados que são explicados pelas mais variadas razões.

Felizmente, até agora, a situação parece estar devidamente localizada, mas esforços têm que ser feitos de modo muito peremptório no sentido de evitar que ela se propague e ganhe proporções ainda mais alarmantes e gravosas. Em primeiro lugar, e sendo mesmo considerado como um factor determinante para esta nova situação de alarme, conforme dizem os peritos da organização, os respectivos governos como que menosprezaram a importância de alguns protocolos de segurança, embalados e encantados que estavam pelos números que lhes diziam estar o ébola quase que vencido.

Entre os diferentes protocolos, ganha especial destaque o que se relaciona com as práticas tradicionais habitualmente usadas nos funerais nesses países e que não respeitam as mais elementares regras de segurança sanitária, sobretudo, quando se está perante pessoas que morreram devido ao contágio pelo ébola.

O reduzido número de casos ocorrido na Libéria, em relação aos que foram registados na Serra Leoa e na Guiné Conacry, são explicados pela OMS como ficando a dever-se à continuada presença no país de equipas médicas estrangeiras, sobretudo norte-americanas, que obrigam ao respeito pelo cumprimento dos diferentes tipos de protocolos por parte do pessoal que lida com a doença.

Para a OMS, cujos responsáveis esfregavam já as mãos de contentes pelos êxitos que diziam estar a obter, este reacender da intensidade do surto do ébola constitui um “forte desafio que necessita do esforço de todos para poder ser vencido”, conforme disse o seu porta-voz. Mas há quem pense de forma diferente da OMS e considere este aumento do número de pessoas infectadas como sendo o resultado da própria decisão da organização em decretar de modo “desaconselheadamente antecipado”, o controlo de uma situação que, como agora se verifica, estava longe de estar dominada.

Os defensores desta opinião argumentam que a OMS, pelas suas dificuldades financeiras, tinha todo o interesse, confundindo o seu desejo com a realidade, em sublinhar a ideias de que o problema estava em vias de solução de modo a diminuir a pressão internacional que resultava do seu relacionamento com as farmacêuticas fabricantes das preciosas mas demasiado caras vacinas.

Apesar de todos considerarem que a actual situação ainda não é demasiado assustadora, não obstante o gradual aumento do número de infectados, a verdade é que terão que ser já tomadas medidas urgentes de forma a não se voltar a viver os mesmos tormentos que em 2013 e 2014, quando o vírus atingiu o seu pico mais alto em termos de intensidade e de mortalidade.

E uma das principais medidas a tomar, com carácter de urgência, é prosseguir os esforços internacionais para obrigar a OMS a rever os seus acordos com a indústria farmacêutica em termos dos preços das vacinas.

Apesar de refém dessa indústria, por ser ela que se substitui aos países membros na obrigação de financiamento das suas actividades, a OMS é única entidade com competência legal e moral para impôr determinadas regras que façam reverer a actual relação que muitos consideram ser de “grande promiscuidade”.

É igualmente importante que a comunidade internacional não diminua a intensidade da ajuda dada aos países afectados de modo a evitar o alastramento desta nova tendência de reaparecimento da doença para lá das fronteiras onde ela neste momento se encontra.

O facto deste surto de ébola ter já provocado desde 2013 cerca de nove mil mortos entre 22 mil infectados, fazem dele um caso demasiado sério para não ser tratado de forma excepcional de modoa serem encontradas medidas, também elas excepcionais, que possam ser a base para uma solução sólida.

Do ponto de vista económico as consequênciads do virus foram desastrosas para economias débeis como são as da da Serra Leoa, Guiné e Libéria, com uma forte e decisiva influência nos seus índices de crescimento e desenvolvimento social.

A vertente política também foi afectada, havendo casos de adiamentos de processos eleitorais e toda uma necessidade de apaziguar as salutares divergências entre os diversos partidos para que houvesse uma maior congregação de esforços na busca de soluções nacionais.

Mas, apesar de desta nova tendência de reaparecimento do ébola, os especialistas acreditam que se forem tomadas medidas imediatas de controlo da doença, pode evitar-se o regresso a tempos bem recentes onde o desespero se apoderou dos países mais afectados.

Existe, neste momento, toda uma experiência adquirida que pode facilitar a aplicação de medidas positivas, desde que haja uma firme coordenação de esforços entre os governos e todos aqueles que, de algum modo, podem contribuir para o sucesso deste combate.

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