sexta-feira, 11 de julho de 2025

Angola | Cegueira das Mentalidades -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

O director do colégio que eu frequentava no Uíje era padre. Via muito bem Deus mas não via as pessoas a um palmo do nariz. No dia 15 de Março 1961 o internato foi refúgio para dezenas de mulheres e crianças que fugiram das aldeias e fazendas. Ele conseguiu ver as lágrimas dos refugiados e os seus gritos de dor. Tinham perdido os seus familiares. Contavam como homens foram mortos à catanada. E mulheres foram esventradas. 

O senhor padre ficou muito sensibilizado. Condenou os matadores. E eu disse-lhe que os revoltosos aprenderam, ao longo de séculos, que as vidas dos negros não valem nada. A lição foi aprendida. Agora não respeitam a vida de ninguém. Chamou-me terrorista!

O poeta Marcial perdeu na guerra da Turquia uma filha moça que era a luz dos seus dias. Tereza Rita Lopes conhecia bem esta tragédia. E ainda melhor os palcos da poesia de Fernando Pessoa. Morreu tão cedo a menina de sua mãe! Os portugueses andam tão distraídos a eleger fascistas que nem deram pela perda irreparável daquela que é uma grande figura da Cultura Portuguesa. Eu perco todos os dias filhas e filhos na Faixa de Gaza e Cisjordânia, no Sudão, no Leste da República Democrática do Congo, na Ucrânia, na Federação Russa.

Os nazis de Telavive e o chefe da Internacional Fascista, Donald Trump, matam milhares de crianças e Mamãs. Ficam sepultados nos escombros da Faixa de Gaza. O genocídio em marcha na Palestina é apoiado pela União Europeia e Reino Unido. A cegueira das mentalidades vai repetir a mortandade durante a Grande Insurreição no dia 15 de Março 1961. Vai acontecer inevitavelmente. Não respeitam as vidas dos outros. Matam todos os dias civis inocentes. Um dia também vão morrer com a mesma bestialidade. Falta pouco. 

As bombas norte-americanas, alemãs, francesas e do Reino Unido que rebentam e matam na Faixa de Gaza são armas dos terroristas. Os desesperados que se fazem explodir para matar inocentes têm bons professores. E passaram com distinção no exame de desprezo pela vida humana começando pela própria. A diferença entre os nazis de Telavive, o chefe da Internacional Fascista mais seus vassalos de Bruxelas ou Londres e os bombistas suicidas é apenas uma: Uns são fanáticos do latrocínio e os outros do desespero.

Felizes os que morreram arrastados pela correnteza furiosa do rio Guadalupe, no Texas. Ainda vão ter como prémio de consolação um decreto de Donald Trump que deporta o rio para El Salvador. E expulsa o Texas para o México. Texas e texanos, nunca mais porque a Casa dos Branco é novamente grande.

Era mais pequena quando Herman Cohen, secretário de Estado Adjunto para os Assuntos Africanos, escreveu que Jonas Savimbi ficou zangado com Washington, por considerar as eleições de 1992 livres e justas. O criminoso de guerra disse ao governante norte-americano que não negociava com ninguém e ia partir para a guerra: “Vou derrotar militarmente o MPLA. Só a guerra pode resolver isto”.

Herman Cohen conta mais: “Nas eleições de 1992, Jonas Savimbi reforçou a sua posição militar. Durante a campanha foi autorizado a fazer-se acompanhar das suas tropas para fins de segurança, e deixou-as espalhadas, com armas, por todo o país. Antes estava apenas na Jamba. Ele pensava que podia ganhar, que as suas tropas eram melhores... e eram. Tinha acesso a diamantes, tinha acesso a pistas da aterragem onde podia receber armas. Savimbi acreditava totalmente, e apenas, em lutar até ao fim”.

Por força do Acordo de Bicesse foram criadas as Forças Armadas Angolanas em 9 de Outubro 1991. Pouco mais de um mês depois (Em 14 de Novembro) foram nomeados os comandantes das FAA, General João Baptista de Matos e General Abílio José Augusto Camalata (Numa).   A 7 de Julho de 1992, antes das eleições , a Comissão Conjunta Político Militar (CCPM) aprovou a  dissolução das FAPLA e das FALA. Em 27 de Setembro 1992, foram formalmente extintas as FAPLA e as FALA. Tomou posse a chefia do Estado-Maior General das FAA. Logo após a divulgação dos resultados eleitorais (derrota estrondosa de Savimbi e da UNITA), o criminoso de guerra tocou o apito e Abílio José Augusto Camalata (Numa) desertou. 

O sicário savimbista escreveu que tinha “a dura tarefa de construir algo funcional entre antigos inimigos. Mas, como em toda obra nacional, começámos a erguer — pedra sobre pedra, ou talvez casamata sobre casamata — as FAA”. Ninguém pode construir um país com mentirosos. A alternativa democrática não se faz entre patriotas esforçados de um lado, traidores e mentirosos do outro. 

Abílio José Augusto Camalata (Numa) desertou, mal tomou posse. Traiu o juramento que fez. Traiu os camaradas das FAA. Traiu a Constituição da República. Traiu o Povo Angolano. Trocou a Pátria Angolana pela kamanga. O chefe Miala encomendou-lhe um “elogio” ao General Higino Carneiro e ele nem hesitou.

A secretária para a América do Norte do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, Maria Luísa Escorel, convocou o representante de Washington em Brasília para lhe dizer que o Presidente Lula devolve a carta que recebeu de Trump por conter mentiras e desrespeitar um Estado Soberano.  O Brasil não admite ofensas do chefe da Internacional Fascista.

Trump convidou o Presidente João Lourenço para a Casa Branca, através de Hariana, uma falsa jornalista que, segundo o fascista-mor é “bonita por fora e por dentro”. Convidar um Chefe de Estado através de uma criada às ordens é ofensa e muito grave. Ninguém reagiu em Luanda. 

Os deputados da sétima Comissão da Assembleia Nacional manifestaram “satisfação”, com o desempenho da administração da Empresa Edições Novembro. A satisfação foi manifestada pelo deputado Paulo Faria que preside à comissão. O parlamentar realçou o facto de a empresa pretender expandir a sua carteira de assinantes, para mais de 500 mil! Não vou falar da aldrabice do preço do papel. Muito menos da aventura irresponsável de entregarem a caloteiros e ignorantes a gestão da DAMER. Mas vou revelar que o New York Times tem 500 mil assinantes na edição impressa. O jornal espanhol El País tem 110.000 assinantes. 

Paulo Faria está feliz com os caloteiros que me devem salários há dez anos. A cegueira de mentalidades chegou à Assembleia Nacional. Nada mais resta. Só fica de pé o calote e o roubo. 

O mercado do papel para rotativas é muito especial. Só mesmo peritos se mexem bem no meio. Uma empresa séria tem vários corretores de papel. E só compra bobinas, a quem apresenta as melhores cotações. Não se compra papel de jornal como rolos de papel higiénico.  

* Jornalista

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