< Artur Queiroz*, Luanda >
O director do colégio que eu frequentava no Uíje era padre. Via muito bem Deus mas não via as pessoas a um palmo do nariz. No dia 15 de Março 1961 o internato foi refúgio para dezenas de mulheres e crianças que fugiram das aldeias e fazendas. Ele conseguiu ver as lágrimas dos refugiados e os seus gritos de dor. Tinham perdido os seus familiares. Contavam como homens foram mortos à catanada. E mulheres foram esventradas.
O senhor padre ficou muito sensibilizado. Condenou os matadores. E eu disse-lhe que os revoltosos aprenderam, ao longo de séculos, que as vidas dos negros não valem nada. A lição foi aprendida. Agora não respeitam a vida de ninguém. Chamou-me terrorista!
O poeta Marcial perdeu na guerra da Turquia uma filha moça que era a luz dos seus dias. Tereza Rita Lopes conhecia bem esta tragédia. E ainda melhor os palcos da poesia de Fernando Pessoa. Morreu tão cedo a menina de sua mãe! Os portugueses andam tão distraídos a eleger fascistas que nem deram pela perda irreparável daquela que é uma grande figura da Cultura Portuguesa. Eu perco todos os dias filhas e filhos na Faixa de Gaza e Cisjordânia, no Sudão, no Leste da República Democrática do Congo, na Ucrânia, na Federação Russa.
Os nazis de Telavive e o chefe da Internacional Fascista, Donald Trump, matam milhares de crianças e Mamãs. Ficam sepultados nos escombros da Faixa de Gaza. O genocídio em marcha na Palestina é apoiado pela União Europeia e Reino Unido. A cegueira das mentalidades vai repetir a mortandade durante a Grande Insurreição no dia 15 de Março 1961. Vai acontecer inevitavelmente. Não respeitam as vidas dos outros. Matam todos os dias civis inocentes. Um dia também vão morrer com a mesma bestialidade. Falta pouco.
As bombas norte-americanas, alemãs, francesas e do Reino Unido que rebentam e matam na Faixa de Gaza são armas dos terroristas. Os desesperados que se fazem explodir para matar inocentes têm bons professores. E passaram com distinção no exame de desprezo pela vida humana começando pela própria. A diferença entre os nazis de Telavive, o chefe da Internacional Fascista mais seus vassalos de Bruxelas ou Londres e os bombistas suicidas é apenas uma: Uns são fanáticos do latrocínio e os outros do desespero.
Felizes os que morreram arrastados pela correnteza furiosa do rio Guadalupe, no Texas. Ainda vão ter como prémio de consolação um decreto de Donald Trump que deporta o rio para El Salvador. E expulsa o Texas para o México. Texas e texanos, nunca mais porque a Casa dos Branco é novamente grande.Era mais pequena quando Herman Cohen, secretário de Estado Adjunto para os Assuntos Africanos, escreveu que Jonas Savimbi ficou zangado com Washington, por considerar as eleições de 1992 livres e justas. O criminoso de guerra disse ao governante norte-americano que não negociava com ninguém e ia partir para a guerra: “Vou derrotar militarmente o MPLA. Só a guerra pode resolver isto”.
Herman Cohen conta mais: “Nas eleições de 1992, Jonas Savimbi reforçou a sua posição militar. Durante a campanha foi autorizado a fazer-se acompanhar das suas tropas para fins de segurança, e deixou-as espalhadas, com armas, por todo o país. Antes estava apenas na Jamba. Ele pensava que podia ganhar, que as suas tropas eram melhores... e eram. Tinha acesso a diamantes, tinha acesso a pistas da aterragem onde podia receber armas. Savimbi acreditava totalmente, e apenas, em lutar até ao fim”.
Por força do Acordo de Bicesse foram criadas as Forças Armadas Angolanas em 9 de Outubro 1991. Pouco mais de um mês depois (Em 14 de Novembro) foram nomeados os comandantes das FAA, General João Baptista de Matos e General Abílio José Augusto Camalata (Numa). A 7 de Julho de 1992, antes das eleições , a Comissão Conjunta Político Militar (CCPM) aprovou a dissolução das FAPLA e das FALA. Em 27 de Setembro 1992, foram formalmente extintas as FAPLA e as FALA. Tomou posse a chefia do Estado-Maior General das FAA. Logo após a divulgação dos resultados eleitorais (derrota estrondosa de Savimbi e da UNITA), o criminoso de guerra tocou o apito e Abílio José Augusto Camalata (Numa) desertou.
O sicário savimbista escreveu que tinha “a dura tarefa de construir algo funcional entre antigos inimigos. Mas, como em toda obra nacional, começámos a erguer — pedra sobre pedra, ou talvez casamata sobre casamata — as FAA”. Ninguém pode construir um país com mentirosos. A alternativa democrática não se faz entre patriotas esforçados de um lado, traidores e mentirosos do outro.
Abílio José Augusto Camalata (Numa) desertou, mal tomou posse. Traiu o juramento que fez. Traiu os camaradas das FAA. Traiu a Constituição da República. Traiu o Povo Angolano. Trocou a Pátria Angolana pela kamanga. O chefe Miala encomendou-lhe um “elogio” ao General Higino Carneiro e ele nem hesitou.
A secretária para a América do Norte do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, Maria Luísa Escorel, convocou o representante de Washington em Brasília para lhe dizer que o Presidente Lula devolve a carta que recebeu de Trump por conter mentiras e desrespeitar um Estado Soberano. O Brasil não admite ofensas do chefe da Internacional Fascista.
Trump convidou o Presidente João Lourenço para a Casa Branca, através de Hariana, uma falsa jornalista que, segundo o fascista-mor é “bonita por fora e por dentro”. Convidar um Chefe de Estado através de uma criada às ordens é ofensa e muito grave. Ninguém reagiu em Luanda.
Os deputados da sétima Comissão da Assembleia Nacional manifestaram “satisfação”, com o desempenho da administração da Empresa Edições Novembro. A satisfação foi manifestada pelo deputado Paulo Faria que preside à comissão. O parlamentar realçou o facto de a empresa pretender expandir a sua carteira de assinantes, para mais de 500 mil! Não vou falar da aldrabice do preço do papel. Muito menos da aventura irresponsável de entregarem a caloteiros e ignorantes a gestão da DAMER. Mas vou revelar que o New York Times tem 500 mil assinantes na edição impressa. O jornal espanhol El País tem 110.000 assinantes.
Paulo Faria está feliz com os caloteiros que me devem salários há dez anos. A cegueira de mentalidades chegou à Assembleia Nacional. Nada mais resta. Só fica de pé o calote e o roubo.
O mercado do papel para rotativas é muito especial. Só mesmo peritos se mexem bem no meio. Uma empresa séria tem vários corretores de papel. E só compra bobinas, a quem apresenta as melhores cotações. Não se compra papel de jornal como rolos de papel higiénico.
* Jornalista
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