Já
lá vão os momentos das declarações de Passos Coelho e de Cavaco Silva sobre a
Grécia e o quanto “Portugal anda a pagar de ajudas à Grécia”, declarações que
se provaram ser mentira ou imbecilidades saídas da boca para fora de dois
imbecis que andam à solta nos poderes da República e do Governo de Portugal. Também
já lá vai o dia, ontem, em que o Eurogrupo redobrou a dose de chantagem para
com um Estado Membro, a Grécia. O que ficou destes dois acontecimentos é a
realidade dos factos.
O
Eurogrupo tem por composição mafiosos que primeiro dizem assim e depois assado,
chantageando a Grécia e o seu governo – como poderá verificar mais em baixo em O
ACORDO QUE A GRÉCIA IA ASSINAR, MAS FOI RETIRADO. Cavaco Silva e Passos
Coelho, que demonstram encarnar esses mesmos mafiosos ao mentir aos portugueses
sobre quanto Portugal tem ajudado a Grécia e a “fortuna” que já foi despendida pelos contribuintes portugueses, quase dando a entender que por causa dos
gregos é que passamos fome e todo o tipo de privações que no quotidiano luso
ocorrem e são notícia. Afinal, Cavaco e Passos são dois imbecis ou dois
perigosos mentirosos à solta no poder político?
Encontremos
a resposta à interrogação no artigo inserto no Jornal de Negócios sob a pena de
Rui Peres Jorge. Ontem publicado e agora aqui em baixo reproduzido. (MM / PG)
Os
gregos, os milhões de Cavaco e o esforço de Passos
Rui
Peres Jorge – Negócios, ontem
Hoje
em Bruxelas, o esforço deve concentrar-se em perceber como se poderão juntar as
pontas da negociação. Do ponto de vista financeiro, há muitas contas possíveis.
Mas no fim, o que contará será mesmo a vontade política. E a portuguesa não
parece ser grande.
A
propósito das negociações europeias com o novo governo grego, o Presidente da
República veio falar nos "muitos milhões" que os contribuintes
portugueses oferecem aos gregos. O primeiro-ministro, por seu turno, diz que
Portugal foi o país que mais ajudou a Grécia em termos relativos. Uma e outra
são declarações surpreendentes, não só considerando o momento sensível que as
negociações atravessam, mas também à luz daquilo que são os números sobre o
apoio português. Senão vejamos.
A
Grécia recebeu até agora dos parceiros europeus qualquer coisa como 194 mil
milhões de euros, com características muito diferentes. 52,9 mil milhões são
empréstimos bilaterais, decididos antes da criação do Fundo Europeu de
Estabilidade Financeira, para os quais Portugal contribuiu com 1,1 mil milhões
de euros (2% do total). Este dinheiro é remunerado à Euribor a três meses,
adicionada de um "spread", o que supera o custo de financiamento do
país no curto prazo. O dinheiro conta para a dívida pública nacional, mas é descontado
para efeitos de medidas das regras europeias de dívida e défice.
Nesta
frente Portugal não paga nada aos gregos, só não faz dinheiro com a Grécia.
Além disso, participa de acordo com a chave de capital no BCE (com ligeiros
ajustamentos), como a maioria dos restantes países pelo que não se distingue
especialmente. Convém ainda lembrar que este dinheiro foi emprestado por
solidariedade, mas também por interesse nacional como mandam as relações entre
Estados: o objectivo frustrado era o de travar uma crise sistémica no euro e o
contágio a Portugal.
Há
depois os cerca de 142 mil milhões de euros emprestados à Grécia pelo FEEF (o
mesmo que emprestou dinheiro a Portugal), que se financia no mercado (não pesa
na dívida pública dos Estados-membros) e cobra à Grécia um ligeiro
"spread" sobre os seus custos de financiamento. Neste caso, Portugal
também não paga nada e a solidariedade nacional é ainda mais interessante de
medir. É que por também ter sido resgatado, Portugal não participou nas
garantias dadas pelos Estados-membros ao FEEF. Isto significa que eventuais
perdas não teriam impacto em Portugal (nem na Grécia, Chipre e Irlanda).
Colocar sobre si os holofotes da solidariedade para com a Grécia parece, por
isso, inadequado.
Finalmente,
há "os muitos milhões" dos lucros das obrigações gregas na posse do
Banco de Portugal que Portugal transfere. Em causa estão compras de títulos
pelos bancos centrais da Zona Euro para tentar conter a crise grega (de resto
também compraram obrigações portuguesas). A particularidade no caso grego é
que, dadas as dificuldades helénicas, os países da Zona Euro decidiram
transferir para Atenas os lucros que fazem com esse investimento – o qual foi
financiado a custo zero com dinheiro novo impresso pelo BCE. Devolver os lucros
é uma ajuda, mas significa simplesmente deixar de ganhar com a desgraça alheia.
(De acordo com a Conta Geral do Estado de 2013 e Orçamento de 2015 estão em
causa qualquer coisa como 70 milhões de euros por ano).
Hoje
em Bruxelas será um dia importante para as negociações entre as várias capitais
europeias e Atenas. Depois da Grécia ter deixado cair a proposta de redução do
valor nominal da sua dívida (o que para alguns observadores aconteceu cedo demais) para
se concentrar em negociar um excedente orçamental primário inferior (1,5%
contra os 4,5% previstos no programa de ajustamento), a distância entre as partes é agora relativamente pequena,
pelo menos do ponto de vista financeiro.
O
esforço neste momento deve ser o de tentar juntar as pontas sem implicar perdas
para as várias capitais. E aí há muitas contas possíveis. Mas no fim, o que contará, será
mesmo a vontade política. E a portuguesa, como já é comentado pela imprensa internacional, não parece ser
grande.
Sem comentários:
Enviar um comentário