sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

EM DEFESA DA CRIANÇA ANGOLANA – I



Martinho Júnior, Luanda 

1 – O presente ano de 2015 é, sob o ponto de vista histórico, um ano carregado de simbolismos exaltantes de patriotismo e duma maior mobilização em prol do rumo de Angola independente e soberana, em prol da luta contra o subdesenvolvimento, só possível com a paz e com o aprofundamento da democracia:

Fez 60 anos que, a 2 de janeiro de 1965 a direcção do MPLA, em Brazzaville, recebia a visita do Che na sua passagem por África, que resultou no reforço da Luta de Libertação, com o apoio sobretudo da Revolução Cubana!

A República de Angola perfaz por outro lado 40 anos, a 11 de novembro, 54 anos depois do início da luta armada!

Aproxima-se Angola ainda do ano em que será comemorada década e meia em relação aos Entendimentos do Luena, que possibilitaram o início activo do resgate que há a realizar, a fim de trazer os benefícios do desenvolvimento sustentável a todo o povo angolano, “de Cabinda o Cunene e do mar ao leste”…

O ano de 2015, que será lembrado ainda por causa dos impactos da crise provocada pelas manipulações internacionais que recaem sobre o valor médio das cotações do barril de petróleo, sendo um ano dum Orçamento Geral do Estado comprimido por vários factores de contenção, continua a ser, como nos anos anteriores, pródigo nos esforços devidos para com a educação e a saúde do povo angolano!

Cientes das responsabilidades históricas que advêm da Libertação de África, os dirigentes angolanos têm assim a oportunidade de cuidar do presente e do futuro, em particular em função dos investimentos previstos em benefício das crianças angolanas, o que lhes traz responsabilidades acrescidas, ao serviço de todo o povo angolano!
  
2 – Ao contrário contudo do que seria de esperar, a avaliação do cuidado para com o futuro e as responsabilidades sócio-políticas dos dirigentes angolanos face ao universo infantil, indicia que são muitos ainda aqueles que, entendem o estado como uma “cosa nostra”, pelo que ao invés de o servir, se servem dele ano após ano, com o fito de o delapidar, sem se preocuparem com as consequências que os seus actos provocam, geração após geração.

Por outro lado, a arrumação física do estado angolano parece concorrer também para uma visão estruturalista e não dialéctica dos fenómenos sócio-políticos: os mecanismos de defesa da criança estão instalados, as leis e os regulamentos estão formalizados, mas há inibições severas no que é imperioso fazer, por ausência de compatibilidades das estruturas e instituições, o que provoca uma inércia que é aproveitada pelos oportunistas e até mercenários, muitos deles elementos que estão a demonstrar o seu nefasto carácter com a desvalorização da qualidade ética e moral, em termos de patriotismo, que foi sempre cultivado e proposto pelo Movimento de Libertação em África!
  
3 – Enquanto Antigo Combatente e Veterano da Pátria, coloco sérias dúvidas em relação a dirigentes que, sem tarimba no Movimento de Libertação, a coberto duma certa “tecnocracia”, mais parece corresponderem a elaborados processos de assimilação que se arrastam “desde o tempo da outra senhora”, ainda que capazes de metamorfose graças aos impactos do capitalismo neo liberal em Angola e sem outra “cultura” senão, custe o que custar, a acumulação de riqueza financeira por via do lucro sem barreiras ou limites, estabelecendo um polvo tentacular, instalando-se desde logo na sua cabeça e sabotando o próprio estado angolano nas suas responsabilidades para com a criança e para com o futuro.

Os processos ligados à criança, à educação e ao ensino, enfermam pois da actividade perniciosa e sem escrúpulos desse polvo, que é capaz até de abater uma escola primária ao efectivo do estado angolano, para instalar a sua própria “universidade independente” e muito mais: assumir uma parceria tentacular com o estado angolano, que o estado angolano tem respeitado escrupulosa e religiosamente a cada ano que passa com avultadíssimos pagamentos, com a única garantia que da sua parte haverá sabotagem por via do controlo crescente de gráficas, editoras, distribuidoras e até da venda em praças populares e nas ruas, dos livros que gratuitamente deveriam esperar as crianças nas escolas no início de cada ano lectivo!
  
4 – Habituado a cultivar uma lógica com sentido de vida para com o povo angolano com quem me tenho identifico num trajecto com consciência patriótica, social e cívica, na qualidade de Antigo Combatente e Veterano da Pátria, incomodo-me pela vulnerabilidade dum processo de Libertação que urge dar continuidade em benefício de todo o povo angolano, numa altura em que a luta contra o subdesenvolvimento crónico e histórico é finalmente possível.

Os conteúdos e as práticas anti-patrióticas de alguns estão a chocar, a cada ano que passa e cada vez mais, com a dignidade que o processo de formação, educação, ensino e cultura merece num quadro de Libertação Nacional como esse, tanto mais que trata-se duma frustração aos termos duma garantia para com o futuro, trata-se da ausência de respeito para com o universo infantil angolano, que necessariamente tem de beneficiar dum sistema de ensino pedagógico, exemplar e a salvo de qualquer tipo de continuado mercenarismo ou predação!

Os prejuízos assim acumulados, pesam mais que, por exemplo, as derrotas em campos de batalha: são já várias gerações de crianças que experimentaram a sabotagem por parte dum polvo privado ao estado angolano, ficando sem bases de formação, de ensino e de cultura cívica suficientes, não só para o melhor seguimento de suas carreiras, mas também coarctadas enquanto jovens e adultos, de melhor participação nos legítimos esforços no sentido de dignamente saber honrar compromissos históricos em benefício de todo o povo angolano!

Um polvo privado, sem natureza patriótica, cívica e humana, jamais deveria ter crescido como parceiro do Estado Angolano e é urgente pôr um ponto final à sua premeditada sabotagem à lógica com sentido de vida, clarividente sequência da longa Luta de Libertação Nacional! 

Gravura alusiva à criança, recolhida da exposição de “Os 11 compromissos com a criança angolana” –http://domboscoangola.org/db/blogs/dh/2012/05/14/os-11-compromissos-com-crian%C3%A7-angolanas

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