terça-feira, 17 de março de 2015

ENTRADA DA GUINÉ EQUATORIAL NA CPLP “APENAS DEU FORÇA AO REGIME” - oposição




Madrid, 17 mar (Lusa) - A entrada da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CLPLP), em 2014, apenas "deu força" ao regime daquele país, porque os direitos humanos continuam a ser violados, considerou um dirigente da oposição guineense.

"Esta relação [de Portugal com a Guiné-Equatorial, materializada na adesão à CPLP] foi a que mais fortaleceu o regime. Pensávamos que Portugal não aceitaria a Guiné-Equatorial na CPLP. Mas aceitou, e nós continuamos sem saber quais foram as condições [colocadas ao regime]", declarou à agência Lusa o secretário-geral da União Popular, partido da oposição.

Em entrevista à Lusa em Madrid, Jerónimo Ndong Mesi diz que "foi Portugal que aceitou a Guiné-Equatorial na CPLP", numa decisão que a oposição guineense pensou que viria acompanhada de exigências quanto ao respeito pelos direitos humanos.

"Creio que uma das condições principais deveria ser a questão do respeito pelos direitos humanos, que não são respeitados na Guiné-Equatorial. Ainda não sabemos que condições Portugal colocou ao regime [do presidente Teodore Obiang], que se coloca acima dos seres humanos, da vida dos cidadãos guineenses", sublinha.

Em julho de 2014, a Guiné-Equatorial entrou para a CPLP, sob a condição de que iria abolir a pena de morte no país. Desde então, o regime - considerado um dos mais fechados do mundo por organizações dos direitos humanos - introduziu uma moratória que suspende a aplicação desse tipo de sentença.

Jerónimo Ndong Mesi não entra nas questões jurídicas sobre a aplicação ou não da pena de morte. Mas sublinha que nem tem de entrar, porque a Guiné-Equatorial é um país em que não existe separação de poderes entre o poder político e o judicial e no qual o Estado tem "poder absoluto".

"Quando Obiang mata, tem vários métodos para fazê-lo. Há assassínios políticos e há gente que desaparece e que até hoje não se sabe onde estão", sublinha.

Jerónimo Ndong Mesi acredita que Lisboa "pode e deve" exercer mais pressão sobre o regime de Teodoro Obiang.

"Ouvimos recentemente que o Governo português está para abrir uma embaixada na Guiné-Equatorial. Isso é bom porque assim pode exercer pressão, sobretudo na questão dos direitos humanos, pelas vidas dos seres humanos que vivem na Guiné-Equatorial", salienta o dirigente da UP.

A Guiné Equatorial, uma antiga colónia espanhola, é um dos maiores produtores de petróleo de África e Jerónimo Ndong Mesi admite que o interesse diplomático de Lisboa pode estar mais relacionado com os hidrocarbonetos do que com as condições de vida dos guineenses.

No entanto, escusa-se a elaborar muito sobre esse tema. Prefere destacar que as políticas de Obiang não levam o país "a lado nenhum".

"Com Obiang à frente dos destinos do país não podemos avançar, porque assim o determinam as suas políticas. Quando cresce a economia, melhora a vida do regime, da família de Obiang e dos seus 'amigos'. Nunca chega à população", refere o dirigente da oposição.

Por isso, conta, há sítios na capital, Malabo, com condições de vida infra-humanas.

"Se te dizem que moram pessoas ali, não consegues acreditar", realça.

NVI // PJA

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