Jeronimo
Ndong Mesi sabe o que arrisca ao dizer que a Guiné Equatorial vive num regime
"ditatorial, brutal e corrupto": "Prefiro que a morte me chegue
a qualquer momento por falar, do que depois por me ter calado".
Jeronimo
é secretário-geral da União Popular, um dos partidos "ilegalizados"
que se opõem ao regime do presidente Teodoro Obiang, na Guiné Equatorial. A
entrevista que concede à agência Lusa, em Madrid, coloca-o em risco e ele sabe
disso.
"As
declarações que faço representam um perigo para a minha integridade física. Mas
é um risco assumido. Se falo matam-me, mas se me calo no final também morro.
Prefiro que a morte me chegue a qualquer momento por falar, do que depois por
me ter calado", sublinha.
A
descrição da vida política na Guiné-Equatorial sai-lhe de um jato, em frases
curtas e focadas, que abrangem os principais temas do que considera ser a
negação de um Estado de Direito: imprensa censurada, perseguição política,
assassínios e desaparecimentos, poder judicial ao serviço do regime, corrupção.
Em
tudo isto, diz, está a figura do presidente: Teodoro Obiang, no poder na Guiné
Equatorial desde 1979, quando - ainda general - liderou um golpe de Estado no
país.
"Não
existe qualquer separação entre o Estado e o Poder Judicial. O ditador, Obiang,
está acima de tudo. Primeiro, nomeia os juízes e os magistrados, exercendo o
seu poder sobre eles", realça Jeronimo Mesi.
No
melhor dos casos - como já lhe aconteceu, pessoalmente, durante a campanha
eleitoral em 2013 - um opositor vai preso, recorda.
"Ao
regime não lhe custa nada meter-te na prisão, e depois tira-te de lá quando
quer, sem nenhuma explicação. O regime da Guiné é ditatorial, com tudo o que
isso implica: ter opiniões contrárias ao regime é um problema e metem-nos na
prisão porque dizemos ?não' a uma coisa que Obiang diz ?sim'", conta.
Há
outros com menos sorte, refere Jerónimo Ndongo Mesi.
"Quando
Obiang mata, tem vários métodos para fazê-lo. Há assassínios políticos e há
gente que desaparece e que até hoje não se sabe onde está", sublinha.
De
acordo com o secretário-geral da União Popular (UP), Obiang chega a
"nomear" os presidentes dos partidos da oposição. No caso da UP, essa
prática abriu brechas no partido, que agora se tenta organizar para continuar a
"combater" o regime.
"Há
anos que o regime nomeia os presidentes dos outros partidos. Exonera-os de
forma fulminante e coloca lá novos. (No nosso caso) é como se existissem duas
União Popular: uma facção criada, à força, em ?coligação' com Obiang [presidida
por Alfredo Mitogo Mitogo]. E outra, que somos nós, que ele não quer
reconhecer", explicou o responsável da UP.
Jerónimo
diz que o "seu" presidente da UP continua a ser Daniel Darío Martínez
[Ayecaba].
"Foi
substituído por outro, nomeado por Obiang. E esse outro não faz oposição,
trabalha em conjunto com o regime", descreve Jerónimo.
O
responsável da UP, que acredita que o seu partido "está legal",
garante que não vai desistir.
"A
oposição não vai atirar a toalha. A nossa ação consiste numa luta não violenta.
Optámos pela democracia, optámos por instrumentos não bélicos, porque - para
começar - não os temos e porque queremos aplicar a lei, mudar o regime através
do voto. Temos um programa de governo que o regime não tem. Temos um programa
que pode ajudar mais o povo", diz Jeronimo.
Diário
de Notícias Funchal
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