terça-feira, 28 de abril de 2015

Angola. E A MÃE DE TODOS OS MALES É A… KALUPETEKA



Folha 8 digital (ao), 25 abril 2015

O Governo Provincial do Huam­bo, liderado por Kundy Paihama, o influente político do regime que sempre disse que no país existiam dois tipos de pessoas – os angolanos e os kwachas, acusa a UNI­TA de ter orquestrado um plano político para ser executado pela seita “Sé­timo Dia a Luz do Mun­do”.

Nem nisto o MPLA con­seguiu ir além do que se previa. É, aliás, uma es­tratégia que faz parte do ADN do regime. O plano consistia em levar as po­pulações a abandonarem as suas residências, para se fixarem nas matas, so­bretudo nas ex-bases mi­litares da UNITA.

Estaria a UNITA, presu­me a brilhante (de)mente de Kundy Paihama e seus sipaios, a preparar um exército de cerca de qua­tro mil pessoas (incluindo mulheres e crianças), tan­tos são os simpatizantes da organização também conhecida por “Kalupe­teka”.

Num comunicado, o go­verno provincial explica que a referida organiza­ção (seita, grupo), apro­veitando-se da fé dos seus seguidores, meteu em marcha um plano político bem orquestrado e orien­tado, com muitos traços que identificam a actua­ção política da UNITA.
Kundy Paihama, embora continue a honrar a boça­lidade que sempre o ca­racterizou, já não é o que era. Nos seus bons tem­pos teria com certeza dito que os seguidores de “Ka­lupeteka” acreditam que Jonas Savimbi está vivo.

Lembra o regime que no âmbito da execução do mandato de captura, emitido pela Procurado­ria-Geral da República, as autoridades policiais encontraram no morro do Sumé muito material de propaganda da UNI­TA, incluindo cartões de membros dessa organiza­ção, recentemente emiti­dos e assinados pelo seu secretário provincial, Li­berty Chiayaka.

Convenhamos que, como é regra de ouro da de­mocracia norte-coreana que vigora no nosso país, ter cartão de membro da UNITA é só por si um crime contra a segurança do Estado e, é claro, um inequívoco indício de ter­rorismo.

“Paradoxalmente, a UNI­TA leva a cabo uma pro­paganda hipócrita, enga­nosa e mentirosa de que foi o Governo quem dei­xou e plantou o material de propaganda, através de um helicóptero, quando, de facto, este aparelho só se deslocou ao Sumé dois dias depois do sucedido”, lê-se no documento.

E, convenhamos também, alguma vez o regime era capaz de uma coisa des­sas? Claro que não. Citan­do de novo Kundy Paiha­ma, todos sabemos que, por exemplo, as armas em posse dos militantes do MPLA “são para ca­çar”, “o mesmo não se po­dendo dizer das que estão nas mãos dos adeptos da UNITA”.

A UNITA, prossegue o comunicado do regime, é que protagoniza, de fac­to, acções de intolerância política, muitas delas de carácter subversivo, acu­sando o Governo das res­ponsabilidades dos seus próprios actos.

O Governo da Província do Huambo afirma que, no âmbito das suas res­ponsabilidades e dian­te dos acontecimentos, priorizou as exéquias dos agentes da autoridade, devidamente identifica­dos, deixando para pos­terior a identificação e o enterro dos elementos que se envolveram nas acções contra a polícia, de que resultou na morte de treze deles.

Assim, comunica a todas as pessoas que eventual­mente tenham algum membro da sua família en­volvido na troca de tiros, que vitimou mortalmente efectivos da polícia, no sentido de dirigirem-se à casa mortuária do Hos­pital Geral do Huambo, para possível identifica­ção dos cadáveres reco­lhidos no local para a rea­lização dos funerais. Não fala, obviamente, dos que pura e simplesmente de­sapareceram…

Conclui alertando, mais uma vez, a população e os religiosos, em parti­cular, para a vigilância e obediência aos órgãos de Defesa e Segurança, devendo denunciar opor­tunamente quaisquer intentos contra a ordem pública, a paz e unidade nacional.

Entretanto, o líder da ban­cada parlamentar da UNI­TA revelou que mais de 700 pessoas terão morri­do em conflitos no dia 16, entre a polícia e seguidos da “Kalupeteka”.

Mas como é que isso é possível, se a Polícia Na­cional (do MPLA) fala em apenas 13 civis mortos? Provavelmente o método de contagem é o mesmo que o MPLA adoptou no 27 de Maio de 1977. En­quanto uns falam em cer­ca de 80 mil, a versão ofi­cial aponta para poucos milhares, havendo mes­mo quem diga que esse massacre nunca existiu.

PROMESSAS DO PROCURADOR-GERAL

Entretanto, o procurador­-geral da República de Angola afirmou que aque­le órgão “não está parado” e que decorrem investi­gações à organização reli­giosa “A Luz do Mundo”, envolvida em confrontos mortais com a polícia, há uma semana, no Huambo.

A posição foi assumida em Luanda por João Ma­ria de Sousa, na abertura da conferência interna­cional sobre promoção e protecção dos direitos humanos, organizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em conjunto com o Progra­ma das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), numa altura em que os desenvolvimentos em torno desta organiza­ção dita ilegal, mau grado a liberdade de culto estar prevista na Constituição, liderada por Juliano Ka­lupeteka, concentram as atenções.

Os confrontos entre ele­mentos da “Kalupeteka“, que advoga o fim do mundo no final de 2015, e uma força policial, em Serra Sumé, na província do Huambo, terminaram com nove agentes poli­ciais mortos e mais treze vítimas mortais – na ver­são policial não confir­mada por nenhuma fonte independente – entre os seguidores, num acam­pamento onde estariam mais de 4.000 pessoas.

Para o procurador-geral da República, estes actos constituem “atrocidades da pior espécie”, cuja responsabilidade – mes­mo antes de qualquer in­quérito - o próprio João Maria de Sousa atribui aos membros da “Kalu­peteka“, recordando que os polícias foram “cobar­demente atacados”, à en­trada do acampamento, munidos de um mandado de captura.

“A referida seita liderada pelo cidadão José Juli­no Kalupeteka instiga os sues crentes a inverterem a ordem pública e a pra­ticarem actos de vanda­lismo”, afirmou o procu­rador.

João Maria de Sousa re­cordou que a Constitui­ção prevê que a liberda­de de crença religiosa e de culto “é inviolável e que ninguém pode ser perseguido por motivos de crença religiosa ou convicções filosóficas ou políticas”. Mas isso “não pode atentar contra a dig­nidade da pessoa humana, nem perturbar ou atentar contra a ordem legalmen­te estabelecida”.

“A PGR, apesar de aparen­temente silenciosa, por obediência ao segredo de Justiça, não está parada nem indiferente. O Minis­tério Público desdobra-se em acções com a Polícia de Investigação Criminal e instaurou processos­-crime com o objectivo de responsabilizar todos os culpados envolvidos, sem excepção”, afirmou.

José Julino Kalupeteka, de 52 anos, está detido, sen­do contraditórias as ver­sões sobre o seu estado de saúde.

O mesmo acontece so­bre o número de vítimas do lado da “Kalupeteka“, com a Polícia Nacional a afirmar que foram mor­tos, na troca de tiros com os agentes policiais, 13 elementos, enquanto o maior partido da oposi­ção, a UNITA, bem como fontes da população local, fala na “chacina” de cen­tenas de pessoas, cerca de 800, no acampamento deste grupo. Os dados do F8 apontam para cerca de 400.


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