Folha
8 digital (ao), 25 abril 2015
O
Governo Provincial do Huambo, liderado por Kundy Paihama, o influente político
do regime que sempre disse que no país existiam dois tipos de pessoas – os
angolanos e os kwachas, acusa a UNITA de ter orquestrado um plano político para
ser executado pela seita “Sétimo Dia a Luz do Mundo”.
Nem
nisto o MPLA conseguiu ir além do que se previa. É, aliás, uma estratégia que
faz parte do ADN do regime. O plano consistia em levar as populações a
abandonarem as suas residências, para se fixarem nas matas, sobretudo nas
ex-bases militares da UNITA.
Estaria
a UNITA, presume a brilhante (de)mente de Kundy Paihama e seus sipaios, a
preparar um exército de cerca de quatro mil pessoas (incluindo mulheres e
crianças), tantos são os simpatizantes da organização também conhecida por
“Kalupeteka”.
Num
comunicado, o governo provincial explica que a referida organização (seita,
grupo), aproveitando-se da fé dos seus seguidores, meteu em marcha um plano
político bem orquestrado e orientado, com muitos traços que identificam a
actuação política da UNITA.
Kundy
Paihama, embora continue a honrar a boçalidade que sempre o caracterizou, já
não é o que era. Nos seus bons tempos teria com certeza dito que os seguidores
de “Kalupeteka” acreditam que Jonas Savimbi está vivo.
Lembra
o regime que no âmbito da execução do mandato de captura, emitido pela
Procuradoria-Geral da República, as autoridades policiais encontraram no morro
do Sumé muito material de propaganda da UNITA, incluindo cartões de membros
dessa organização, recentemente emitidos e assinados pelo seu secretário
provincial, Liberty Chiayaka.
Convenhamos
que, como é regra de ouro da democracia norte-coreana que vigora no nosso
país, ter cartão de membro da UNITA é só por si um crime contra a segurança do
Estado e, é claro, um inequívoco indício de terrorismo.
“Paradoxalmente,
a UNITA leva a cabo uma propaganda hipócrita, enganosa e mentirosa de que
foi o Governo quem deixou e plantou o material de propaganda, através de um
helicóptero, quando, de facto, este aparelho só se deslocou ao Sumé dois dias
depois do sucedido”, lê-se no documento.
E,
convenhamos também, alguma vez o regime era capaz de uma coisa dessas? Claro
que não. Citando de novo Kundy Paihama, todos sabemos que, por exemplo, as
armas em posse dos militantes do MPLA “são para caçar”, “o mesmo não se podendo
dizer das que estão nas mãos dos adeptos da UNITA”.
A
UNITA, prossegue o comunicado do regime, é que protagoniza, de facto, acções
de intolerância política, muitas delas de carácter subversivo, acusando o
Governo das responsabilidades dos seus próprios actos.
O
Governo da Província do Huambo afirma que, no âmbito das suas responsabilidades
e diante dos acontecimentos, priorizou as exéquias dos agentes da autoridade,
devidamente identificados, deixando para posterior a identificação e o
enterro dos elementos que se envolveram nas acções contra a polícia, de que
resultou na morte de treze deles.
Assim,
comunica a todas as pessoas que eventualmente tenham algum membro da sua
família envolvido na troca de tiros, que vitimou mortalmente efectivos da
polícia, no sentido de dirigirem-se à casa mortuária do Hospital Geral do
Huambo, para possível identificação dos cadáveres recolhidos no local para a
realização dos funerais. Não fala, obviamente, dos que pura e simplesmente desapareceram…
Conclui
alertando, mais uma vez, a população e os religiosos, em particular, para a
vigilância e obediência aos órgãos de Defesa e Segurança, devendo denunciar
oportunamente quaisquer intentos contra a ordem pública, a paz e unidade
nacional.
Entretanto,
o líder da bancada parlamentar da UNITA revelou que mais de 700 pessoas terão
morrido em conflitos no dia 16, entre a polícia e seguidos da “Kalupeteka”.
Mas
como é que isso é possível, se a Polícia Nacional (do MPLA) fala em apenas 13
civis mortos? Provavelmente o método de contagem é o mesmo que o MPLA adoptou
no 27 de Maio de 1977. Enquanto uns falam em cerca de 80 mil, a versão oficial
aponta para poucos milhares, havendo mesmo quem diga que esse massacre nunca
existiu.
PROMESSAS
DO PROCURADOR-GERAL
Entretanto,
o procurador-geral da República de Angola afirmou que aquele órgão “não está
parado” e que decorrem investigações à organização religiosa “A Luz do
Mundo”, envolvida em confrontos mortais com a polícia, há uma semana, no
Huambo.
A
posição foi assumida em Luanda por João Maria de Sousa, na abertura da
conferência internacional sobre promoção e protecção dos direitos humanos,
organizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em conjunto com o Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), numa altura em que os
desenvolvimentos em torno desta organização dita ilegal, mau grado a liberdade
de culto estar prevista na Constituição, liderada por Juliano Kalupeteka,
concentram as atenções.
Os
confrontos entre elementos da “Kalupeteka“, que advoga o fim do mundo no final
de 2015, e uma força policial, em
Serra Sumé , na província do Huambo, terminaram com nove
agentes policiais mortos e mais treze vítimas mortais – na versão policial
não confirmada por nenhuma fonte independente – entre os seguidores, num acampamento
onde estariam mais de 4.000 pessoas.
Para
o procurador-geral da República, estes actos constituem “atrocidades da pior
espécie”, cuja responsabilidade – mesmo antes de qualquer inquérito - o
próprio João Maria de Sousa atribui aos membros da “Kalupeteka“, recordando
que os polícias foram “cobardemente atacados”, à entrada do acampamento,
munidos de um mandado de captura.
“A
referida seita liderada pelo cidadão José Julino Kalupeteka instiga os sues
crentes a inverterem a ordem pública e a praticarem actos de vandalismo”,
afirmou o procurador.
João
Maria de Sousa recordou que a Constituição prevê que a liberdade de crença
religiosa e de culto “é inviolável e que ninguém pode ser perseguido por
motivos de crença religiosa ou convicções filosóficas ou políticas”. Mas isso
“não pode atentar contra a dignidade da pessoa humana, nem perturbar ou
atentar contra a ordem legalmente estabelecida”.
“A
PGR, apesar de aparentemente silenciosa, por obediência ao segredo de Justiça,
não está parada nem indiferente. O Ministério Público desdobra-se em acções
com a Polícia de Investigação Criminal e instaurou processos-crime com o
objectivo de responsabilizar todos os culpados envolvidos, sem excepção”,
afirmou.
José
Julino Kalupeteka, de 52 anos, está detido, sendo contraditórias as versões
sobre o seu estado de saúde.
O
mesmo acontece sobre o número de vítimas do lado da “Kalupeteka“, com a
Polícia Nacional a afirmar que foram mortos, na troca de tiros com os agentes
policiais, 13 elementos, enquanto o maior partido da oposição, a UNITA, bem
como fontes da população local, fala na “chacina” de centenas de pessoas,
cerca de 800, no acampamento deste grupo. Os dados do F8 apontam para cerca de
400.
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