José
Sócrates nega corrupção e fala em "abuso" das autoridades
O
antigo primeiro-ministro José Sócrates diz estar a ser vítima do
"abuso" das autoridades, que o prenderam e mantêm preso sem provas,
só faltando condená-lo, e nega ter cometido qualquer crime de corrupção
envolvendo o grupo Lena.
Numa
carta enviada segunda-feira a António Campos, como ele do PS, José Sócrates diz
ser falso "que existisse especial proximidade" entre ele e o
administrador do Grupo Lena Joaquim Barroca, com quem apenas se encontrou
"uma meia dúzia de vezes na vida".
Joaquim
Barroca, administrador do Grupo Lena, foi detido na semana passada, na
sequência de buscas na sede da empresa e no âmbito da 'Operação Marquês', a
mesma que levou à detenção de José Sócrates e que este diz, na carta, que não
surgiu para perseguir um crime, mas para o perseguir pessoalmente, uma
"caça ao homem".
Estas
são palavras do ex-primeiro-ministro numa carta enviado ao amigo e que a
estação televisiva SIC divulgou hoje, colocando-a também disponível na sua
página na Internet (Sic-Notícias).
"Infelizmente,
chegamos a um tempo em que tanta indiferença perante estes abusos das
autoridades parece confirmar que as garantias do Estado de Direito já não são
vistas como a fonte legitimadora da justiça penal, mas como relíquias formais
ultrapassadas", afirma Sócrates na carta, acrescentando: "Nunca
pensei que regressássemos a um tempo em que é necessário lembrar que quando a
ação penal ignora as barreiras que o Estado de Direito lhe coloca, de
proporcionalidade, de garantias de processo, de formalismo, o resultado será
sempre o terrorismo de Estado".
Na
missiva, José Sócrates critica violentamente o Ministério Público, a quem acusa
de não apresentar factos nem provas dos crimes de que o acusa.
"Como
é que pode haver indícios fortes de crimes se não se sabe de quê"?,
questiona, perguntando também que crime cometeu, onde, quando e como. "Não
sei, nem o Ministério Público sabe, até porque não cometi crime algum",
escreve.
Depois
ainda refere que as "fugas criminosas e seletivas" ao Segredo de
Justiça visam criar a ideia na opinião pública de que foram de facto praticados
crimes, e sobre o perigo de perturbação de inquérito caso estivesse em
liberdade, ou o risco de fuga, diz que aqui o Ministério Público perdeu não só
"o sentido do ridículo", como "o respeito pela
inteligência" de todos.
Sócrates
escreve também que em todo este processo há um facto novo, que são as
informações sobre contas na Suíça - "propositadamente escondidas pelo
Ministério Público" -, que confirmam que não é referido em nenhuma delas e
que não teria acesso a esse dinheiro e que não podia de nenhuma forma ou
momento, dispor dele.
Quanto
à imputação do crime de corrupção, que "não passa de um insulto" e é
"patética, porque até agora não sabem onde se praticou o crime, onde se
praticou ou quando".
"Quem
imputa crimes sem fundamento, o que faz é ofender e insultar. Quem prende para
investigar e usa a prisão como única prova não só nega a justiça democrática,
mas coloca-a sob a horrível suspeita de funcionar como instrumento de
perseguição política", escreve Sócrates na carta enviada a António Campos.
E
já no fim, e depois do "abraço", ainda diz ser falso ter favorecido o
grupo Lena e que o Governo atual adjudicou a este grupo mais empreitadas de
obras públicas do que o Governo socialista a que presidiu.
José
Sócrates está detido desde 21 de novembro do ano passado. Foi primeiro-ministro
entre 2005 e 2011.
TSF
Administrador
do Grupo Lena fica em prisão preventiva
O
administrador do Grupo Lena Joaquim Barroca Rodrigues ficou em prisão
preventiva, no âmbito da Operação Marquês, podendo esta medida de coação ser
substituída pela prisão domiciliária com pulseira eletrónica.
Determinou
hoje o Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC).
Joaquim
Barroca Rodrigues, vice-presidente do Grupo Lena e filho do fundador, foi
detido na quarta-feira à noite, na sequência de buscas realizadas à sede da
empresa, na Quinta da Sardinha, concelho de Leiria.
Segundo
o TCIC, existem fortes indícios da prática pelo arguido dos crimes de fraude
fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção ativa.
O
juiz Carlos Alexandre determinou, depois do primeiro interrogatório judicial, a
prisão preventiva do empresário, podendo esta ser substituída por obrigação de
permanência na habitação com vigilância eletrónica, "caso se mostrem
preenchidos os requisitos técnicos".
Segundo
um comunicado do tribunal, além de ficar provisoriamente em prisão preventiva,
o arguido está também proibido de manter contactos com "qualquer outro
membro da administração ou da comissão executiva ou colaboradores das sociedade
do grupo Lena", assim como com "qualquer outro dos outros arguidos já
constituídos no inquérito", a saber, "Carlos Santos Silva, Joao Perna,
Gonçalo Trindade Ferreira, José Sócrates, Lalanda de Castro e Inês do Rosário
[mulher de Carlos Santos Silva]".
Fica
ainda proibido de manter contacto com "administradores-gerentes ou outros
colaboradores de sociedade na esfera jurídica de Carlos Santos Silva".
Joaquim
Barroca foi a segunda pessoa com ligações ao Grupo Lena a ser detida no âmbito
da "Operação Marquês", que investiga fraude fiscal, branqueamento de
capitais e corrupção, depois da detenção do ex-administrador Carlos Santos
Silva, que está em prisão preventiva.
No
âmbito da mesma operação, em novembro passado, foi igualmente detido o
ex-primeiro-ministro José Sócrates, que está a cumprir a prisão preventiva no
estabelecimento prisional de Évora.
Lusa,
em TSF – 24 abril 2015
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