Boa
tarde. Vem aí o Expresso Curto, das manhãs do jornal Expresso mas que aqui no
PG chega já na hora do almoço. Hora de um café e um bagaço depois do almoço. Assim
para o operariado e todos aqueles que almoçam ao meio-dia. Quando almoçam. É a
plebe. Os escravos para todo o serviço.
Pensando
bem esses plebeus não podem beber café por sistema. Nem almoçar ou jantar por
sistema. Foi recriada a técnica de enganar o estômago em Portugal. Enquanto
uns não têm problemas financeiros e podem alimentar-se sempre que preciso
outros não. Não podem por isso andar a beber expresso curtos ou compridos, nem
bicas ou cimbalinos. Repare-se que o aumento do salário mínimo nacional foi de
20 euros, depois de muitos anos sem ser aumentado. Ora, se beberem um café por
dia nos locais mais baratos – 60 cêntimos, lá se vai o aumento do salário mínimo.
Ridículo mas verdade. Por ser verdade é mesmo muito ridículo. Além disso mostra
a faceta dos governos ao implementarem “aumentos” destes para os que produzem
mais-valia à laia de escravos sem receberem uma ínfima compensação. Em vez
disso são literalmente gozados pelos que podem beber cafés o dia inteiro sem
que isso lhes abale o orçamento familiar.
Falámos
aqui dos que têm emprego e por vencimento o salário mínimo nacional mas há mais
de um milhão que nem isso tem. Tem nada!
Um
milhão e tal que está desempregado e sem qualquer espécie de apoio. Se uns são
pobres os outros são paupérrimos. Entretanto há os que dividem muitos milhões
entre si em “prémios” (caso da EDP e outros mais). Há os que ainda sendo
ministros e noutras funções governamentais já têm lugares assegurados em
empresas que lhes vão pagar imorais vencimentos somados a mordomias. É sempre
assim. Desta vez não vai ser diferente.
Todo
este arrazoado para lembrar os que não têm hipótese de beber (comprar) um
expresso curto, nem uma bica ou um cimbalino. Nem uma carcaça. Lembrar também
os que não podem comprar mas por vezes comprarm… e ficam de imediato com o
orçamento estragado. Ainda mais estragado porque estragado já ele está todos os
meses, considerando que nunca dá para as despesas mais elementares de uma casa
de família.
Enquanto
isso os jornalistas do Expresso e doutros órgãos de comunicação social rejeitam
meter a cabeça nos bairros pobres, miseráveis, de Portugal. Lá vão falando de
pobreza segundo números inexatos do Instituto Nacional de Estatística, o INE. INE
que muitas vezes suscita certas dúvidas sobre um alinhamento com os encobrimentos do
governo. Vê-se no desemprego. Que é na prática, na realidade, muito superior ao
que o INE divulga. Todos sabemos isso. Assim como sabemos que a miséria é muito
superior à que é relatada. Há a miséria escondida ou pobreza envergonhada. Essa
não conta para as estatísticas?
Por
agora chega. Vamos lá ao Expresso Curto. Pedro Caldeira é quem o serve. A máquina
onde o tira é o Expresso. Um convite aos que lá trabalham: venham para a rua. Vão
para os bairros pobres. Ganhem a confiança das pessoas e logo verão que elas
lhes mostrarão a miséria em que mal sobrevivem. Não vão para lá armados em
doutores da mula russa. Em Mais Sabedores.
Quando de miséria nada sabem. Muito menos sobreviver sem
nada. Façam um Expresso Comprido, que abranja os portugueses da ralé com velhos subalimentados, crianças carenciadas, montanhas de jovens desempregados e desmotivados. Jovens que optam pela prostituição para ajudar a alimentar as famílias... Um mundo que o Expresso do senhor Balsemão deve visitar em profundidade e não superficialmente.
Não
se ofendam, senhores jornalistas. Isto é só um apelo para se integrarem na miséria
que vai por este país. Há na praça da comunicação social jornalistas com capacidades
para fazer esse trabalho. Deixem-nos trabalhar e… publiquem o que na realidade é
Portugal da miséria para além das avenidas e ruas de Lisboa por onde tantos
passam e nada vêem. Para além das portas das casas dos bairros sociais e de outros mais.
Bom
café expresso. Curto, porque de água de lavar peúgas estamos nós fartos. Os muitos
mais de dois milhões de portugueses na miséria subalimentar e de tudo que é
essencial para uma vida condigna.
Redação
PG
Bom
dia, este é o seu Expresso Curto
Pedro
Candeias, coordenador
A
morte acorda cedo e de AK-47 na mão
São
seis e trinta da manhã aqui e oito e trinta da manhã no Quénia e avida em
Garissa terá posto o pé fora da porta há duas horas. Daqui a doze, às seis e
meia da tarde de lá, quatro e meia da tarde de cá, a vida voltará esconder-se
em casa, porque desce o recolher obrigatório sobre a cidade que percebeu
que a morte usa AK-47 e explosivos à cintura.
É que a vida em Garissa tem as horas contadas desde as cinco e trinta da manhã de 2 de abril: um grupo de tipos do Al-Shabaab entrou na Universidade de Garissa e matou 148 pessoas (142 estudantes, 3 soldados e 3 polícias) em nome da sua religião e contra a religião alheia. Quatro desses terroristas foram mortos e os seus corpos expostos à multidão em carrinhas pick-up - um deles era um rapaz brilhante, filho de um dirigente político queniano; outros cinco foram detidos e há ainda um último que tem a cabeça a prémio.
Numa versão dispensável da teoria do karma, o presidenteUhuru Kenyatta engoliu as críticas feitas na véspera ao Reino Unido e à Austrália, por porem alertas à segurança nos vistos. Chamou-lhes “colonialistas” e disse-lhes para verem o que era a vida no Quénia – leio na Newsweek que há uma lei que proíbe os media quenianos de passarem imagens que instiguem o “medo” no público. Pior - Garissa era tido como um lugar seguro, por estar fortificado e a 200 quilómetros da Somália.
Sucede que os países têm fronteiras que a violência não tem. E, na Síria, o Estado Islâmico já controla 90% do campo de refugiados de Yarmourk, onde vivem palestinianos a oito quilómetros de Damasco. A situação é dramática – “uma afronta à humanidade”, diz a ONU - e já pôs o exército sírio lado a lado com milícias da Palestina para combater os radicais islâmicos. Há pelos menos 18 mil pessoas dentro de Yarmourk.
E no Iraque (lembra-se do que lhe disse sobre fronteiras?) há mais de 2 mil anos de história em Hatra que continuam a ser apagados à marretada e a tiros de kalashnikov pelo Estado Islâmico. Coluna a coluna, estátua a estátua, pedra a pedra, vemos um pedaço da humanidade reduzido a pó – e depois a nada. E tudo o que fica são 42 segundos de imagens tiradas por um drone.
OUTRAS NOTÍCIAS
É que a vida em Garissa tem as horas contadas desde as cinco e trinta da manhã de 2 de abril: um grupo de tipos do Al-Shabaab entrou na Universidade de Garissa e matou 148 pessoas (142 estudantes, 3 soldados e 3 polícias) em nome da sua religião e contra a religião alheia. Quatro desses terroristas foram mortos e os seus corpos expostos à multidão em carrinhas pick-up - um deles era um rapaz brilhante, filho de um dirigente político queniano; outros cinco foram detidos e há ainda um último que tem a cabeça a prémio.
Numa versão dispensável da teoria do karma, o presidenteUhuru Kenyatta engoliu as críticas feitas na véspera ao Reino Unido e à Austrália, por porem alertas à segurança nos vistos. Chamou-lhes “colonialistas” e disse-lhes para verem o que era a vida no Quénia – leio na Newsweek que há uma lei que proíbe os media quenianos de passarem imagens que instiguem o “medo” no público. Pior - Garissa era tido como um lugar seguro, por estar fortificado e a 200 quilómetros da Somália.
Sucede que os países têm fronteiras que a violência não tem. E, na Síria, o Estado Islâmico já controla 90% do campo de refugiados de Yarmourk, onde vivem palestinianos a oito quilómetros de Damasco. A situação é dramática – “uma afronta à humanidade”, diz a ONU - e já pôs o exército sírio lado a lado com milícias da Palestina para combater os radicais islâmicos. Há pelos menos 18 mil pessoas dentro de Yarmourk.
E no Iraque (lembra-se do que lhe disse sobre fronteiras?) há mais de 2 mil anos de história em Hatra que continuam a ser apagados à marretada e a tiros de kalashnikov pelo Estado Islâmico. Coluna a coluna, estátua a estátua, pedra a pedra, vemos um pedaço da humanidade reduzido a pó – e depois a nada. E tudo o que fica são 42 segundos de imagens tiradas por um drone.
OUTRAS NOTÍCIAS
Sampaio da Nóvoa ainda não se anunciou ao português mas já fez alguma gente feliz – e outra tanta infeliz. Marques Mendes, por exemplo, diz que o candidato-que-ainda-não-é-candidato é perfeito para direitista ver e que Marcelo lhe chamará um figo. Ou um folar, vá, porque é Páscoa e uma metáfora cai sempre bem. O que cai mal a Sérgio Sousa Pinto é a “demagogia” de quem “agradece a Deus a graça de ser pobre”, duas de três ou quatro coisas que o deputado do PS vê em Sampaio da Nova – e nenhuma delas é boa. E bom, bom, para João Torres, líder dos jovens socialistas, era ver António Guterres a chegar-se à frente, coisa que não ata nem desata e deixa a esquerda num nó. E à direita os laços parecem lassos e o comentador favorito dos portugueses já mede palavras. E adversários: “Houve uma minimização da candidatura de Sampaio da Nóvoa.”
Já Yanis Varoufakis não tem mãos a medir – na quinta-feira há €458 milhões que têm de ser entregues – e voou ontem para Washington para uma conversa informal com Christine Lagarde. Ele gosta dela e ela gosta dos gregos, como se pode ver aqui, e todo o charme de Varoufakis será pouco para convencer o FMI (e os americanos do Departamento do Tesouro com quem se reúne hoje) a pressionarem os Europeus nas contas e nos cortes que exigem.
Dos cortes para o racionamento porque o Estado da Califórnia vive uma seca sem precedentes e o governador Jerry Brown ordenou que o uso da água baixe 25%. Sem neve no inverno – e ela foi procurada na Sierra Nevada – os depósitos ficam vazios. Tal como os argumentos de quem ataca o aquecimento global.
E como vivemos na globalização, que tal esta história do "Sunday Times": Michael Bloomberg, antigo mayor de Nova Iorque, quer cruzar o Atlântico e tornar-se mayor de Londres. Diz que preenche os requisitos: foi casado com uma inglesa, já jogou pólo com o príncipe Harry - e um dia partilhou um cachorro quente com David Cameron.
Aconteceu em 2010
FRASES
"Que uma oração incessante suba de todos os homens de boa vontade para os que perderam a vida - penso particularmente nos jovens que foram mortos na quinta-feira, na Universidade de Garissa, no Quénia." Papa Francisco, para os que partiram, na mensagem pascal
“Que bom Cristão seria capaz de dizer a uma mulher de 85 anos que não pode ter tratamento para o cancro por não ter dinheiro, enquanto [o país] gasta milhões em ajudas externas e permite aos estrangeiros que entrem na Grã-Bretanha para serem submetidos a testes HIV e terem direito a medicamentos que custam 20 mil libras por ano?” Nigel ‘eu-não-acabei-de-dizer-isto’ Farage, líder do UKIP, em entrevista à Sky News. Há um ano, Farage viu Cristo.
“Esta é uma oportunidade única. É a melhor forma de garantirmos que o Irão não fabrica uma bomba nuclear.” Barack Obama, finalmente a justificar o Prémio Nobel da Paz, ao NYT
“A maior parte das vezes, as pessoas são mais desesperadas e ridículas do que heróicas. E então eu faço [represento] o que tem de ser feito.” Viggo Mortensen, o anti-herói, ao Guardian
O QUE ANDO A LER
Um dia, falávamos de Ernest Hemingway e disse-me que os bons escritores eram aqueles que punham a palavra certa a seguir à outra - e por ali adiante. Como se as frases estivessem escritas no tempo e destinadas a serem assim e alguém lhes tivesse preenchido os espaços
Quem não explodiu foi Hitler para frustração de Georg Elser, nesta história incrível recuperada pela BBC. Elser era um carpinteiro alemão que tinha detalhadamente planeado um atentado na cervejaria de Berlim onde o ditador dava os seus espectáculos de oratória. Durante 30 dias, Elser entrava tarde no estabelecimento e deixava-se ficar até que o dito fosse fechado; depois, noite após noite, ia ‘escavando’ um pilar junto do palanque onde Hitler discursava para lá pôr a bomba. Que rebentou tarde a 8 de novembro de 1939.
Agora que se faz tarde e o dia vai alto mas chuvoso aproveite para passar os olhos pelo site do Expresso e ao final da tarde sente-se a ler o Expresso Diário - como hoje é segunda-feira, use o código da revista E.
Amanhã pela fresca receberá outra versão do Expresso Curto, melhor editada e remasterizada do que esta - é o director’s cut do Ricardo Costa.
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