sexta-feira, 3 de abril de 2015

Portugal - Serviços Secretos. PCP acusa maioria de travar esclarecimento sobre escutas




O PCP acusou hoje PSD e CDS-PP de travarem o esclarecimento sobre denúncias de escutas ilegais por parte dos serviços secretos, admitindo que há prova documental indiciando este tipo de práticas inconstitucionais e do foro criminal.

António Filipe, deputado do PCP e vice-presidente da Assembleia da República, assumiu esta posição à agência Lusa em reação à divulgação de indícios de que os serviços de informações nacionais recorrem com frequência à prática ilegal de escutas.

"Há algum tempo que têm surgido denúncias concretas de que os manuais pelos quais os agentes são instruídos incluem a faculdade de escutas, o que é ilegal, inconstitucional e inclusivamente constitui um ilícito criminal. O Conselho de Fiscalização dos Serviços de Informações da República Portuguesa (CFSIRP) foi confrontado com isso, mas desvalorizou a questão. No entanto, o fumo começa a ser muito intenso e, como se costuma dizer, não há fumo sem fogo e importa esclarecer cabalmente este assunto", defendeu António Filipe.

O deputado do PCP exigiu por isso que o CFSIRP "preste mais esclarecimentos" e que a maioria PSD/CDS-PP "deixe de ter a atuação lamentável de continuar a obstaculizar o conhecimento destas questões".

"O PCP pediu a audição do secretário-geral do SIRP [Rui Pereira] e do conselho de fiscalização [órgão presidido pelo deputado social-democrata Paulo Mota Pinto] para esclarecer acusações deste tipo feitas no âmbito do processo judicial que envolve o ex-diretor do SIED (Serviço de Informações Estratégicas e de Defesa) Jorge Silva Carvalho, mas foi rejeitado. Estamos neste momento confrontados com dois casos graves: As acusações concretas feitas aos serviços de informações, com a apresentação de prova documental; e os obstáculos da maioria PSD/CDS para que o parlamento exerça os seus poderes de fiscalização", acusou António Filipe.

Confrontado com a possibilidade de o parlamento estar apenas perante uma alegada vingança de ordem pessoal de um ex-quadro superior das "secretas", o deputado do PCP contrapôs que, "independentemente das motivações que possam estar na origem das denúncias, a questão de fundo é saber se há ou não práticas ilegais por parte dos serviços de informações".

"Caso se demonstre que os serviços de informações cometem ações ilegais, designadamente escutas ou interceções telefónicas, têm de ser apuradas responsabilidades, inclusivamente do foro criminal", defendeu o vice-presidente da Assembleia da República.

Questionado se o PCP pode aceitar escutas pelos serviços de informações em situações limite para proteger a segurança nacional, António Filipe respondeu: "Pelo que se diz, meios de escuta toda a gente pode ter, assim como toda a gente pode ter meios para cometer crimes".

"A Constituição e a lei portuguesa são muito claras em especificar que apenas as autoridades com competência para a investigação criminal podem utilizar a escuta telefónica. Não podemos abdicar de combater uma devassa incontrolada sobre a generalidade dos cidadãos", frisou.

Para António Filipe, "o mecanismo de fiscalização em Portugal não é adequado e já está demonstrado que o CFSIRP não tem condições para fiscalizar aquilo que deve, andando sempre a correr atrás do prejuízo".

"A Assembleia da República tem de ter poderes diretos de fiscalização dos serviços de informações, não através de um conselho de fiscalização refém de uma maioria parlamentar. Os conselhos de fiscalização são sistematicamente reféns de uma maioria alargada PSD, PS e CDS. Esta é uma situação anómala do regime democrático", sustentou.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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