domingo, 3 de maio de 2015

Programa de habitação em Cabo Verde financiado por Portugal baixa 2.000 casas – PM




O programa Casa para Todos em Cabo Verde, financiado por uma linha de crédito portuguesa de 200 milhões de euros, vai ter menos 2.000 casas devido a alterações no modelo de acesso à banca, admitiu hoje o primeiro-ministro cabo-verdiano.

O modelo, explicou José Maria Neves, foi implementado na sequência das dificuldades que os beneficiários, de famílias carenciadas, tiveram no acesso ao crédito bancário, o que levou o executivo a impor uma "política de renda resolúvel", mecanismo "facilitador" para as famílias pagarem as respetivas prestações.

A medida, admitiu, acabou por trazer "dificuldades de tesouraria" à empresa Imobiliária, Fundiária e Habitat, SA (IFH, que gere a linha de crédito do programa), o que inviabilizou o pagamento da contrapartida financeira do Estado de Cabo Verde e levou ao incumprimento no estabelecido no acordo com Portugal.

"Estávamos a falar inicialmente em mais de 8.000 habitações e, neste momento, estamos a falar em seis mil e tal. Temos de remover alguns constrangimentos da parte do Estado de Cabo Verde para podermos cumprir o estabelecido em relação à construção das habitações", afirmou José Maria Neves, que falava aos jornalistas à margem do Encontro dos Profissionais de Comunicação Residentes e da Diáspora.

"São mudanças que tivemos de fazer para podermos garantir que as pessoas tivessem acesso à habitação. Criamos mecanismos facilitadores e isso criou problemas de tesouraria ao IFH. Temos de encontrar novas soluções, tendo em conta que, pela via da renda resolúvel, entrarão menos recursos para o IFH e, consequentemente haverá mais dificuldades financeiras por parte de Cabo Verde", acrescentou.

O incumprimento de Cabo Verde afeta sobretudo a cerca de uma dezena de empreiteiros e de subempreiteiros, que decidiram paralisar as mais de 30 obras em curso no final deste mês como forma de protesto contra a falta de pagamento que se verifica desde 29 de janeiro deste ano.

"Estamos em negociações e espero que, nos próximos dias, possamos resolver a questão. O programa Casa para Todos vai continuar sem nenhum problema e vamos concluí-lo, porque é do interesse dos dois países que o concluamos com benefícios mútuos para as empresas cabo-verdianas e portuguesas", salientou José Maria Neves.

O primeiro-ministro cabo-verdiano adiantou que, além da contrapartida financeira, de que é devedor, o Estado de Cabo Verde é credor de "algumas empresas construtoras", que não nomeou.

A 23 deste mês, e em declarações à agência Lusa, o embaixador de Portugal em Cabo Verde, Bernardo Lucena, garantiu que Lisboa já cumpriu todos os procedimentos previstos na linha de crédito, que expirou a 29 de janeiro deste ano, faltando que as autoridades cabo-verdianas disponibilizem os 10% restantes, tal como contratualizado.

Até hoje, segundo o Governo, e ao abrigo do Casa para Todos, já foram construídas 1.700 habitações, embora só 726 famílias estejam a viver, prevendo-se agora que sejam 4.310 os agregados familiares a ocupar as "seis mil e tal" casas.

Em curso estão cerca de 30 obras e, segundo os empreiteiros, a dívida acumulada dos trabalhos já realizados ascende a 1.500 milhões de escudos (13,6 milhões de euros), estando envolvidos ainda cerca de 3.500 trabalhadores.

Liderado pelo Ministério do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território cabo-verdiano, o programa Casa para Todos insere-se no plano destinado a minimizar o défice habitacional no país, estimado em cerca de 80.000 alojamentos.

Lusa, em Expresso das Ilhas

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