sexta-feira, 19 de junho de 2015

Portugal. SONDAGEM GREGA



David Pontes – Jornal de Notícias, opinião

Não se pode dizer que depois dos episódios de Espanha, mas especialmente do Reino Unido, as sondagens registem uma elevada cotação. Não pelas instituições que as fazem, que certamente mantêm os mesmos padrões de rigor, mas porque o cenário político se tornou instável, muito dado a surpresas, ou seja, "prognósticos só mesmo no fim do jogo".

Surpresa é coisa que não falta na sondagem que o JN hoje publica, já que é a primeira que dá a coligação PSD/CDS-PP à frente do PS, o que mesmo por escassa margem não é de desprezar, conhecendo como as sondagens contribuem para a taquicardia partidária. A tendência que ela revela, alinhando-a com outros inquéritos, é que mesmo depois de toda a dureza dos últimos anos, o Governo consegue aguentar o embate e que o PS, mesmo depois de ter começado a revelar os seus argumentos eleitorais, não consegue descolar como alternativa suficiente.

Com a crise europeia como pano de fundo, é incontornável avaliar o impacto que a situação grega estará a ter na avaliação que os portugueses fazem no seu juízo eleitoral. E parece claro que o receio de que "isto ainda podia ser pior" consegue singrar, veja-se que os que consideram que a austeridade é positiva aumentaram 3 pontos, para 40%, perto dos 43% que a consideram negativa.

Ainda falta muito caminho até ao silêncio da cabina de voto, mas se estes fossem os resultados finais, a coligação PSD/CDS-PP ganharia, mas ficaria em minoria num Parlamento dividido entre os 62% da Esquerda e os 38% da Direita. O PS seria o partido mais votado, mas perderia e António Costa dificilmente permaneceria na liderança do PS. A novidade espanhola e grega dos novos partidos não chegaria a Portugal e BE e PCP manter-se-iam incapazes de influenciar o exercício do poder.

O país estaria em condições difíceis de governabilidade e o presidente Cavaco Silva, em fim de mandato, não teria conseguido ser escutado nos seus pedidos para o consenso e para um Governo de maioria. Não serão muitas vitórias no cômputo final, mas talvez haja um vencedor oculto nesta história e que estará secretamente satisfeito com estes resultados, o PP, que sobrevive contra toda a lógica política.

Os "cofres cheios" de Maria Luís continuam a pesar, apesar do desemprego, dos impostos, da emigração, dos salários baixos. Estamos espartanos, já que nos tempos que correm ninguém parece ter muita vontade de ser grego.

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