David
Pontes – Jornal de Notícias, opinião
Não
se pode dizer que depois dos episódios de Espanha, mas especialmente do Reino
Unido, as sondagens registem uma elevada cotação. Não pelas instituições que as
fazem, que certamente mantêm os mesmos padrões de rigor, mas porque o cenário
político se tornou instável, muito dado a surpresas, ou seja,
"prognósticos só mesmo no fim do jogo".
Surpresa
é coisa que não falta na sondagem que o JN hoje publica, já que é a primeira
que dá a coligação PSD/CDS-PP à frente do PS, o que mesmo por escassa margem
não é de desprezar, conhecendo como as sondagens contribuem para a taquicardia
partidária. A tendência que ela revela, alinhando-a com outros inquéritos, é
que mesmo depois de toda a dureza dos últimos anos, o Governo consegue aguentar
o embate e que o PS, mesmo depois de ter começado a revelar os seus argumentos
eleitorais, não consegue descolar como alternativa suficiente.
Com
a crise europeia como pano de fundo, é incontornável avaliar o impacto que a
situação grega estará a ter na avaliação que os portugueses fazem no seu juízo
eleitoral. E parece claro que o receio de que "isto ainda podia ser
pior" consegue singrar, veja-se que os que consideram que a austeridade é
positiva aumentaram 3 pontos, para 40%, perto dos 43% que a consideram
negativa.
Ainda
falta muito caminho até ao silêncio da cabina de voto, mas se estes fossem os
resultados finais, a coligação PSD/CDS-PP ganharia, mas ficaria em minoria num
Parlamento dividido entre os 62% da Esquerda e os 38% da Direita. O PS seria o
partido mais votado, mas perderia e António Costa dificilmente permaneceria na
liderança do PS. A novidade espanhola e grega dos novos partidos não chegaria a
Portugal e BE e PCP manter-se-iam incapazes de influenciar o exercício do
poder.
O
país estaria em condições difíceis de governabilidade e o presidente Cavaco
Silva, em fim de mandato, não teria conseguido ser escutado nos seus pedidos
para o consenso e para um Governo de maioria. Não serão muitas vitórias no
cômputo final, mas talvez haja um vencedor oculto nesta história e que estará
secretamente satisfeito com estes resultados, o PP, que sobrevive contra toda a
lógica política.
Os
"cofres cheios" de Maria Luís continuam a pesar, apesar do
desemprego, dos impostos, da emigração, dos salários baixos. Estamos
espartanos, já que nos tempos que correm ninguém parece ter muita vontade de
ser grego.
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