Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
A
calamidade ambiental repete-se há décadas. Milhares de hectares de floresta e
mato do território português ardem perante os nossos olhos incrédulos. Como é
possível os mesmos erros ano após ano? Discutir a estratégia de combate aos
incêndios de julho a setembro, como se não houvesse verão sem chamas, não tem
qualquer efeito.
O
combate aos incêndios, parece fácil de ver, faz-se a partir do inverno. Num
país onde dois terços do território estão cobertos por floresta, permitir todos
os anos milhares e milhares de hectares serem devorados pelo fogo é, sem
dúvida, matar a galinha dos ovos de ouro. Alguém deve ser responsabilizado por
tal situação. Uma missão difícil. Os grandes responsáveis somos nós. Ou muitos
de nós. Nós que descuidamos a limpeza das matas, nós que vemos a vegetação a
crescer desordenada no terreno do vizinho e não lhe exigimos fazer o que lhe
compete. O Estado, é bom não esquecer, deverá também dar o exemplo nas áreas em
sua posse: e não tem sido, nos últimos anos, com o desmantelamento dos serviços
florestais, a prática seguida.
O
preço a pagar por tamanho desleixo é enorme. Desde segunda--feira, centenas de
homens - cerca de 500, ontem ao final da tarde - combatiam um incêndio na serra
da Estrela. Aqui é um património natural que tão cedo não será recuperado.
Outras zonas do país já arderam, seguramente outras atravessarão o caminho
voraz do fogo. E ninguém parece, verdade seja dita, muito preocupado. Ouvimos,
no início desta semana, a ministra da Administração Interna - ainda não se dignou
aparecer no teatro das operações e dar uma palavra à população privada de um
dos seus bens e a quem combate as chamas - dizer que "a resposta dos
bombeiros tem sido extremamente positiva e à altura dos meios e formação".
Anabela
Rodrigues, a ministra, devia ter algum cuidado quando fala de meios. Tem aviões
avariados há meses e, como o JN ontem relatava, as equipas do Grupo de Análise
e Uso de Fogo, os chamados GAUF, não estão constituídas. Equipas fundamentais
para, no terreno, sobretudo nos grandes incêndios, como os ocorridos no fim de
semana, no Alto Minho ou do Parque Natural da Serra da Estrela, analisarem as
probabilidades de evolução das frentes de fogo e avaliarem as oportunidades de
usar contrafogo - uma das formas de estancar as chamas.
Deviam
existir, mas não existem. O papel do GAUF tem sido, assim, da responsabilidade
da Força Especial de Bombeiros que, no entanto, não possui os meios técnicos
adequados. Não basta anunciar medidas e equipas, com pompa e circunstância,
para dar títulos nos jornais e preencher horários nobres na televisão. É
preciso que a coisa se concretize. De contrário, é um embuste. E o fogo fica, uma
vez mais, por circunscrever.
*Editora-executiva-adjunta
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