Hugo
Neutel – Dinheiro Vivo, editorial
Um
ano depois de o Banco de Portugal ter passado a certidão de óbito do BES, o
cadáver continua morno e a incerteza permanece.
Em
primeiro lugar, incerteza sobre a venda (que será provavelmente feita com
prejuízo).
Em
segundo, incerteza sobre o "banco mau", que ainda não apresentou
resultados e que, perante a dificuldade que terá em vender a totalidade dos
ativos tóxicos que herdou, arrisca tornar-se um purgatório do BES, cuja alma
penada será condenada a vender lixo financeiro para toda a eternidade.
Finalmente,
incerteza em relação à solução para o papel comercial. A associação de lesados
do BES apostou, e ganhou, na presença mediática constante. Não fora isso, o
assunto já teria morrido e as perdas para os 2500 antigos clientes seriam não
só certas como maiores, senão totais. E o problema tem de ser resolvido.
Preferencialmente já, até porque, como lhe contamos nesta edição, há quem no
mercado pense que esta pode ser uma pedra na engrenagem da venda, ou, na pior
das hipóteses, depois, pelo comprador do banco, que não quererá sofrer o dano
reputacional de ter uma manifestação à porta logo no primeiro dia.
A
resolução do problema não é, por isso, um imperativo apenas moral (que já seria
suficiente). É um imperativo de gestão. Se o problema não for resolvido já - e
o país está cansado de ver o Banco de Portugal e a CMVM passarem a batata
quente um para o outro - serão os reguladores a deixar uma péssima impressão ao
país. Se não for resolvido pelo comprador assim que nomear a nova
administração, o banco que nascer da venda vai iniciar a vida com danos de
reputação imediatos.
PS:
Passos Coelho argumenta que o rating da dívida pode depender das eleições, e
que as agências estão à espera da noite de dia 4 de outubro para decidir se
tiram Portugal do lixo. Das duas uma: ou este é um discurso de chantagem, ou é
um discurso risível. Ou ambos.
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