sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Portugal. BES. O PAPEL COMERCIAL



Hugo Neutel – Dinheiro Vivo, editorial

Um ano depois de o Banco de Portugal ter passado a certidão de óbito do BES, o cadáver continua morno e a incerteza permanece.

Em primeiro lugar, incerteza sobre a venda (que será provavelmente feita com prejuízo).

Em segundo, incerteza sobre o "banco mau", que ainda não apresentou resultados e que, perante a dificuldade que terá em vender a totalidade dos ativos tóxicos que herdou, arrisca tornar-se um purgatório do BES, cuja alma penada será condenada a vender lixo financeiro para toda a eternidade.

Finalmente, incerteza em relação à solução para o papel comercial. A associação de lesados do BES apostou, e ganhou, na presença mediática constante. Não fora isso, o assunto já teria morrido e as perdas para os 2500 antigos clientes seriam não só certas como maiores, senão totais. E o problema tem de ser resolvido. Preferencialmente já, até porque, como lhe contamos nesta edição, há quem no mercado pense que esta pode ser uma pedra na engrenagem da venda, ou, na pior das hipóteses, depois, pelo comprador do banco, que não quererá sofrer o dano reputacional de ter uma manifestação à porta logo no primeiro dia.

A resolução do problema não é, por isso, um imperativo apenas moral (que já seria suficiente). É um imperativo de gestão. Se o problema não for resolvido já - e o país está cansado de ver o Banco de Portugal e a CMVM passarem a batata quente um para o outro - serão os reguladores a deixar uma péssima impressão ao país. Se não for resolvido pelo comprador assim que nomear a nova administração, o banco que nascer da venda vai iniciar a vida com danos de reputação imediatos.

PS: Passos Coelho argumenta que o rating da dívida pode depender das eleições, e que as agências estão à espera da noite de dia 4 de outubro para decidir se tiram Portugal do lixo. Das duas uma: ou este é um discurso de chantagem, ou é um discurso risível. Ou ambos.

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