As
comissões bancárias são um escândalo e um imposto do qual ninguém fica isento
perante a indiferença geral dos políticos. Apesar disso, os portugueses
são uns patriotas bancários
Eduardo Oliveira e
Silva – jornal i, opinião
As
comissões bancárias tornaram-se um verdadeiro assalto. O clássico ataque de
bandidos aos bancos rende uma pechincha ao pé deste. As vítimas são os cidadãos
que não têm alternativa à colocação do seu dinheiro em instituições bancárias,
as quais, ainda por cima, volta e meia desaparecem, abrem falência, apresentam
défices astronómicos porque deram (emprestaram não se aplica manifestamente)
dinheiro irrecuperável.
Como
as coisas estão mal; como os juros estão baixos; como os investimentos falham;
como os “overnights” deixam de render; como os “break even” previstos para as
empresas que financiam falham; como o engodo dos “swap” já deu depois de
descoberta a manigância; como o capital garantido já não convence; como os
milhares de despedimentos feitos no sector não chegam; como de lucro virtual
passam a prejuízos bem reais, os bancos atacaram as ovelhas depositárias como
os lobos fazem, ou seja em matilha e pela calada da noite. Públicos ou privados
a técnica é igual e visa os depositantes, sacando-lhes comissões e rasgando
regalias contratadas.
Está
tudo a actuar em cartel. As
comissões são praticamente iguais em qualquer banco. Existe, é claro, uma
disposição que permite a um cidadão minorar esse efeito através de uma conta
única e especifica que tem baixos custos, mas na prática ninguém sabe. Há
comissões por tudo e para tudo. Só não conseguiram ainda uma para se levantar
dinheiro no multibanco porque para isso é que se paga o cartão. Mas já tentaram
e vão voltar a atacar. Imagine-se o que seria o maná de ganhar um cêntimo que
fosse por cada transacção.
Os
portugueses coitados estão mais do que escaldados pelos bancos. Há alguns anos
estoiraram a Caixa Económica Açoriana, depois a Caixa Faialense, seguiram-se o
BPN, o BPP e o BES (uma sucessão de fraudes que pode ir a 25 mil milhões),
enquanto outros bancos dão sinais de fraqueza, anunciam prejuízos e alguns
tiveram de socorrer-se de parte do dinheiro disponibilizado pela troika. Uma
ajuda que lá vão liquidando penosamente, em boa parte por causa dos lucros que
fazem com os depositantes e as comissões que acham pequenas “tipo, três quatro
ou cinco euros”. Assim se compensam certos buracos feitos algumas vezes por
gente amiga de decisores com quem até fica mal falar de dinheiro.
Como
disse certa vez um gestor de bancos, os portugueses aguentam. É verdade que
aguentam praticamente tudo e mais umas botas, mas sobretudo, como se vê,
aguentam os bancos de todas as maneiras e feitios e pagam por gestões erráticas
ou danosas (cite-se novamente as caixas dos Açores, o BES, o BPP e o BPN), seja
através de comissões, seja da alteração de regras, seja através do
desaparecimento criminoso e irremediável das suas poupanças.
Há
40 anos, quando foram nacionalizados, os bancos também eram dominantes no país.
E se é verdade que a estatização foi uma das coisas piores que aconteceu
estruturalmente a Portugal e que ainda hoje pagamos, não é menos verdade que a
compreensão ou até o apoio popular que a medida suscitou tinha muito a ver com
a forma como a banca asfixiava os cidadãos, tal como acontece agora.
No
entanto, mesmo depois da reprivatização da banca, do nascimento de novas
instituições e de falências estrondosas, os portugueses mantiveram uma
confiança digna de nota nos bancos que referenciam como nacionais ainda que os
seus accionistas não o sejam. Salvo o Santander, através da compra do Totta,
não há nota de um banco estrangeiro se ter imposto directamente por cá e também
não há indícios de que a classe média tenha depósitos em massa no exterior. O
português é um patriota bancário. Acha que um banco português é um valor firme,
apesar do que viu, sentiu e do que ainda pode cair-lhe em cima. Pelo contrário,
muitos gregos (até mesmo os da esquerda) puseram o dinheirinho ao fresco há
muito tempo.
Ao
contrário do que pensam alguns dos seus dirigentes, os bancos não podem continuar
a esticar a corda e a abusar dos seus clientes que não suportam tudo. Há
milhões de portugueses que estão isentos de IRS, mas na verdade praticamente
todos têm conta no banco. É através delas que, hoje, os bancos se aviam, ganham
dinheiro e fazem lucros imorais para minorar os erros de gestão. Tudo isto
perante a complacência adormecida do regulador que não intervém com firmeza e em definitivo. Na
prática, as comissões são hoje um novo imposto que cada cidadão paga para
financiar o lucro de uma banca que, nalguns casos, consegue o milagre de perder
o dinheiro que lhe confiam. É obra! Como também é obra o silêncio que sobre o
assunto fazem a generalidade dos partidos políticos que dedicam horas a falar
de coisas inúteis que nada dizem à pessoas.
Director
da Newshold – Jornalista - Escreve à quarta-feira
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