É
preciso obrigar o Governo e a RENAMO a encontrar "caminhos acertados"
para pôr termo à tensão política, defendem especialistas, depois dos vários
apelos para uma investigação sobre o ataque à comitiva de Dhlakama.
Missões
diplomáticas acreditadas em Moçambique apelaram à realização de uma
"investigação célere" do ataque contra uma coluna em que seguia o
líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama. O epsiódio
teve lugar no sábado (12.09) em Chibata, quando a comitiva regressava de um
comício em Macossa e se encaminhava para Chimoio, capital de Manica.
A
RENAMO atribuiu a emboscada a elementos da Unidade de Intervenção Rápida (UIR)
das forças de defesa e segurança moçambicanas. A
polícia negou o envolvimento no ataque. A Frente de Libertação de
Moçambique (FRELIMO), partido no poder, classificou a emboscada como uma
"simulação" do maior partido da oposição.
Os
apelos das missões diplomáticas acreditadas em Moçambique são fundamentais para
a solução rápida da tensão política que o país vive, defendem analistas, que,
no entanto, divergem quanto aos resultados destas exigências.
Por
um lado, receia-se que, devido à complexidade do problema e a escassez de
fontes que permitam o apuramento da veracidade do ocorrido o assunto termine em
meras trocas de acusações.
Apelos
não chegam
As
acções da comunidade internacional perante a tensão política que Moçambique
vive são "demasiado suaves", considera Domingos do Rosário, do
Departamento de Ciências Políticas da Universidade Eduardo Mondlane. "Se a
situação chegou onde está hoje, eles também são responsáveis. Porque tinham
muitas formas de travar a maneira como este país foi governado durante muito
tempo. Eles bateram palmas porque também beneficiavam desse clientelismo",
critica.
O
académico defende que, mais do que simples apelos, a comunidade internacional
deve encontrar caminhos para influenciar os atores políticos, com vista a
ultrapassar o principal problema: a exclusão social e económica que ainda
prevalece no país.
"Essa
solução passa por a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a RENAMO
sentarem-se e falarem seriamente", sugere. "Como disse o porta-voz da
FRELIMO, como é que dentro da própria FRELIMO há dois movimentos
contraditórios? Não há reconciliação nacional porque a reconciliação nacional
não é um discurso, é uma prática".
O
analista Egídio Vaz acredita que o Governo, liderado pela FRELIMO, dará ouvidos
à chamada de atenção dos diplomatas e de todas as vozes que se levantam contra
a intolerância política e a guerra no país. "É um apelo direto ao Governo,
mas também um apelo indireto à RENAMO para que, dentro das suas possibilidades
e a todo o custo, continue a preservar a paz e que cinjam o jogo democrático
dentro do quadro legal".
Encontro
entre Nyusi e Dhlakama
Dércio
Alfazema, do Instituto para a Promoção da Democracia, acredita também que o
Governo irá ceder à pressão das missões diplomáticas acreditadas em Moçambique,
mas sugere uma intervenção mais firme de toda a sociedade para pôr termo a esta
instabilidade.
"Perante
a situação que estamos a viver, não precisamos de culpados. Precisamos é de
soluções, de encontrar saídas. E ninguém melhor do que os dois que estão
diretamente envolvidos nisso para trazer esta solução e buscar algum tipo de
consenso", sublinha o especialista.
O
encontro entre o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO,
Afonso Dhlakama, continua a ser a porta para a solução desta instabilidade,
sublinham os analistas.
O
ex-chefe de Estado moçambicano Joaquim Chissano já se mostrou disponível para
mediar um encontro entre os dirigentes políticos, a quem apela para que
aprendam a gerir conflitos. Em 1992, em Roma, Chissano assinou com Dhlakama o
Acordo Geral de Paz que pôs termo a 16 anos de guerra civil em Moçambique.
Ernesto
Saúl (Maputo) / Lusa - Deutsche Welle
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