sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Angola. OS “INIMIGOS” EUROPEUS




DESNORTE TOTAL DO REGIME COM A IMAGEM CADA VEZ MAIS SUJA A NÍVEL INTERNACIONAL

Folha 8 digital, 19 setembro 2015

O governo de José Eduar­do dos San­tos, também líder do partido que está no poder há quase 40 anos, o MPLA, e também Presidente da República – sem nunca ter sido nominalmente eleito – há 36 anos, reagiu, às críticas do Parlamento Europeu.

Críticas às repetidas viola­ções dos direitos humanos, bem como à corrupção. Críticas feitas por quem, é claro, ainda não percebeu a adiantada fase de uma democracia e de um Esta­do de Direito que, a nível mundial, só é ultrapassada pela Coreia do Norte.

Em comunicado, o go­verno do “querido líder” contesta “a gravidade” do conteúdo da resolução do Parlamento Europeu que, segundo a análise do MPLA, do Governo e do Presidente da República – ou seja, de Eduardo dos Santos – retrata um país que “não é seguramente a República de Angola”.

E não é com certeza. O Parlamento Europeu deve­ria saber que Angola é um paradigma democrático, bem como um exemplo mundial da luta contra a corrupção e do respeito dos direitos humanos. Isto é tão certo como as zebras terem penas. Vejam se en­tendem isso de uma vez por todas.

Na apreciação do “escolhi­do de Deus”, a resolução, que teve por base um re­latório da eurodeputada portuguesa Ana Gomes, do Partido Socialista (a cuja família, a Internacional Socialista, também pertence o MPLA), que visitou o país em Julho, mantendo encontros com membros do governo e da sociedade civil, contém “inverdades, especulações e factos gros­seiramente manipulados pela autora, cujas conota­ções com certa oposição angolana são por demais conhecidas.”

Mais uma vez o líder di­vino tem razão. Soubesse Ana Gomes quem é o dono da verdade, soubesse que o MPLA é Angola e Angola o MPLA, soubesse que essa “certa oposição” é consti­tuída por uma subespécie de angolanos, então não te­ria escrito as asneiras que escreveu e que – é claro – constituem um crime con­tra a segurança do Estado e indiciam uma tentativa de golpe de Estado.

“Os direitos à liberdade de associação, à liberdade de reunião, o acesso à justiça e ao julgamento justo, à liberdade de expressão e de informação, à liberdade de Imprensa, à liberdade de consciência, religião e culto, à liberdade física e à segurança pessoal, ao ambiente e à livre inicia­tiva económica, foram questionados pelos parla­mentares europeus, tendo como único fundamento opiniões insultuosas mo­tivadas por convicções e objectivos políticos desse membro do seu parlamen­to que desprezou o traba­lho que vem sendo reali­zado nos últimos 40 anos de independência nacional por todos os angolanos em condições por vezes mui­to adversas na construção de uma Nação livre, justa e soberana”, lê-se no co­municado de Eduardo dos Santos.

A clamorosa falha de Ana Gomes, dir-se-ia mesmo o clamoroso crime, deveu-se igualmente ao facto de se ter esquecido de dizer qual é o seu preço. Aliás, nem precisava de dizer o preço, bastava dizer que estava à venda. Se o tivesse feito teria recebido um cheque presidencial, assinado e autenticado, em branco. Só teria de colocar o valor que entendesse mais justo. É claro que também poderia optar por receber uns cai­xotes diplomáticos abarro­tados de dólares.

“De facto, consideramos ir­responsável que se aborde de forma leviana os proce­dimentos e acções das ins­tituições angolanas, pondo em causa o exercício de di­reitos, a sua independência e questionando processos que se encontram em cur­so de acordo com a lei”, diz a nota que mereceu a con­cordância do Presidente do MPLA (José Eduardo dos Santos), do chefe do Go­verno (José Eduardo dos Santos) e do Presidente da República (José Eduardo dos Santos).

O “Estado angolano prima pelo respeito dos direitos dos cidadãos consagrados pela Constituição e tem como instrumentos funda­mentais os órgãos de justi­ça que realizam um traba­lho árduo e transparente com vista à protecção des­ses direitos”, afirma o go­verno/MPLA/Eduardo dos Santos. Não diz, nem pre­cisa, que a Constituição é um documento que só tem validade no que interessa ao regime, e que os ditos órgãos de justiça são me­ras correias de transmissão dos interesses do MPLA, onde pontificam sipaios que se limitam a cumprir as ordens do chefe.

A finalizar, o comunicado afirma que o governo de Angola “rejeita categori­camente o conteúdo da Resolução e lamenta que uma instituição credível se tenha deixado enredar por informações caluniosas, não considerando, por isso, as suas recomendações que em nada beneficiam a cooperação entre Angola e a União Europeia”.

Perante este aviso, esta chantagem, a União Euro­peia tremeu e há quem diga que pode desmoronar-se quando o regime de Eduar­do dos Santos entender. São já muitos os europeus que temem o espectro do fim da Europa e, por isso, pedem a bênção a… José Eduardo dos Santos.

DECLARAÇÃO DA UNITA À LUZ DA RESOLUÇÃO DO PARLAMENTO EUROPEU SOBRE ANGOLA

1. O Comité Permanente da Comissão Política da UNITA tomou boa nota da Resolução do Parlamento Europeu Número 2839 Sobre Angola e acha que ela reflecte a real situação que se vive em Angola pelo que manifesta o seu reconhecimento pelos esforços desenvolvidos pelos seus proponen­tes em particular a eurodeputada Ana Gomes.

2. A UNITA saúda em particular o fac­to de os povos da Europa terem jun­tado a sua voz às exigências do povo angolano pela liberdade imediata e incondicional de “todos os defensores dos direitos humanos, incluindo Mar­cos Mavungo, os 16 jovens ativistas detidos desde Junho de 2015 sem cul­pa formada e de “quaisquer outros ati­vistas, prisioneiros de consciência ou opositores políticos arbitrariamente presos e detidos exclusivamente de­vido às suas opiniões políticas, ao seu trabalho jornalístico ou à sua partici­pação em ações pacíficas”.

3. A UNITA tomou boa nota do facto de o Parlamento Europeu ter-se asso­ciado aos apelos das Nações Unidas para o Governo angolano levar a cabo um inquérito transparente e credível ao massacre ocorrido no Monte Sumi, Província do Huambo, e prestar apoio aos sobreviventes deslocados. Nesse respeito, a UNITA exorta o Executivo do Presidente José Eduardo dos San­tos a parar com as perseguições de cidadãos ligados à seita Luz do Mundo de José Kalupeteka, que, segundo tes­temunhos, ainda continuam;

4. A UNITA considera uma evolução positiva o facto de o Parlamento Euro­peu ter finalmente reconhecido que o sistema judicial angolano não é inde­pendente e que há de facto um eleva­do nível de corrupção das autoridades angolanas, que prejudica gravemente o respeito pelos direitos humanos e o desenvolvimento do país, e que os princípios «caixa de ferramentas» para os direitos humanos devem ser observados pelos estados membros antes de qualquer negociação com Angola.

5. Tal como o Parlamento Europeu, a UNITA:

a) solicita às autoridades angolanas e às empresas estrangeiras que contri­buam para reforçar a governação no sector extractivo através da adesão à iniciativa para a Transparência das Indústrias Extractivas e do exame da aplicação do Processo Kimberley;

b) exorta o Governo angolano a apre­sentar um plano para aderir à Parceria Governo Aberto e a conceber um pla­no concreto para combater a corrup­ção, aumentar a transparência e refor­çar a responsabilização pública;

c) solicita à Delegação da UE em Luan­da que materialize os compromissos assumidos pelo SEAE no sentido de apoiar e proteger os defensores dos direitos humanos em Angola, através de medidas concretas e palpáveis que contemplem, em especial, a observa­ção de julgamentos, o apoio político e material aos defensores dos direitos humanos, aos respectivos advogados e familiares.

6. A UNITA considera a Resolução do Parlamento Europeu sobre Angola uma forte manifestação de solidarie­dade dos povos da Europa para com a luta dos angolanos por liberdade, paz, justiça e democracia e exorta a todos os cidadãos a dela extraírem cópias no portal http://www.europarl.eu­ropa.eu/sides/get Doc.do?pubRef=// EP//TEXT+MOTION+P8-RC-2015-0846+0+DOC+XML+V0//PT e pro­cederem à sua mais ampla divulgação nas redes sociais, na imprensa escrita e nas rádios.

Luanda, 14 de Setembro de 2015

O Comité Permanente da Comissão Política da UNITA


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