José
Eduardo Agualusa disse hoje em Lisboa que o poder em Angola está a cometer um
“grave erro” ao manter jovens presos por motivos políticos, referindo-se aos
(pelo menos) 15 acusados de golpe de Estado.
“A questão
é que, com a prisão destes jovens, tudo mudou. Eu não conheço democracia com
presos políticos e eles são presos políticos. Eu lembro que as primeiras
declarações de dirigentes políticos angolanos referiam-se a presos políticos. A
seguir, foram referidos como políticos presos e finalmente encontraram a
expressão: retidos. São presos políticos e não se constrói uma democracia com
presos políticos”, afirmou o escritor no debate sobre Angola, organizado pela
Amnistia Internacional em Lisboa.
Para
Agualusa, do ponto de vista “estratégico é um erro enorme que o poder e o
presidente José Eduardo dos Santos estão a cometer” porque as acusações e as
prisões não fazem sentido e viram-se contra o próprio poder.
“Se
o MPLA e o Presidente José Eduardo dos Santos pensa em ir a eleições, o que
está a fazer é um erro enorme”, disse referindo-se aos jovens detidos em Luanda
sob acusação de golpe de Estado e ao activista de Cabinda, José Carlos Mavungo,
condenado a seis anos de cadeia efectiva.
No
debate em que participaram também Rafael Marques e a eurodeputada Ana Gomes, o
escritor sublinhou que está a nascer em Angola e em Portugal um movimento de
solidariedade para com os jovens angolanos detidos, abarcando círculos muito
próximos do poder.
“Neste
grupo de apoio aos jovens há famílias relevantes e ligadas ao poder em Angola e
isto está a levar o debate para dentro do próprio partido no poder. O
presidente está neste momento a ser muito contestado dentro do seu próprio
partido. Eu creio que a imagem do presidente nunca foi tão má e, portanto o que
está a ser feito é um erro e já não falo na questão ética ou na questão moral.
É um erro estratégico. Libertem estes jovens”, disse Agualusa.
Na
prática, segundo o escritor, os movimentos de solidariedade estão a surgir de
forma espontânea nas redes sociais e têm recolhido toda a forma de apoios aos
presos políticos, dando auxílio às famílias directamente e tentando resolver
problemas logísticos como transportes para as familiares poderem visitar os
presos políticos.
Foram
também organizados em Luanda e Lisboa espectáculos de música para a recolha de
fundos e que vão continuar “até que estes presos sejam libertados”.
Por
outro lado, José Eduardo Agualusa sublinha que não é correcto afirmar-se que
Angola foi o único país em África que conseguiu resolver os problemas da guerra
e integrar os antigos adversários.
“Isso
não é verdade. Temos o exemplo da Namíbia que é um país que funciona muito bem,
que teve uma guerra e os seus problemas mas que integrou toda a gente”, disse,
acrescentando também o exemplo de Moçambique.
“Moçambique
já teve quatro presidentes e nós estamos com o mesmo Presidente desde sempre.
Não conheço nenhuma democracia em que o mesmo Presidente esteja no poder há 35
anos”, conclui Agualusa.
Folha
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