Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Desde
o início, foi esta a estratégia. O Governo não decidiu a resolução do BES, mas
congratula-se com a decisão do Banco de Portugal. Não se envolveu no processo,
mas garante que não trará custos para os contribuintes. Não escolheu criar o
Novo Banco mas assegura que será vendido rapidamente. Se correr bem, que bom
será anunciar a boa nova e recolher os louros. E se correr mal? O Banco de
Portugal que assuma, afinal, foi para isso que Carlos Costa foi reconduzido,
apesar das críticas unânimes à prestação do regulador no caso BES.
Acontece
que correu mesmo mal. O valor do Novo Banco está muito, mas muito longe dos
4900 milhões que foi necessário injetar. E sim, 1000 milhões são perdas dos
bancos, mas os restantes 3900 milhões pertencem ao Estado. E é bom de lembrar
que isso foi decisão da ministra das Finanças, que por isso se tenta defender
dizendo que se trata apenas de um empréstimo. E é verdade, mas o empréstimo era
a dois anos, e um já passou. A banca já disse que não pode assumir os custos, e
o Governo, que impôs perdas a todos para salvar o BES, não vai agora correr o
risco de pôr em causa a estabilidade de todo o sistema por causa da sua
decisão.
De
uma forma ou de outra o assunto é melindroso. Implica explicar porque é que,
mais uma vez, se vai aumentar o défice para salvar a banca, porque é que não se
fez nada para alterar a lei, porque é que se mentiu ao dizer que não haveria
custos. Enfim, toda uma panóplia de perguntas incómodas em altura de campanha.
O melhor, por isso, é adiar a venda. O Governo defende-se então com a velha
estratégia: a decisão é do Novo Banco, do Fundo de Resolução, do Banco de
Portugal, é de quem a apanhar, mas não é nossa.
Acontece,
infelizmente, que o dono do Novo Banco é o Fundo de Resolução, que é uma
entidade pública. Quem manda no fundo é a sua administração, nomeada pelo
Ministério das Finanças e pelo Banco de Portugal. O Ministério é do Governo, e
o banco uma entidade pública. Não é preciso muito mais para chegarmos à
conclusão que é tudo... Estado. Ou seja, dinheiro de todos nós, contribuintes.
Por
fim, é preciso dizer que também correu mal para os lesados, a quem foi
prometido tudo e o seu contrário, terminando em grande com Pedro Passos Coelho
a lavar as mãos como primeiro-ministro, mas a prestar toda a sua solidariedade
enquanto cidadão para uma ação judicial contra o Estado português (do qual é
uma das principais figuras). A conclusão é mesmo essa. Pedro Passos Coelho é
mais útil ao país se não for primeiro-ministro.
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