Martinho Júnior, Luanda
A
Embaixada de Cuba em Angola, comemorou os 40 anos do reconhecimento diplomático
de Cuba a uma Angola finalmente independente, com uma exposição fotográfica no
Centro de Imprensa Aníbal de Melo, na Baixa de Luanda, expressando e lembrando
algumas das realizações comuns que continuam seu curso em paz, como antes na
guerra.
Para
além de muitas entidades angolanas, foi convidado o corpo diplomático
acreditado em Luanda, realçando-se que pela primeira vez se registou a presença
da Embaixadora dos Estados Unidos da América, correspondendo ao convite da
Embaixadora cubana.
A
exposição estará patente ao público nos próximos 30 dias.
Uma
entusiasta Embaixadora de Cuba em Angola, Gisela Garcia Rivera, no acto
inaugural pronunciou um breve discurso, passando em revista alguns dos marcos
mais sensíveis do relacionamento comum, desde que a 2 de Janeiro de 1965, há 50
anos, em Brazzaville, se verificou o encontro entre os camaradas Agostinho Neto
e Lúcio Lara, com Ernesto Che Guevara.
Esse
encontro permitiu lançar as bases da já longa identidade comum no quadro da
Luta de Libertação, admitindo sempre Cuba o pagamento duma dívida para com
África, face a um resgate histórico que se impunha no rescaldo de séculos de
escravatura e colonialismo, assim como de décadas de “apartheid” na
África do Sul.
O
combatente revolucionário Jorge Risquet, recentemente falecido, foi lembrado
como um dos artífices dessa saga libertadora, como foi lembrado o comandante
Arguelles, caído em combate na batalha do Ebo travada face à silenciosa invasão
das South Africa Defence Forces, na sua tentativa vã de chegar a Luanda e
colocar no poder os fantoches da conveniência do “apartheid” e da CIA
(sob os auspícios de Henry Kissinger), a 11 de Novembro de 1975.
Apoiando
de forma exemplar a guerrilha do MPLA a partir do Congo, entre 1965 e 1975, com
o Batalhão Lumumba que completava a 2ª coluna do Che em África, Cuba
desencadeou em 1975, sob iniciativa do comandante Fidel de Castro, a Operação
Carlota, de modo a que o Movimento de Libertação, o MPLA, pudesse alcançar os
objectivos do seu Programa Mínimo: a independência nacional.
Uma
pequena nação insular, situada a milhares de quilómetros de distância, socorreu
a causa da Libertação de Angola nos momentos decisivos, socorreu as Forças
Armadas Populares de Libertação de Angola com milhares de efectivos alistados
nas suas Forças Armadas Revolucionárias, que mal pisaram o solo angolano
entraram em combate em três frentes distintas, de onde saíram vitoriosos:
Cabinda, Kifangondo e Ebo.
A
Operação Carlota, a operação com o nome duma escrava que em Cuba preferiu
morrer a combater os algozes do que viver sob sua canga, foi por si um feito
glorioso, mas não terminou aí, pois houve e há, no seu seguimento, imensos
desafios a enfrentar:
Era
necessário vencer o “apartheid” e muitas das suas sequelas, tal como
as sequelas coloniais e isso foi conseguido, apesar dos enormes sacrifícios
consentidos;
É
necessário lutar agora contra o subdesenvolvimento crónico que historicamente
se arrasta em África desde os alvores do colonialismo e do período terrível da
escravatura e é isso que está em curso, apesar dos imensos obstáculos
advenientes dum processo de globalização tão carregado de riscos, injusto e
desequilibrado.
O
rumo de Angola, foi alcançado a partir dessa saga comum identitária de
liberdade, de internacionalismo, de solidariedade e de amor para com a causa
dos povos oprimidos da Terra, mas para se vencer esse subdesenvolvimento
crónico que se levanta como um enorme desafio herdado do passado de trevas,
Carlota terá de ser sempre relembrada, para que os resgates humanos sejam
profícuos e estendidos em benefício de todo o povo angolano e dos povos de
África.
Em
Angola e em Cuba, as gerações de combatentes angolanos e cubanos, ao darem
lugar à cidadania no âmbito de seus complexos processos sócio-políticos,
apontam-nos o caminho desde Agostinho Neto, de Lúcio Lara, de José Eduardo dos
Santos, do comandante Fidel de Castro, do comandante Raul de Castro e do Che,
comandante e expoente maior de internacionalismo e solidariedade.
Em
Angola continua-se a Operação Carlota, 40 anos depois do reconhecimento da
independência de Angola, por parte de seu mais intrínseco aliado-identitário,
Cuba!
A
ponte entre as duas margens do Atlântico, entre os africanos e os afro
descendentes que foram arrastados na voragem da escravatura e do colonialismo,
continua com alicerces sólidos, alicerces capazes de propiciarem a oportunidade
para se lançar a mais bela superestrutura humana que se poderia alguma vez
alcançar.
Assim,
apesar de tantas contrariedades e obstáculos, está a ser construída a
liberdade!
*Fotos
recolhidas por Martinho Júnior, do acto inaugural da exposição fotográfica
alusiva aos 40 anos do reconhecimento diplomático da independência de Angola,
por parte de Cuba.
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