Alberto
Castro* - Afropress
Londres
- A senadora Lídice da Mata (PSD-Bahia) disse nesta terça-feira (13/10) em
Londres que a corrupção não é uma característica exclusiva do Brasil e que Lula
da Silva continua a ser o grande líder brasileiro. Convidada pelo King's
Brazil Institute, King's College, Universidade de Londres, para uma palestra
subordinada ao tema ''Congress, the Public and the Fight Against
Corruption in Brazil'' (Congresso, o Público e a Luta contra a Corrupção
no Brasil), a política baiana disse ainda haver no Brasil ''uma elite
branca que deixa muito clara o seu racismo nas redes sociais''.
Questionada
sobre a saúde da democracia brasileira a braços com vários escândalos de
corrupção, a primeira mulher eleita senadora pelo estado da Bahia (2010) e,
antes, a primeira mulher no comando da prefeitura de capital, Salvador, disse
que apesar da crise da democracia representativa um pouco por todo o mundo ''a
democracia no Brasil está fortalecida''.
''A
corrupção não é uma característica exclusiva da política brasileira e nem mesmo
da América Latina'', disse. ''Estamos aprimorando os instrumentos
democráticos no Brasil. Temos uma Polícia Federal que se tornou independente do
governo e é uma instituição forte, com credibilidade e respeitada pela opinião
pública'', esclareceu citando igualmente instrumentos de checks and
balances como a Lei de Acesso à Informação e a Lei da Transparência que
permitem a qualquer cidadão comum interessado e atento monitorar através da
internet as atividades dos órgãos públicos da União.
Sobre
o desgaste político público e midiático da imagem do ex-presidente Lula
associada aos escândalos da corrupção e sobre as implicações que o mesmo pode
vir a ter em uma possível candidatura do ex-presidente em 2018, Lídice da Mata
deixou um num recado às oposições: ''Gostem ou não, Lula continua a ser o grande
líder brasileiro.''
No
seu entender, se a oposição e parte da mídia dominante antigoverno continuarem
no caminho de forçar um impeachment, este levará a um crescimento de
apoios para a sua candidatura. ''Lula é maior que o PT e o único
candidato que pode reunificar os segmentos simpatizantes ao seu partido'',
frisou salientando que não ver nenhum outro líder com a popularidade e a força
dele '' principalmente nos segmentos mais pobres do Brasil concentrados no
Nordeste e no Norte''.
Questionada
sobre o racismo evidente na sociedade e na política brasileiras, a senadora
afirmou haver no Brasil uma conclusão clara da existência de racismo
institucional e citou como exemplo o desproporcionado assassinato de jovens
negros no país.
Segundo
ela, cerca de 80% por cento dos assassinatos é de jovens entre os 16 e os 29
anos de idade e geralmente acontece na periferia das grandes cidades onde a
maioria é pobre e negra. ''Se um jovem negro é encontrado na periferia de
uma grande cidade com um pacote de maconha ele é preso como traficante. Se o
pacote for encontrado nas mãos de um jovem branco este é tido como usuário'' -
disse alertando para o crescimento preocupante de assassinatos, particularmente
de jovens negros, nas periferias das grandes cidades nordestinas vêm
registando.
Para
a socialista baiana, uma das figuras mais influentes no Senado brasileiro,
segundo o King's Brazil Institute, ''é muito difícil uma país que viveu cerca
de 400 anos de escravidão não ter traços profundos de racismo''. ''Era mais
fácil ver negros em restaurantes durante a era do apartheid na África do
Sul do que no Brasil e há na sociedade brasileira uma elite branca que deixa
muito clara o seu racismo nas redes sociais'', salientou. Lembrou também que no
Brasil, para além dos negros, a discriminação étnico-racial atinge igualmente
os nordestinos.
E,
numa crítica à generalidade da classe político-partidária do seu país,
incluindo o segmento político-ideológico no qual se enquadra em particular,
lembrou que mesmo a ''esquerda brasileira é branca''. Uma constatação da
presença transversal do racismo estruturante na sociedade brasileira que nem
mesmo a esquerda se isenta, apesar de todo o seu reclamado histórico de lutas
por igualdade e justiça social. Sublinhou, no entanto, a implementação de políticas
governamentais de ação afirmativa, dando o exemplo de cotas nas universidades
públicas, como um dos caminhos a seguir para uma maior e melhor inclusão da
diversidade étnica representativa da sociedade brasileira.
Alberto
Castro é correspondente de Afropress em Londres
Nota
da Redação: A matéria foi originalmente postada no Portal Página Global
*Artigo de Alberto Castro em reposição no PG
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