sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Em Londres, senadora brasileira fala de corrupção, racismo e diz que Lula segue sendo grande líder



Alberto Castro* - Afropress

Londres - A senadora Lídice da Mata (PSD-Bahia) disse nesta terça-feira (13/10) em Londres que a corrupção não é uma característica exclusiva do Brasil e que Lula da Silva continua a ser o grande líder brasileiro. Convidada pelo King's Brazil Institute, King's College, Universidade de Londres, para uma palestra subordinada ao tema ''Congress, the Public and the Fight Against Corruption in Brazil'' (Congresso, o Público e a Luta contra a Corrupção no Brasil), a política baiana disse ainda haver no Brasil ''uma elite branca que deixa muito clara o seu racismo nas redes sociais''.

Questionada sobre a saúde da democracia brasileira a braços com vários escândalos de corrupção, a primeira mulher eleita senadora pelo estado da Bahia (2010) e, antes, a primeira mulher no comando da prefeitura de capital, Salvador, disse que apesar da crise da democracia representativa um pouco por todo o mundo ''a democracia no Brasil está fortalecida''.  

''A corrupção não é uma característica exclusiva da política brasileira e nem mesmo da América Latina'', disse. ''Estamos aprimorando os instrumentos democráticos no Brasil. Temos uma Polícia Federal que se tornou independente do governo e é uma instituição forte, com credibilidade e respeitada pela opinião pública'', esclareceu citando igualmente instrumentos de checks and balances como a Lei de Acesso à Informação e a Lei da Transparência que permitem a qualquer cidadão comum interessado e atento monitorar através da internet as atividades dos órgãos públicos da União.
 
Sobre o desgaste político público e midiático da imagem do ex-presidente Lula associada aos escândalos da corrupção e sobre as implicações que o mesmo pode vir a ter em uma possível candidatura do ex-presidente em 2018, Lídice da Mata deixou um num recado às oposições: ''Gostem ou não, Lula continua a ser o grande líder brasileiro.''

No seu entender, se a oposição e parte da mídia dominante antigoverno continuarem no caminho de forçar um impeachment, este levará a um crescimento de apoios para a sua candidatura. ''Lula é maior que o PT  e o único candidato que pode reunificar os segmentos simpatizantes ao seu partido'', frisou salientando que não ver nenhum outro líder com a popularidade e a força dele '' principalmente nos segmentos mais pobres do Brasil concentrados no Nordeste e no Norte''.

Questionada sobre o racismo evidente na sociedade e na política brasileiras, a senadora afirmou haver no Brasil uma conclusão clara da existência de racismo institucional e citou como exemplo o desproporcionado assassinato de jovens negros no país.

Segundo ela, cerca de 80% por cento dos assassinatos é de jovens entre os 16 e os 29 anos de idade e geralmente acontece na periferia das grandes cidades onde a maioria é pobre e negra.  ''Se um jovem negro é encontrado na periferia de uma grande cidade com um pacote de maconha ele é preso como traficante. Se o pacote for encontrado nas mãos de um jovem branco este é tido como usuário'' - disse alertando para o crescimento preocupante de assassinatos, particularmente de jovens negros, nas periferias das grandes cidades nordestinas vêm registando.

Para a socialista baiana, uma das figuras mais influentes no Senado brasileiro, segundo o King's Brazil Institute, ''é muito difícil uma país que viveu cerca de 400 anos de escravidão não ter traços profundos de racismo''. ''Era mais fácil ver negros em restaurantes durante a era do apartheid na África do Sul do que no Brasil e há na sociedade brasileira uma elite branca que deixa muito clara o seu racismo nas redes sociais'', salientou. Lembrou também que no Brasil, para além dos negros, a discriminação étnico-racial atinge igualmente os nordestinos. 

E, numa crítica à generalidade da classe político-partidária do seu país, incluindo o segmento político-ideológico no qual se enquadra em particular, lembrou que mesmo a ''esquerda brasileira é branca''. Uma constatação da presença transversal do racismo estruturante na sociedade brasileira que nem mesmo a esquerda se isenta, apesar de todo o seu reclamado histórico de lutas por igualdade e justiça social. Sublinhou, no entanto, a implementação de políticas governamentais de ação afirmativa, dando o exemplo de cotas nas universidades públicas, como um dos caminhos a seguir para uma maior e melhor inclusão da diversidade étnica representativa da sociedade brasileira.

Alberto Castro é correspondente de Afropress em Londres

Nota da Redação: A matéria foi originalmente postada no Portal Página Global

*Artigo de Alberto Castro em reposição no PG

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